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Pesquisa promete combater pragas na produção de grãos

A iniciativa pode ajudar a evitar os prejuízos à produção causados pela ferrugem asiática da soja


O pesadelo que ronda grande parte dos produtores agrícolas de Minas Gerais pode estar próximo do fim. Pesquisa sobre fungos, como “ferrugens”, que parasitam plantas, vai contribuir para desvendar a estrutura genética desses seres vivos e utilizar o conhecimento obtido na elaboração de inovações na área de biotecnologia. A iniciativa pode ajudar a evitar os prejuízos à produção causados pela ferrugem asiática da soja. De acordo com dados levantados pela Rede Mineira de Genoma, os prejuízos e o custo para controle dessa praga na safra de grãos, nos dois últimos anos, estão estimados em R$ 3 bilhões.

As pragas atingem espécies de grande importância econômica, como a soja, café, feijão e o trigo. Os estudos estão sendo desenvolvidos pela Rede de Genoma, uma associação de sete instituições de pesquisa sediadas em diferentes regiões do Estado, com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig). Somente em 2008, a Fapemig investiu R$ 2 milhões na rede para o desenvolvimento desse e de outros projetos. O trabalho busca compreender o processo de parasitismo desses fungos para subsidiar o desenvolvimento de variedades de plantas geneticamente resistentes ou adoção de novas estratégias de combate à praga.

O projeto de caracterização do genoma deve estar concluído no prazo de dois anos. Daí em diante, novas tecnologias poderão ser geradas a partir do levantamento para beneficiar os agricultores. Por meio da caracterização dos genomas dos fungos causadores das ferrugens, os pesquisadores mineiros esperam desvendar as estratégias empregadas por esses microrganismos para causar doenças em plantas e usar esses conhecimentos para desenvolver variedades de plantas resistentes, que serão usadas pelos agricultores.

O secretário de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais, Gilman Viana Rodrigues, destaca que a ciência permite o avanço na produção de alimentos. “O desenvolvimento das pesquisas se torna cada vez mais importante para criar condições de atender à humanidade num período de desequilíbrio alimentar”, afirma. Segundo ele, o Brasil tem grande potencial de proporcionar resultados efetivos na área alimentar. “Os países de economia emergente, principalmente aqueles localizados nos trópicos, são os que têm maior potencial de proporcionar um resultado efetivo das pesquisas científicas na área alimentar”, comenta Gilman Viana.

Para os agricultores mineiros, a contribuição pode ser ainda mais importante. Maior produtor de café do país, Minas apresenta uma perda que varia entre 20% e 30% da produção anualmente, em decorrência da ferrugem, segundo informações do Instituto Mineiro de Agropecuário (IMA) e da Empresa Brasileira de Agropecuária (Embrapa). Se nenhuma medida de controle for tomada e houver condições favoráveis, a ferrugem pode levar à perda de até 50% da produção.

Desvendando genes

A pesquisa emprega metodologia baseada no levantamento da seqüência de genes presentes nas células dos fungos, a fim de descobrir quais delas são responsáveis pela produção das proteínas que podem ocasionar a morte das plantas ou sua imunização ao veneno fungicida. Serão analisados os genes da ferrugem asiática (Phakopsora pachyrhizi), do café (Hemileia vastatrix) e do eucalipto (Puccinia psidi). O trabalho da equipe se concentra nos genes em estágio inicial de parasitismo, quando começam a se fundir com os genes da planta hospedeira. Essa fase é chamada pelos pesquisadores de biotrófica. A meta do estudo é a análise de 10 mil seqüências genômicas.

O diretor da Rede de Genoma, o pesquisador Guilherme Corrêa de Oliveira, do Centro de Pesquisas René Rachou, explica que a pesquisa genética possibilita entender os mecanismos de funcionamento de um organismo. “O seqüenciamento genômico fornece importantes informações sobre a estrutura, organização e função do genoma de organismos. Além disso, estes dados permitem comparações entre os fungos”, explica.

Os dados coletados possibilitarão a constituição de uma biblioteca genética em que serão armazenados os grupos de genes analisados das espécies diferentes de fungos. Esses conjuntos recebem o nome de “seqüências expressas ou transcritas” (ETS) e permitirão o estudo comparativo entre as variedades das ferrugens.

Outras pesquisas

Criada em 2002, a Rede Mineira de Genoma já executou projetos ligados a diferentes áreas, que vão da saúde, representada pelo seqüenciamento do genoma do Schistosoma mansoni, parasita causador da esquistossomose, à agricultura, por meio do estudo dos mecanismos genéticos que permitem a adaptação de diferentes espécies de milho a ambientes secos.

Constituída com o apoio da Fapemig, do Ministério da Ciência e da Tecnologia (MCT) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a rede é composta pelas universidades federais de Minas Gerais (UFMG), de Viçosa (UFV), de Lavras (Ufla), de Uberlândia (UFU) e de Ouro Preto (Ufop), pela Embrapa Milho e Sorgo e pelo Centro de Pesquisas René Rachou. Em seis anos, a Fapemig já investiu R$ 5,9 milhões na Rede Genoma.

Além do projeto com os fungos parasitas de plantas, a rede realiza outros dois projetos voltados para a agropecuária. O primeiro é o seqüenciamento do genoma da bactéria causadora da linfadenite caseosa ou “mal do caroço”, doença que atinge caprinos e ovinos. O genoma dessa bactéria já foi seqüenciado e a descrição dos genes está sendo finalizada. A outra pesquisa envolve a identificação de genes de espécies de milho presentes em ambientes com baixa oferta de água.

O estudo procura identificar os mecanismos usados pelas plantas para perceberem o déficit hídrico do ambiente e para alterarem sua expressão genética, visando adaptarem-se a essa condição. Uma série de genes que sofrem tais mudanças já foi levantada e está sendo analisada pelos pesquisadores responsáveis. “Espera-se, no futuro, que estas informações sejam utilizadas na geração de plantas transgênicas que tenham maior resistência à falta de água”, conta o diretor da rede. O secretário de Agricultura reforça a opinião do pesquisador. “Esta evolução é parte do processo de desenvolvimento da biotecnologia, que traz consigo os ganhos de oportunidades com os produtos transgênicos”, afirma Gilman Viana.

Incentivo à pesquisa

A Fapemig é a única agência estadual de fomento à ciência e tecnologia de Minas Gerais. Ela financia projetos em todas as áreas do conhecimento, além de conceder bolsas que beneficiam desde o aluno do ensino médio até o pós-graduando, apoiar a realização de eventos, atuar na proteção do conhecimento, entre outros.

A seleção das propostas a serem financiadas é feita por Câmaras de Assessoramento, formadas por especialistas na área. Eles avaliam os projetos de acordo com critérios como mérito, relevância, equipe e orçamento. Atualmente, a Fapemig financia uma média de mil projetos por ano e concede cerca de quatro mil bolsas no mesmo período.

O incremento de seus programas foi possível com o aumento dos recursos disponíveis. No ano passado, pela primeira vez, a Fapemig recebeu seu orçamento integral, previsto na Constituição do Estado: 1% da receita orçamentária corrente. Em 2008, isso equivale a cerca de R$180 milhões.

O aumento dos recursos disponíveis para investimento em ciência e tecnologia foi comemorado pela comunidade científica. Na opinião do professor Gerson Pianetti, da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o desenvolvimento de um povo é avaliado em quanto o Estado investe em educação e tecnologia. Cumprindo o percentual, o Governo de Minas demonstra o interesse em desenvolver o setor de ciência e tecnologia, gerando empregos e fixando os profissionais do setor em Minas. "Aumenta, também, a força política do Estado", garante.

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