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Palocci afirma não temer represália dos EUA


O ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, encontra-se hoje cedo com Robert Zoellick, responsável pelo comércio exterior norte-americano, certo de que o Brasil não será retaliado nas negociações da Alca (Área de Livre Comércio das Américas) por ter adotado posição contrária à invasão do Iraque pelos EUA.

Na semana passada, Zoellick anunciou que a assinatura do acordo de livre comércio entre os Estados Unidos e o Chile estava sendo adiada, porque o Chile negou-se a votar, no Conselho de Segurança das Nações Unidas, a favor de uma resolução britânico-norte-americana que legitimaria o ataque ao Iraque.

É verdade que, por ser o Chile membro no momento do Conselho de Segurança, sua posição é mais importante do que a do Brasil, que só terá seu turno no Conselho no ano que vem.

Mas permanece latente a agressividade dos Estados Unidos em relação a todos os países que se manifestaram contra a ação no Iraque. No caso do Brasil, a negociação da Alca será o palco natural para expressar desagrado, na medida em que os dois países são os co-presidentes do processo negociador do bloco.

Além disso, já há divergências de natureza comercial entre Brasília e Washington que antecedem a questão iraquiana. Mesmo assim, Palocci disse ontem que não parece "haver qualquer indisposição em relação ao Brasil. Ao contrário, só houve palavras de aprovação em relação ao governo brasileiro".

O ministro contou que já teve dois encontros com o secretário do Tesouro, John Snow, e um com o presidente do banco central dos EUA, Alan Greenspan, e não notou qualquer animosidade. "Não acredito que os Estados Unidos não tenham compreendido a posição do presidente Lula [sobre o Iraque]", disse ainda Palocci.

De todo modo, o próprio ministro deixou claro o potencial formidável de divergência entre Estados Unidos e Brasil ao pôr muita ênfase, em suas intervenções nas reuniões do FMI/Banco Mundial, ontem encerradas, na necessidade de liberalização do comércio agrícola.

São exatamente os Estados Unidos, além da União Européia, os que impõem maior proteção ao setor agrícola. Mas o ministro disse também que o Brasil precisa olhar além das negociações da Alca, da Organização Mundial do Comércio e entre Mercosul e União Européia.

"Interessa abrir espaços de exportação já", disse Palocci, em alusão ao fato de que as negociações comerciais globais ou regionais só terminarão, em princípio, em 2005.

Superávit contracíclico

O ministro reuniu-se ontem com o diretor-gerente do FMI, Horst Köhler, com quem discutiu a idéia do governo petista de lançar o chamado superávit fiscal contracíclico (o governo economiza mais em momentos de bonança econômica para poder gastar mais quando a economia patina).

Köhler, pelo relato de Palocci, "vê com naturalidade a idéia, desde que haja todo o cuidado na implantação". Cuidado é justamente o que não falta no cronograma da Fazenda. Palocci reiterou que só a partir de 2005 será eventualmente possível usar o mecanismo, desde que haja "confortabilidade" na relação dívida/PIB (Produto Interno Bruto, medida da renda nacional).

Hoje, essa relação caiu para 55%, depois de ter chegado a 63%, mas Palocci nega-se a adiantar qual a relação "confortável" para adotar o novo esquema. "Depende do tamanho da dívida, do seu perfil (tipo de papéis que a compõem) e do tempo para pagá-la. Uma dívida grande, mas de muito longo prazo, pressiona menos do que uma dívida menor mas de curto prazo", afirmou Palocci.

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