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Pesquisas acentuam queda de confiança na economia

Indicadores mostram cenário de pessimismo ou recuo do otimismo



Da indústria ao agronegócio, do comerciante ao consumidor, a situação é a mesma. Do ano passado para cá, os principais indicadores de confiança de diferentes atividades no Brasil apresentam um viés de queda. Em alguns casos, o cenário é pessimista. Em outros, o otimismo permanece, mas em uma proporção reduzida se comparada com tempos atrás.

Um dos principais pesquisadores de índices de confiança no País, o Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV) faz sondagens mensais de comércio, construção, indústria, serviços e consumidores. De maio de 2013 para cá, todas apresentam retração nos números. As pesquisas se baseiam em uma variável de 0 a 200 pontos, no qual acima de 100 significa cenário de confiança. Dentre os segmentos pesquisados, somente a indústria está em um estágio considerado pessimista. Os demais até estão acima da pontuação média, porém, todos apresentam diminuição no grau de otimismo.

O superintendente adjunto de ciclos econômicos do Ibre/FGV, Aloisio Campelo, relata que a conjuntura do momento é o principal balizador dos resultados dos levantamentos. Essa é, segundo ele, a razão para que diferentes setores apresentem uma trajetória similar nos últimos tempos. "A política monetária ficou mais apertada, com a alta na taxa de juros, a economia tem crescido pouco, os preços dos serviços estão subindo muito e a renda não está crescendo mais na mesma velocidade de antes", aponta Campelo. 

Mesmo assim, Campelo recomenda cautela na hora de se analisar os resultados apontados nos índices de confiança. "Eles são um bom indicador de nível de atividade, mas não conseguem avaliar se há recessão ou não", afirma. Nesse sentido, através das pesquisas, é possível ter uma percepção se as empresas estão dispostas a realizar investimentos e a contratar. Fatores sazonais também influenciam nos resultados. O economista do Ibre/FGV lembra que, nos primeiros anos após o País ser anunciado como sede da Copa do Mundo, o otimismo era generalizado. Por outro lado, quando as manifestações populares eclodiram, em julho de 2013, os índices despencaram. 

As amostras são uma espécie de fotografia do momento, podendo ajudar a determinar as mudanças necessárias no planejamento de uma empresa. Essa é a avaliação do gerente executivo da unidade de Pesquisa e Competitividade da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Renato da Fonseca. No caso do setor produtivo, a queda na confiança existe há mais tempo. "Desde 2010, o setor está praticamente estagnado. O industrial está perdendo mercado para os produtos importados, a produtividade está em baixa e os salários estão crescendo. Com isso, você tem uma redução na margem de lucro e o empresário começa a não acreditar em recuperação", justifica. Mesmo com o anúncio do governo federal sobre a permanência da desoneração da folha de pagamentos de uma série de setores, a confiança industrial segue despencando nos indicadores da CNI e do Ibre/FGV.

A metodologia utilizada pelas instituições que realizam os estudos segue um padrão parecido. No caso dos empresários, pergunta-se sobre a situação dos estoques, sobre o andamento das exportações, se há ociosidade e outras variáveis ligadas ao nível de produção. Já quando a pesquisa envolve o consumidor, há algumas modificações. "Não perguntamos se ele está confiante ou não, mas sim se ele acredita que os preços estão subindo ou se ele acha que a situação do Brasil está melhor ou pior na comparação com seis meses atrás", exemplifica Fonseca. 

O cenário pouco amistoso não se restringe à indústria. O índice de confiança do comércio, feito pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), atingiu em maio 113,4 pontos, seu menor patamar histórico. Em um ano, a queda foi de 9%. Até mesmo o agronegócio brasileiro, que teve duas supersafras em sequência, apresenta um quadro de insatisfação. "Em algumas culturas houve queda de produtividade e, além disso, os custos de produção cresceram até 15% no primeiro trimestre de 2014", aponta Paulo Cesar Dias, coordenador do ramo agropecuário da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB). Desde o quarto trimestre de 2013, a entidade publica o indicador do setor primário em parceria com a Fiesp. 

Economistas de bancos revisam para baixo previsão de crescimento do País neste ano

O fraco desempenho do setor industrial está fazendo com que os bancos revisem para baixo suas projeções de crescimento econômico para o País este ano. Pesquisa feita pela Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) com 28 economistas de instituições financeiras mostrou que a expectativa para a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) recuou de 1,8%, da pesquisa anterior, para 1,4% atualmente. 

Para 2015, a previsão para o PIB também recuou de 2,2% na pesquisa anterior para 1,7% nesta pesquisa. A pesquisa Projeções Macroeconômicas e Expectativas de Mercado foi realizada entre os dias 6 e 10 de junho.

As previsões para inflação oficial, medida pelo IPCA, seguem em elevação. O IPCA previsto para 2014 subiu de 6,3% para 6,41% e, para 2015, de 6% para 6,1%. Em relação à expansão do crédito, a previsão dos economistas também mostrou recuo neste ano. Na pesquisa anterior, a expectativa era de uma expansão de 13,1% do crédito. Agora, a estimativa recuou para 12,4%, o mesmo percentual previsto para 2015. Na pesquisa anterior, os economistas previam uma expansão do crédito de 12,7% para o ano que vem.

De acordo com os economistas ouvidos pela Febraban, 81% dos economistas consultados acreditam que haverá moderação tanto nas concessões de crédito privadas como nas concessões públicas. Os analistas esperam uma expansão balanceada entre o crédito livre e o direcionado. "O desempenho do crédito esperado para 2014, apesar da redução, segue melhor do que 2013 nos dois segmentos: pessoa jurídica e física", diz a pesquisa.

A taxa de inadimplência esperada para o crédito com recursos livres em 2014 apresentou ligeiro recuo de 5% na pesquisa anterior para 4,9% na pesquisa atual. Para 2015, os economistas esperam uma taxa de inadimplência no mesmo patamar, de 4,9%. Em relação à taxa básica de juros, 75% dos economistas acreditam que a taxa Selic será de 11% ao fim de 2014, ante uma previsão de 11,25% na pesquisa anterior. Para 2015, a expectativa para a Selic recuou a 11,75%, de 12% na pesquisa anterior. Para a taxa de câmbio, os profissionais acreditam num dólar a R$ 2,39 no fim deste ano e em R$ 2,45 para 2015.

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