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Pecuaristas de Santa Catarina têm perda de R$ 52 mi ao mês


O estado que mais produz suínos no Brasil, Santa Catarina, sofre o maior impacto da atual situação desse mercado, considerada pelo secretário-adjunto da Agricultura e Pecuária catarinense, Airton Spier, "a pior crise que a suinocultura brasileira já enfrentou".


Com uma diferença negativa de pelo menos R$ 0,70 entre os custos de produção e o preço final do quilo de carne, o prejuízo mensal da base produtiva chega perto de R$ 52 milhões na região. O problema se arrasta há no mínimo dois meses.

Para produzir, hoje, um animal de cem quilos, o produtor catarinense gasta, em média, R$ 257, segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Os frigoríficos, no entanto, estão pagando R$ 190, aproximadamente, pela cabeça (100 kg).

A diferença de valores fica ainda maior nos casos em que a produção não é integrada - dos doze mil produtores de Santa Catarina, dois mil atuam de modo independente.

"Ao mesmo tempo em que houve redução de preço do suíno, o valor do farelo de soja aumentou", disse Spier, explicando os dois principais motivos da crise.

O presidente da Associação Catarinense dos Criadores de Suínos (ACCS), Losivânio de Lorenzi, relativizou: "O custo saiu um pouco da realidade por causa do mercado externo de grãos. Agora... comercializar carne de excelência por R$ 1,90 o quilo, este é o grande problema: um preço de banana".

O valor final do suíno é determinado pela demanda. O milho e o farelo de soja (principais componentes da ração) correspondem, hoje, a 75% do custo de produção, valendo, respectivamente, R$ 458 e R$ 1.100 por tonelada em Santa Catarina.

Embora o milho tenha se desvalorizado em período recente, por conta da oferta recorde esperada para este ano, a seca devastou milharais catarinenses e fez crescer ainda mais a dependência do estado (calculada em mais de 30% do consumo) do grão de vizinhos.


Dívidas, cortes

Para amenizar os impactos da crise, suinocultores catarinenses estão reduzindo a alimentação dos animais e executando os abates com antecedência. Mesmo assim, acumulam dívidas com os frigoríficos a que são integrados.

O produtor Francisco Canossa, de Seara (SC), deve R$ 650 mil à Marfrig e não está conseguindo pagar, desde abril, os dois financiamentos que obteve (de R$ 24 mil e R$ 7 mil por mês) para quitar o compromisso com o frigorífico. "A cada dia que passa, a dívida fica maior", lamentou.

Canossa cortou a alimentação de cada um de seus 1.200 leitões de cinco para quatro quilos diários de ração.

Ontem, após uma reunião de suinocultores no Município de Xamantina (SC), Canossa contou que há pecuaristas optando por abater seus animais com cerca de um quarto do peso adequado (de 25 kg a 30 kg). Alguns produtores estariam alimentando leitões somente duas vezes por semana, segundo o produtor de Seara.

Cerca de 150 suinocultores largaram o negócio neste ano, de acordo com Lorenzi. Sem garantia de demanda, os pequenos e médios frigoríficos também são prejudicados, segundo Lorenzi.

Demandas, reunião

No dia 12 de agosto, representantes da suinocultura de Santa Catarina se reúnem com o ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Mendes Ribeiro Filho, para propor algumas medidas de salvaguarda do mercado.

Para a secretaria estadual, o governo federal precisa promover ações que reduzam o custo de produção e aumentem o consumo, nas instituições públicas, e a exportação de carne de porco.

Já a ACCS pedirá o estabelecimento de uma política de preço mínimo para suínos.

"Há um problema estrutural a ser resolvido", afirmou Spier. "A saída para a crise ainda vai demorar." O rebanho de Santa Catarina contabiliza 520 mil matrizes suínas e valor bruto de R$ 2,5 bilhões.

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