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Pesquisas buscam enriquecer solo sem destruir o ambiente

Kaminsk começou estudos sobre o tema em 1967, quando se graduou em agronomia pela UFSM



A crescente preocupação com os impactos causados à natureza pelas atividades humanas resulta, também, no questionamento e na busca por opções para práticas agrícolas que, até então, pareciam incontestáveis. A situação, claro, não é mais novidade há muito tempo. Boa parte da responsabilidade pelo quadro é de pesquisadores pioneiros como João Kaminski, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), que desde o fim dos anos 1960 estuda alternativas para o uso de elementos tóxicos em análises e de técnicas para correção e fertilização do solo que não prejudiquem o meio ambiente.

O histórico de pesquisa de Kaminsk vem desde 1967, quando se graduou em agronomia pela instituição gaúcha e, no mesmo ano, passou a lecionar disciplinas sobre fertilidade do solo e nutrição das plantas. Nos anos seguintes, a questão dos efeitos causados pelos processos de correção de acidez dos terrenos cultiváveis já norteariam, por exemplo, sua tese de doutorado, defendida em 1983 na Universidade de São Paulo (USP).

A calagem, a técnica de utilizar calcário para corrigir acidez e outras características do solo em sua preparação, sempre foi uma das norteadoras do trabalho do pesquisador. Ainda no fim dos anos 1960, Kaminski ajudou a desenvolver o método de predição de calagem que passou a ser adotado na rede de laboratórios de análise do solo no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. Recentemente, porém, o modelo precisou ser atualizado, sempre com a preservação do meio ambiente em mente.

"Desenvolvemos um segundo método, substituindo elementos, porque havia algumas substâncias que eram problemáticas, como o cromo, que tem problema ambiental, e outras que eram cancerígenas", conta Kaminski. "O mote do nosso trabalho é esse, fazer previsão de dosagens que favoreçam o crescimento da planta, mas não prejudiquem o meio ambiente, porque a adição de fertilizante acaba quebrando o equilíbrio e isso pode ser prejudicial, principalmente ao ambiente aquático, se acabar levado substâncias para os grandes mananciais", continua.

Os próprios laboratórios de análise de solo, lembra o docente, são equipados para fazer predições, de forma que se use doses acertadas de calcário, adubo e outras substâncias, para que não se tenha grandes perdas. "Mas, depois de haver a perda, a solução é extremamente difícil, e nós já enfrentamos isso.

Maior dificuldade é conscientizar produtores e governos

Ainda que já exista tecnologia que garanta o equilíbrio entre a correção e fertilização do solo e a conservação do meio ambiente, o pesquisador João Kaminski acredita que o maior empecilho encontrado para que a mesma seja posta em prática é a relutância dos agricultores em adequarem sua produção a ela. "O agricultor hoje está preocupado em produzir bastante, e se a gente tenta restringir o uso de alguns insumos, eles olham com desconfiança, acham que não vão atingir aquela produtividade que esperavam, então preferem colocar fertilizantes a mais para garantir", argumenta o pesquisador. Para Kaminski, os grandes produtores ainda encaram instituições de controle, como a Fepam e o Ibama, como se fossem adversários, negando-se a seguir normas ambientais.

O sistema do plantio direto, por exemplo, que deveria ser acompanhado de outras etapas que protegessem o solo e que seriam negligenciadas pelos agricultores, acaba prejudicando o solo. Entre os problemas trazidos pela falta de revolvimento e pelo manejo em condições de umidade não ideais, estaria o adensamento do solo. "Hoje, por causa disso, nós temos grandes prejuízos com 15 ou 20 dias sem chuva que antigamente não tínhamos", afirma Kaminski, citando, também, que a utilização de insumos na superfície causaria outros contratempos, como evitar a penetração na raiz das plantas.

O grande desafio, portanto, seria conseguir convencer tanto os agricultores quanto os governos para tentar reduzir o que Kaminski classifica como uma "verdadeira orgia" na aplicação de fertilizantes atualmente. "Nós temos algumas políticas públicas que são interessantes e poderiam ser adotadas, mas não há interesse nisso. Nossos dirigentes fazem vistas grossas para isso para não perder eleitores, cabos eleitorais", sustenta. "Queremos controlar essas doses, ter uma produção satisfatória sem deixar um passivo ambiental, que, na verdade, está ficando. Estamos no início do problema, mas estamos caminhando rapidamente para que ele se torne um problema grave", prevê Kaminski.

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