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Opinião: Infraestrutura no Mato Grosso e seca nos Estados Unidos

O abrupto aumento do preço do milho em decorrência da seca nos Estados Unidos e a correlação com a expressiva segunda safra brasileira passaram a trazer-me algumas perplexidades


Por *Odacir Klein

O abrupto aumento do preço do milho em decorrência da seca nos Estados Unidos e a correlação com a expressiva segunda safra brasileira passaram a trazer-me algumas perplexidades
?Sou um preocupado e, por isto, muitas vezes tenho necessidade de buscar informações para encontrar explicações.

O abrupto aumento do preço do milho em decorrência da seca nos Estados Unidos e a correlação com a expressiva segunda safra brasileira passaram a trazer-me algumas perplexidades.

Há um mês a preocupação era que o excesso de oferta não causasse acentuada queda de preço, pelo que, com vistas à formação de estoques públicos e garantia de comercialização, nos somávamos a reivindicações da Aprosoja/MT na defesa da adoção imediata de contratos públicos de opção de venda para o milho.

A intempérie estadunidense suprimiu tal preocupação. O mercado internacional, com grande queda de oferta, dita os preços externos e internos.

No entanto, em curto lapso de tempo, ocorre a colheita da segunda safra com volume mais expressivo no Mato Grosso.

Se compararmos o que será colhido com o consumo interno do estado, haverá excedentes de aproximadamente 12 milhões de toneladas.

Diante de tais dados, passei a lembrar de notícias de anos anteriores quando o Mato Grosso colhia metade do volume atual e divulgava-se a falta de armazenagem com safras colocadas a céu aberto.

É óbvio que embora saibamos que as exportações brasileiras crescerão com o novo cenário internacional, a retirada do produto destinado ao mercado internacional será paulatina e o consumido internamente, em outras regiões brasileiras, também terá escalonada saída do território mato-grossense.

À primeira vista, dever-se-ia concluir que o problema de armazenagem seria agravado. No entanto, buscando informações, a primeira que recebemos é que a safra de soja foi praticamente escoada, pelo que há considerável espaço para armazenagem do milho.

Mesmo assim, a parcela que não tiver condições de ser imediatamente armazenada deverá permanecer na lavoura, secando, enquanto abrem-se novos espaços para armazenagem do grão.

Ouvi do presidente da Aprosoja/MT Carlos Fávaro algumas ponderações que chamam a atenção. A primeira é de que o escoamento da expressiva safra – o dobro do que há anos recentes – ocorrerá com a mesma infraestrutura viária e portuária anterior. Embora os anúncios e a expectativa para o futuro, em termos de pavimentação de rodovias, implantação de ferrovias e hidrovias e escoamento por portos do norte, poucos avanços ocorreram.

Diante disto e até por sabermos que hoje há um atraso nos portos relativamente aos embarques de produtos agrícolas, são previsíveis dificuldades relativas à administração logística para a movimentação da expressiva safra de milho.

Não há dúvidas de que a segunda safra será cada vez maior e que preços garantidos por intempéries são circunstanciais.

Como é preciso raciocinar a longo prazo, é fundamental que a infraestrutura da região já altamente produtora de soja e agora com expressiva produção de milho na segunda safra seja melhorada.

Pelas informações que recebi, se neste momento não há preocupação com o preço, em função do clima nos Estados Unidos e consequente queda de produção, diminuindo a oferta mundial, as dificuldades com a infraestrutura poderão causar sérios percalços para o escoamento a safra originando problemas inclusive de armazenagem, por ocasião da futura colheita de soja.

Não há como raciocinar em termos de agronegócio brasileiro e prevermos que o Brasil concorrerá significativamente para alimentar o mundo se não insistirmos na busca de soluções que garantam escoamento de safras no Centro-Oeste e Norte do país e, inclusive, de carnes e outras proteínas, em estados do Sul, como é o caso de Santa Catarina.

*Odacir Klein é sócio da Klein&Associados, consultor, palestrante na área do agronegócio e presidente-executivo da União Brasileira do Biodiesel (UBRABIO).

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