Pesquisadores da FMVZ/Unesp desenvolvem Silagem de Planta Inteira
Trata-se do esmagamento do material triturado após a colheita, por um sistema de rolos compressores, regulados para que nenhum grão passe intacto pelo mecanismo
Dentre as formas de conservação de forragem para a nutrição animal, a silagem é a mais prática e uma das que demanda menor investimento. O processo de confecção da silagem tem início ainda no campo, quando as máquinas colhem e picam as plantas que serão levadas até o silo e compactadas para o armazenamento.
Pesquisadores da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Unesp, câmpus de Botucatu, introduziram mais uma etapa neste processo e alcançaram benefícios significativos em termos do rendimento do material para a nutrição animal e o aumento da janela de colheita do milho.
O novo procedimento é bastante simples. Trata-se do esmagamento do material triturado após a colheita, por um sistema de rolos compressores, regulados para que nenhum grão passe intacto pelo mecanismo. O esmagamento quebra o pericarpo, ou seja, a película de celulose que envolve o grão de milho quando completamente desenvolvido, facilitando o ataque dos microrganismos ao amido contido no grão, o que permite o maior aproveitamento nutricional do alimento.
Além do rendimento em termos de nutrição animal, o processo chamado de Silagem de Planta Inteira Processada diminui o potencial de riscos para o produtor do milho, em razão do aumento da janela de colheita.
Os grãos de milho são o referencial da colheita feita com o objetivo de ensilar o material. A planta deve ser colhida quando os grãos apresentam ¼ leitoso. Durante seu desenvolvimento, os grãos acumulam amido do seu ápice para a base, ligada ao sabugo.
Normalmente, a silagem é feita no intervalo, quando os grãos apresentam-se com sua metade cheia até seu completo enchimento (camada preta). Nesse ponto, a planta atingiu o máximo de produtividade proporcionando melhor desempenho aos animais. A janela de colheita é o intervalo de tempo compreendido entre metade do grão cheio e a camada preta. O período é relativamente curto, dura no máximo uma semana. Se por acaso nesse período ocorrer chuva, o ponto de colheita pode ser perdido, em razão da deposição completa do amido no grão.
O processo de esmagamento permite a colheita da planta mesmo depois de passado o ponto ideal. A dissertação de mestrado de Marco Aurélio Factori, orientado pelo professor Ciniro Costa, do Departamento de Melhoramento e Nutrição Animal da FMVZ, apontou um aumento médio de 30% na degradabilidade do material após o esmagamento. Os resultados foram averiguados através da análise de alimentos depositados no rúmen de três vacas, através de uma fístula ruminal, ou seja, uma abertura cirúrgica que permite o acesso direto ao órgão. “O procedimento aumentou o aproveitamento do material da planta como um todo”, observa Factori. “É possível então colher mais para a frente aumentando a janela de colheita para até duas semanas. Mesmo passando do ponto tradicional de colheita, o esmagamento proporciona melhor aproveitamento. Em tese, podemos fornecer menos alimento ao animal, pois seu aproveitamento é 30% superior. Isso tem um reflexo econômico imediato para o produtor”.
Vale notar que o processamento através do esmagamento não altera o tamanho da partícula feito pela colhedora. “Se o material colhido for triturado em partículas muito pequenas esse resultado não acontece, pois a partícula pequena não estimula a ruminação e o ataque dos microrganismos”, explica o professor Ciniro. Outra vantagem do processo de esmagamento é que ele é adequado tanto para os grãos de textura dura como para os de textura dentada, aumentando as opções para o produtor.
Segundo o professor, muito trabalho ainda teria de ser feito para obter resultados semelhantes através de melhoramento genético. “Várias pesquisas envolvendo melhoramento de milho trabalham para obter um ganho de 0,5 a 1% no material por meio de melhoramento. Com o processo são 30% de ganho. Não há como comparar”.
Em junho de 2008, através do Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT), a UNESP depositou junto ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial o pedido da patente intitulada "Aprimoramento em processo para obtenção de silagem e respectivo produto", como resultado desta linha de pesquisa coordenada pelo professor Ciniro Costa, juntamente com seus orientados, João Paulo Franco da Silveira, Pedro Persichetti Júnior e Marco Aurélio Factori, inventores da patente.
A próxima etapa do trabalho do grupo já está em desenvolvimento. Estudos preliminares objetivam desenvolver uma colhedora de milho para ensilagem que já vai contar com o dispositivo apropriado para esmagar os grãos que escapam durante a picagem do material. As informações são da assessoria de imprensa da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da UNESP.