CI

Pesquisas sobre rizóbios ajudaram no cultivo da soja

Os rizóbios são bactérias benéficas presentes no solo e atraídas para as raízes


A posição ocupada pelo Rio Grande do Sul, hoje um dos maiores produtores mundiais de soja, está fortemente atrelada à criação de métodos mais econômicos para a disseminação de cultura, em décadas passadas. A eliminação da necessidade de se colocar adubo nitrogenado no solo para o crescimento da leguminosa, prática possível através da produção de inoculantes de rizóbios, foi um dos principais responsáveis por essa evolução.

Os rizóbios são bactérias benéficas presentes no solo que são atraídas para as raízes das plantas leguminosas e induzem a fixação biológica de nitrogênio. A economia no plantio é possível pela eliminação da necessidade do uso de adubo químico, o que também gera benefícios para o meio ambiente. A técnica teve como um dos precursores no Estado o pesquisador João Ruy Jardim Freire. O professor é o destaque especial do prêmio Futuro da Terra, promovido pelo Jornal do Comércio.

Carioca, nascido em 1923, o pesquisador passou parte da vida envolvido com trabalhos voltados na área agropecuária. O estudo da bactéria começou quando Freire passou a selecionar as estirpes mais eficientes de rizóbio. Em seguida, veio o interesse em fazer os inoculantes - substâncias que possuem microorganismos e favorecem o desenvolvimento vegetal -, resultando em uma possibilidade de fertilização mais econômica do que a química. "Estava tendo início o boom da soja e havia um grande interesse das indústrias de produção de óleo, que queriam incentivar o cultivo", diz, relembrando o uso dos inoculantes. Foi uma inovação no Sul do Brasil, mas que já vinha sendo desenvolvida também em São Paulo.

Aliás, foi na capital paulista que o pesquisador teve contato com esse processo pela primeira vez. "Vi uma oportunidade importante de realizar pesquisa aplicada em uma área de grande interesse para os agricultores e que poderia ajudar no progresso da agricultura no Estado, como efetivamente aconteceu", relembra. Em São Paulo, a produção de inoculantes não teve tanto efeito econômico, já que essa cultura não progrediu lá como no território gaúcho.

Freire iniciou a sua carreira profissional no Rio Grande do Sul em 1946, quando passou a fazer parte da seção de bacteriologia da Secretaria da Agricultura. "A instituição deu uma grande contribuição para os estudos nessa área", diz. Posteriormente, esse departamento passou a ser chamado de Centro de Fixação Biológica do Nitrogênio e, atualmente, faz parte da Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária (Fepagro).

Em 1956, Freire teve participação determinante na instalação da primeira indústria para produção comercial de inoculantes de rizóbios para leguminosas, a Leivas Leite, na cidade de Pelotas. Esse foi o início da criação de um setor industrial nessa área, de empresas nacionais e multinacionais que hoje formam a Associação Nacional dos Produtores e Importadores de Inoculantes (ANPII). Em 1955, obteve o título de especialização em Microbiologia do Solo pela Universidade de Wisconsin, nos Estados Unidos.

Atualmente, o Brasil é o maior produtor mundial de inoculantes para leguminosas e apresenta índices de inoculação de 50% da área plantada com soja. A produção é feita por laboratórios privados. Muitos, inclusive, tiveram alguns dos seus técnicos treinados por equipes como a de Freire. De acordo com o pesquisador, os laboratórios progrediram em qualidade, possuem profissionais preparados e, por isso, conseguiram expandir sua atuação. O Brasil ainda não produz inoculantes para atender a toda a demanda e importa de outros países, como da Argentina. No ano passado, entre 18 milhões e 20 milhões de doses foram comercializadas. Cada dose pode ser usada em um saco de 60 quilos de soja.

Em 1978, outro fator que acabou incentivando esse trabalho foi a assinatura de um convênio com a Unesco que possibilitou a criação do Centro de Recursos Microbiológicos em Porto Alegre, responsável pelo treinamento em microbiologia, fixação de nitrogênio e tecnologia para a produção de inoculantes.

Trabalho incentiva a formação de novos profissionais:

Em sua trajetória na área de microbiologia, o pesquisador João Ruy Jardim Freire participou da formação de grupos de trabalho para discutir o tema, que reuniam técnicos das indústrias, pesquisadores e diversos institutos do Brasil para debater as evoluções desse segmento. Eram encontros bianuais, informais e que se centravam no tema dos rizóbios, atraindo a atenção de todos os envolvidos.

Em 1989, Freire participou da criação dos cursos de pós-graduação em Microbiologia Agrícola e do Ambiente que, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), formou cerca de 150 microbiologistas. O atual programa também já formou mais de 120 mestres e, em breve, terá a sua primeira turma de doutores.

Atualmente, Freire está aposentado, mas continua com atividades de orientação a estudantes. "É muito importante estimularmos o debate sobre esse tema e formar profissionais capacitados, que ajudem a reduzir a dependência externa do País em produtos de origem microbiana", diz.

Assine a nossa newsletter e receba nossas notícias e informações direto no seu email

Usamos cookies para armazenar informações sobre como você usa o site para tornar sua experiência personalizada. Leia os nossos Termos de Uso e a Privacidade.