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Pesquisa busca identificar desmatadores do Cerrado

Trabalho realizado em laboratório da UFG aponta que a devastação do bioma é promovida por menos de 3% da população


Os desmatadores do Cerrado parecem não ter um rosto. Estão diluídos em imagens de satélite que contam apenas a quantas anda a devastação, mas que escondem quem são os principais responsáveis por derrubar o bioma num ritmo acelerado.

Os estudos e acompanhamentos científicos já conseguem precisar a evolução do desmatamento do Cerrado, um avanço recente dos últimos cinco anos. Até há bem pouco tempo, não se sabia dizer qual o tamanho da destruição nem a dimensão ano a ano, muito menos cenários eram projetados. Agora, o desafio principal é outro: apontar, nas imagens geradas por satélites e processadas em laboratórios, quem são os proprietários rurais responsáveis pela destruição de metade da vegetação até agora. E quais são as propriedades que, de forma contumaz, continuam desrespeitando as áreas de reserva legal e de preservação permanente.

Um levantamento apresentado ontem na cidade de Goiás, no primeiro dia do 3º Fórum Ambiental, realizado dentro do 11º Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (Fica), mostra que a identificação dos maiores desmatadores do Cerrado vai muito além da denúncia de crime ambiental. É a reparação de uma injustiça com quem não contribui para o desmatamento do bioma, mas que sofre com efeitos como mudanças do microclima, maior vazão dos rios e mais enchentes nas cidades.

Em todo o Cerrado, que abrange 12 Estados e o Distrito Federal, apenas 2,05% da população é proprietária de terra. “É apenas essa pequena fatia da população a responsável pelo desmatamento”, ressalta o pesquisador da Universidade Federal de Goiás (UFG) Nilson Clementino Ferreira, que apresentou os dados durante o primeiro painel do fórum, intitulado Bioma Cerrado: Ocupação Atual e Cenários Futuros. O nível de concentração de terras no Cerrado é maior do que o verificado na Caatinga (4,88% dos moradores são proprietários de terras), na Amazônia (3%) e no Pantanal (2,84%). O problema latifundiário e, logo, ambiental só não é maior do que nos Pampas Gaúchos e na Mata Atlântica, onde menos de 2% da população têm propriedades rurais.

Sintomaticamente, os biomas onde há maior concentração fundiária no País são também os mais devastados. Nos Pampas, o índice de conversão é de 77%. Na Mata Atlântica, de 64%. Em seguida aparece o Cerrado, que já perdeu entre 40% e 50% de sua vegetação nativa. Muito pouco se sabe sobre os desmatadores, a não ser pelas operações de fiscalização de órgãos ambientais. Até agora, o Ministério do Meio Ambiente (MMA) só elabora uma lista dos maiores desmatadores da Amazônia.

“A ocupação no Cerrado é rápida e barata. Usa pouca tecnologia, emprega e paga pouco. Tem pouca produtividade da agricultura e da pecuária”, ressaltou Nilson Clementino, responsável pela elaboração do sistema de alerta de desmatamento do Cerrado, produzido pelo Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento (Lapig), da UFG, em parceria com o MMA.

As pesquisas mostram que o desmatamento do Cerrado não é sinônimo de desenvolvimento regional. Apenas 8% do PIB total na região do bioma equivalem à riqueza gerada pela produção agropecuária, conforme constatação do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Os mapas mostrados ontem ao público do Fica revelam que a área de Cerrado que faz fronteira com a Amazônia Legal é uma das mais desmatadas. Mostra que, até 2050, haverá “graves problemas” de falta d’água no sudoeste e no sul goianos e no norte sul-mato-grossense.

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