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Pesquisa aponta como reduzir perdas na operação de soja

Estudo realizado por alunos de Gestão Portuária da Fatec analisa eficiência na descarga do grão


Evitar o desperdício de grãos durante a descarga de soja em terminais do Porto de Santos é o objetivo de um grupo de alunos da Faculdade de Tecnologia (Fatec) Rubens Lara - Baixada Santista, em Santos. Os estudantes sugerem a utilização de sugadores para o recolhimento da carga que se perde durante o descarregamento de caminhões nos terminais especializado na movimentação de granéis sólidos de origem vegetal no cais santista.

Adriano Alfinito Raimundo, Matheus Palmieri Gobbetti e Rodolfo Pinheiro são alunos do curso de Gestão Portuária na faculdade e desenvolveram um artigo científico sobre o desperdício de grãos. O trio é orientado pelo professor Álvaro Camargo Prado, que já atuou em outras pesquisas sobre a perda de soja em outras etapas do processo logístico. 
 
“A gente vê acúmulos de materiais, de grãos, nas vias. É um desperdício. Não há possibilidade de utilização daquele material. Houve uma oportunidade de uma visita a um terminal e vimos que existe, durante a movimentação do caminhão, um desperdício no próprio equipamento”, destacou Adriano.
 
A partir da constatação do problema, o grupo passou a estudar alternativas para evitar a perda da carga. Ao verificar os tempos de operação no terminal, fizeram simulações utilizando softwares como o Arena. Com ele, é possível traçar estratégias e verificar a viabilidade das intervenções antes mesmo delas serem colocadas em prática. 
 
O primeiro cenário estudado foi a possibilidade de manter um funcionário limpando o tombador. O grupo também cogitou utilizar mangotes de sucção para remover os grãos que caem no chão durante a descarga da soja dos caminhões. Neste caso, foi constatada uma redução de perdas do produto, já que a soja recolhida pode ser reaproveitada.
 
Após comparar o cenários de limpeza manual com o do mangote de sucção, o grupo identificou o modelo automatizado como o mais viável. Depois, decidiram fazer com que esse caminhão passe pela limpeza em um pátio. “Nesse caso, o caminhão chega ao tombador, é tombado e não há interferência, nem equipe de limpeza. Terminou o tombamento, ele vai para um pátio separado, um pulmão com capacidade para 80 caminhões. A limpeza seria executada lá e o caminhão seria liberado depois. Eu só estaria prorrogando o que seria feito lá”, explicou Adriano.
 
Segundo os pesquisadores da Fatec. o terceiro cenário também não foi considerado viável. O motivo é a grande demanda de movimentação de granéis sólidos e o fluxo intenso de caminhões em períodos de escoamento da safra agrícola.
 
Após a simulação, os estudantes constataram que o pátio deveria ter demanda para, pelo menos, 86 veículos. Caso contrário, alguns ficariam de fora.
 
Decisão
 
Segundo Matheus, na primeira opção estudada, há a necessidade de deixar um funcionário apenas para essa função. E para o terminal, isso é menos custoso. Em compensação, no caso do sugador automatizado, apesar do investimento necessário, há um ganho de eficiência. 
 
“O grão quando é perdido é inutilizado. Com o sugador, pode ser reutilizado e a perda dele é menor. Porém entra o quesito humano. Isso ainda não foi estudado, talvez em uma outra etapa do projeto ” , explicou o estudante.
 
Para os pesquisadores, a utilização de ferramentas de simulação e a produção de artigos científicos fazem com que os alunos da universidade tenham um diferencial entre os demais candidatos na disputa por uma vaga no mercado de trabalho do setor portuário. 
 
“Acredito que a Fatec tenha, com a pesquisa acadêmica, uma preparação do aluno para o mercado de trabalho muito maior. Ele consegue entender um pouco mais o raciocínio lógico, analisar onde está o problema. Tenho certeza de que o aluno que é preparado nesse tipo de aplicação está mais predisposto a resolver questões”, afirmou Adriano. 

Para o professor Álvaro Camargo Prado, que orientou a pesquisa dos estudantes da Faculdade de Tecnologia (Fatec) Rubens Lara - Baixada Santista, a automatização das operações portuárias é a saída para aumentar a eficiência das operações, principalmente em um momento de retomada da economia e das trocas comerciais. E, neste contexto, implantar medidas que evitam desperdícios de cargas no processo logístico ganha grande importância. 

Professor defende automatizações

“Pensar em automação na atividade portuária é pensar que nós tivemos os últimos três anos ruins, o ano passado foi péssimo, e ainda tivemos crescimento no Porto. Então a gente vai crescer mais e como vamos fazer? Precisamos melhorar a eficiência”, disse o professor. 

Prado foi o orientador do artigo científico produzido pelos três alunos de Gestão Portuária da Fatec. Adriano Raimundo, Matheus Gobbetti e Rodolfo Pinheiro fizeram simulações e constataram a necessidade de utilizar ferramentas automatizadas para sugar grãos de soja perdidos durante o tombamento da carga. 

“Estamos vendo o início de uma discussão sobre automação em Santos. Bater o martelo no trem é uma coisa jurássica. Mas será que essas pessoas são contratadas só para isso e, se eu mudar, vou ter que desempregar 10, 15 pessoas? A nossa função é mostrar que tem uma solução diferente porque hoje eu tenho uma demanda, mas ela pode ser multiplicada nos próximos anos”, destacou o professor.

Para Prado, o ideal é que os terminais do Porto atinjam níveis de eficiência operacional como os de portos estrangeiros. Isto também inclui os índices de desperdício, bem menores mundo afora. 

“Nos Estados Unidos, a perda (de grãos) não pode passar de 1,5% ou 2% (da carga transportada). Aqui, em uma entrevista, um ministro disse que a perda é de 5% ou 6%. A gente sabe que tem uma perda muito importante porque se trata do produto mais importante da exportação. E ele pode ser estendido para os outros. O que estamos fazendo é um modelo de estudo de cadeia de suprimentos, que pode ser estendido para o milho, por exemplo”, explicou o docente.

Outros estudantes da Fatec estudaram o desperdício de grãos em outros pontos da cadeia logística, como no transporte nas estradas. De acordo com Prado, os estudos chamaram a atenção de técnicos da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), que buscaram dados sobre a questão. 

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