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Os assentados fornecem a matéria-prima


"Não passei fome porque em cima da terra não tem jeito de ninguém passar fome. Mas cheguei bem perto", diz o produtor, José Messias, de 44 anos, proprietário do sítio Terra de Deus, com 29 hectares, em Campo Florido, no Triângulo Mineiro, cuja renda mensal hoje é de R$ 1,8 mil, possui carro e telefone celular, além de televisão a cores. E os filhos, ao contrário do Messias, freqüentam a escola.

Bóia-fria até 1989, Messias, a esposa Clarisse e os filhos Arimatéia, Aricrene e Israel, uniram-se a outras 114 famílias da região para formar um acampamento, coordenado à época pelo Movimento dos Sem-Terra (MST), numa gleba do empresário Álvaro Lopes Cançado.

Em quatro anos, as 115 famílias fizeram acampamentos na região, pressionaram e, em 1993, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) desapropriou a área de 3,5 mil hectares, possibilitando a posse da terra por esses agricultores. "Tivemos muitas dificuldades. Há dois anos a situação mudou porque começamos a fazer negócios com a Usina Coruripe", diz.

Uma autorização especial do Incra, permitiu aos assentados iniciar a produção de cana. "Tivemos de conseguir a autorização já que o Incra não permite fazer o plantio da monocultura em assentamentos."

Das estradas próximas ao acampamento é possível enxergar as antenas parabólicas nos telhados das casas dessas famílias. "Todo mundo tem televisão", diz Messias com um sorriso largo e farto. Pelo menos 20 famílias possuem carro e nenhuma criança ou adolescente está fora da escola - 112 alunos cursam o ensino fundamental e outros 42 o ensino médio na Escola Municipal Santa Terezinha, no acampamento.

A quase totalidade da população do Assentamento Nova Santo Inácio Ranchinho, cerca de 700 pessoas, possui aparelhos de telefone celular. "Conseguimos a paz na terra com a plantação de cana", diz o produtor. A renda média dos agricultores, hoje, é de R$ 1,8 mil. Mais: eles se transformaram em assalariados.

O negócio entre os agricultores e a Usina Coruripe, do Grupo Tércio Wanderley, é realizado da seguinte forma: o "latifundiário" Antônio Tadeu Magri, que intermediou o acordo de permissão do plantio com o Incra e tem propriedades vizinhas ao assentamento, arrenda metade das áreas de 52 famílias e faz o plantio.

Com os investimentos necessários ao plantio da cultura por conta de Magri, os assentados têm uma participação de 35% a 40% na receita provenientes de uma produção média de 200 toneladas de cana "in natura". A cultura ocupa áreas médias de 15 hectares, metade do espaço que as famílias possuem no assentamento e limite autorizado pelo Incra para o plantio de cana.

"A grande vantagem é que a usina compra tudo que produzimos. Cansei de colher outras culturas, como milho e mandioca, que não conseguia vender", diz o assentado Anízio Gomes da Silva, 44 anos, marido de Gilvanete e pai de Marcelo, Márcio e Cláudia. "Passei perto de passar fome, caçando alguém para comprar o que nós produzíamos." "A safra é anual, mas recebemos mensalmente o valor estimado da safra", diz. Em média, cada um dos 52 assentados recebe R$ 800, relativo a cerca de 70 toneladas.

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