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Pesquisas: viabilidade para produzir soja no Centro-Oeste


A produção brasileira de soja na safra 2004/05 deverá atingir o recorde de 61,4 milhões de toneladas, ante 49,8 milhões de toneladas da safra passada. Esta é a projeção do segundo levantamento de intenção de plantio da Conab. As exportações do complexo da oleaginosa, que inclui grão, farelo e óleo, devem atingir US$ 10,091 bilhões este ano, de acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Óleo Vegetais (Abiove). Mas para chegar a esses números considerados positivos pelo setor, os produtores e os pesquisadores brasileiros precisaram percorrer um longo caminho. E as pesquisas tiveram e continuam tendo participação significativa neste processo.

Todas as cultivares de soja disponíveis no mercado nacional enfrentam um rígido processo de testes. Segundo o pesquisador da Embrapa Soja de Londrina, no Paraná, Antônio Eduardo Pípolo, o principal aspecto levado em consideração é o rendimento do grão. Na década de 70, quando a produção brasileira era de apenas 1 milhão de toneladas, a região dos cerrados produzia cerca de 20 sacas por hectare. Hoje essa média atinge 50 sacas por ha, o que levou a região a ser responsável por 60% da produção nacional da oleaginosa.

Outro papel importante das pesquisas envolve a fitotecnia, que consiste na altura da planta e a adaptação para o plantio do cedo e do tarde em relação à época do plantio normal. O pesquisador também cita a resistência às principais doenças como o cancro da haste (Diaporthe phaseolorum), que causa perda total de produção, e a mancha de “olho de rã” (Cercospora sojina), um fungo que costuma atacar quando as condições climáticas são desfavoráveis. Essa doença chegou a causar grandes prejuízos na região Sul e nos Cerrados. Atualmente a maior preocupação dos pesquisadores é com outra doença fúngica, a ferrugem asiática (Phakopsora pachyrhizi). As pesquisas para obter sementes resistentes a esta doença iniciaram no ano passado e não há uma previsão de resultado positivo antes de 2006. A ferrugem asiática causou perdas superiores a US$ 2 bilhões na safra 2003/04, segundo a Embrapa.

As primeiras cultivares de soja introduzidas no Brasil vieram dos Estados Unidos na década de 70. Pípolo afirma que elas eram adaptáveis a regiões acima de 30° de latitude norte e foram cultivadas no Rio Grande do Sul e no Paraná. “Essas cultivares, além de não serem próprias ao solo brasileiro, tinham problema de crescimento”, afirmou.

Por isso, o primeiro desafio da Embrapa foi viabilizar a produção de soja nas baixas latitudes das regiões tropicais, onde os dias e as noites têm a mesma duração. A soja florescia muito cedo e a planta não atingia o tamanho ideal para a colheita mecanizada. “Nosso principal desafio foi adaptar a semente de soja para que se a se desenvolvesse nas condições climáticas do país”, explicou o pesquisador da Embrapa. “O plantio em baixa latitude só foi possível com a descoberta do período juvenil, que mesmo em condições desfavoráveis para florescer, a planta atinge a altura ideal”, ressaltou.

A Embrapa Soja realiza testes com linhagens adaptáveis para todas as regiões do país. Somente para o Centro-Oeste são pesquisadas aproximadamente 300 mil linhagens por ano. Com as pesquisas concluídas e as sementes liberadas para o comércio, este centro de pesquisas lança todo ano no mercado entre cinco a sete variedades para as regiões Centro-Oeste, Sul e Norte.

Outro fator importante que também colaborou para o cultivo da soja nos cerrados foi a introdução da técnica do plantio direto, que no início da década de 80 chegava a apenas 5% da área nesta região e hoje já atinge 50%. Esta técnica consiste em aproveitar a palha da cultura anterior para realizar o plantio da próxima, evitando erosões, elevando o teor de matéria orgânica, entre outros benefícios.

Com a mesma preocupação em desenvolver cultivares adaptáveis, o solo dos cerrados também precisou de alguns reparos para que a produção atingisse os níveis atuais. Conforme o pesquisador na área de fertilidade do solo da Embrapa Cerrados de Planaltina, no Distrito Federal, Dejalma Martinhão de Souza, o solo da região é muito ácido e necessita de adubação e correções com calcário, fósforo, potássio e micro-nutrientes.

“No início o solo dos cerrados precisou ter um preparo mais intenso para adequá-lo quimicamente. Após esse processo, já foi possível estabelecer o plantio direto”, explicou. Ele disse ainda que já existem técnicas que apenas preparam o solo quando é feita a abertura para a retirada de vegetação e raízes com o propósito de facilitar o trabalho das máquinas. “Após a abertura e a incorporação de corretivos não é preciso mais preparar o solo, permitindo a entrada imediata do plantio direto”, complementou. A partir de agora, de acordo com Souza, a Embrapa Cerrados dedica-se ao chamado “refinamento da pesquisa”, que significa consolidar a técnica do plantio direto estendendo-a para toda a região dos cerrados.

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