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Otimismo agrava quebra de safra

Oeste dá a largada à colheita da soja


Produtores apostaram em soja de risco climático elevado e, agora, amargam a falta de um sistema de seguro efetivo

O início da colheita de grãos confirma perdas de até 70% provocadas pela seca no Oeste e no Sudoeste do Paraná, regiões que dão início aos trabalhos de retirada da produção de verão das lavouras. Numa temporada marcada pela irregularidade climática, os agricultores discriminados pelas chuvas deverão pagar sozinhos a conta pela antecipação do cultivo e pela falta de seguro de renda e de produção.


Em viagem desde o início da semana pelo interior do estado, a Expedição Safra Gazeta do Povo apurou que, sob um ambiente de apostas, uma safra de potencial recorde se transformou em crise. A soja precoce – que espera menos pela chuva por ficar pronta em 120 dias, duas semanas antes do prazo tradicional – tomou conta dos campos. E, como agravante, metade dos produtores não tem nenhum tipo de seguro.

Responsáveis por 20% da soja e 10% do milho que o estado colhe no verão, os produtores do Oeste estão fazendo contas com medo do resultado. Eles temem que suas perdas ampliem a quebra estadual, inicialmente estimada em 2,5 milhões de toneladas pelos técnicos do governo paranaense. Neste momento, nem produtores nem especialistas chegam a uma conclusão sobre o estrago.

Entre as lavouras mais adiantadas – com rendimento definido – a Expedição Safra encontrou plantações de soja com rendimento abaixo de 1 mil quilos por hectare, menos de um terço do esperado. “Quando comecei a colher me assustei. Calculei que a produtividade chegaria a 846 quilos por hectare, mas estão saindo só 648 quilos. Parece piada”, afirma Ivo Dal Maso, de Toledo.

Os agricultores assumiram o risco de cultivar soja de ciclo precoce diante do consenso que existe no setor de que essa tecnologia é a melhor opção em termos de produtividade e manejo. A própria produção de semente segue essa tendência. “Perto de 80% da área de soja do Oeste foi plantada com variedades precoces”, estima o presidente do Sindicato Rural de Toledo, Nelson Paludo.

O Sudoeste – a região que registrou mais dias de sol – só não foi mais afetado que o Oeste porque boa parte das lavouras de soja recebeu chuva a tempo. Parcela significativa do milho teve o plantio antecipado e escapou de danos mais severos, relatam os produtores. Mesmo assim, “lavouras de alta tecnologia com potencial para 12,5 mil quilos [do cereal] por hectare devem render 7,5 mil quilos”, calcula Eucir Brocco, diretor da cooperativa Coopertradição, de Pato Branco, que abrange 290 mil hectares.

Cobertura parcial

Apesar de o Paraná ser o estado que mais contrata seguro rural, somente 50% das lavouras têm algum tipo de cobertura. O problema é que esses contratos não garantem renda aos produtores, relatam os especialistas. Predominam contratos atrelados aos valores dos financiamentos e baseados em índices de produtividade defasados, afirma o economista Pedro Loyola, da Federação da Agricultura do Paraná (Faep).

Apesar de a colheita ainda não ter chegado a 5%, mais de 8 mil produtores já acionaram o Proagro – sistema que predomina entre os agricultores familiares – e cerca de 2 mil chamaram as operadoras do Seguro Rural – que atende a agricultura comercial. Os números se aproximam dos registrados na temporada 2008/09, quando as perdas passaram de 5 milhões de toneladas de grãos.


“Chuva de manga” acentua variações

As pancadas de chuva que estão caindo sobre o Paraná nesta semana reacendem os ânimos. O clima estancou as perdas nas lavouras que estão em floração (perto de um terço da soja e do milho). Para muitas áreas, no entanto, que já estão com a frutificação definida ou em maturação, não há mais tempo. As precipitações que os agricultores chamam de “chuvas de manga”, parecidas com mangas de camisa, devem acentuar a diferença de rendimento entre lavouras vizinhas.

No Centro-Oeste, enquanto Aílson Santos Magalhães, de Farol, espera colher no máximo 750 quilos de soja por hectare, Antonio Cláudio de Oliveira, de Campo Mourão, ainda acredita que pode alcançar rendimento próximo ao do ano passado, de 3,5 mil quilos por hectare.

Eles plantam grãos a uma distância de apenas 30 quilômetros. O produtor de Farol relata ter ficado 50 dias sem chuva. Já Oliveira conta ter recebido ao menos três rodadas de precipitações entre novembro e janeiro. “Com mais uma boa chuva, estou com a safra garantida”, afirma. No caso do milho, as plantas demonstram que podem render mais de 8 mil quilos por hectare.

No Noroeste, os produtores contam que os investimentos em adubo e sementes de alta performance evitaram o pior. “Não tinha condição de pôr os pés na terra de tão quente que estava, mas a planta estava lá, inteira e em pé”, disse Claison Silva, que cultiva 61 hectares em Iguaraçú, município vizinho a Maringá. Mesmo assim, ele descarta a previsão de rendimento igual ao do ano passado, de 3,5 mil quilos de soja por hectare.
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