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Pioneiros do leste vivem ano de redenção


Novo presidente do Paraguai é promessa de tranquilidade no campo em ano de safra cheia

A vitória do presidente Horácio Cartes nas eleições de domingo trouxe tranquilidade aos produtores de soja brasiguaios que atuam no Paraguai, mas o ânimo que se espalha no setor vem do resultado da colheita. Com médias de até 4,5 mil quilos por hectare em fazendas dos departamentos que concentram dois terços dos 3 milhões de hectares da oleaginosa no país – Alto Paraná e Canindeyú (leste do país) –, a temporada é de rendenção. Principalmente para quem enfrentou ameaças de invasão e quebra climática na última temporada.


A casa nova construída em Santa Rosa del Monday (Alto Paraná) representa para Márcio Giordani Mattei o fechamento de um ciclo que começou quatro décadas atrás, quando seus pais chegaram à região. Alcir e Laira Mattei, que migraram do Rio Grande do Sul, contam que não havia infraestrutura mínima e que boa parte dos agricultores desistiu da incursão no Paraguai. Quem ficou montou associações, criou cooperativas, abriu lavouras e inspirou o cultivo de soja, que foi subindo o mapa, avançou em áreas de pastagens e hoje chega ao Chaco, a noroeste.

Com o filho Arthur nos braços – a segunda geração paraguaia da família Mattei –, Márcio afirma que a produtividade deste ano demonstra que o projeto de vida dos imigrantes deu certo. “Prestei até serviço militar, sou tão paraguaio quanto qualquer descendente das famílias nativas”, afirma. Ele ainda sente que, no futuro, pode voltar a enfrentar questionamentos sobre a legalidade da documentação das terras. Mas acredita que, nos próximos quatro anos, a situação será tranquila com Cartes no poder, e que a produção rural continuará mostrando ser uma saída para o desenvolvimento do país.

A expansão das lavouras de soja na região – considerando safra e safrinha – foi estimada em 5% no leste e de 20% no departamento de San Pedro (centro) em 2012/13. “Ainda temos espaço para a agricultura e podemos elevar a concentração de bois no pasto”, afirma o agropecuarista Celito Cobalchini, de La Paloma del Espiritu Santo (Canindeyú).


Soja terá de bater pecuária no Chaco

A expansão das lavouras de soja no Chaco paraguaio (noroeste do país) não depende apenas da viabilidade da oleaginosa. Na região que conta com infraestrutura – Filadelfia e Loma Plata, 460 quilômetros ao norte de Assunção –, a agricultura terá de competir com a pecuária de alta tecnologia. As cooperativas criadas por imigrantes menonitas coordenam um sistema de criação e abate de gado que é referência em qualidade da carne.

Os animais crescem e ganham peso em áreas extensas, que ficam alagadas nesta época do ano. O solo fértil garante pastagens fartas, que secam no inverno mas são complementadas com silagem de sorgo e milho. Os frigoríficos funcionam mesmo sem chuva no inverno, usando sistemas de irrigação baseados em experiências israelenses (veja quadro ao lado). Recebem a produção principalmente do departamento de Boquerón, que concentra 1 milhão de cabeças de gado – 10% do rebanho nacional. O frigorífico da cooperativa Chortitzer, o segundo maior do Paraguai, abate 800 animais ao dia. Por animal, gasta 1,5 mil litros de água da chuva.


A infraestrutura urbana de Filadelfia e Loma Plata surpreende na região. Ruas largas esperam asfaltamento, mas há supermercados completos, escolas, hospitais, além de hotéis espaçosos, com água aquecida, piscinas claras e cozinha alemã. Os serviços de Filadelfia – que tem cerca de 10 mil habitantes e é capital do departamento de Boquerón – são sustentados pelas cooperativas.

Entre os cooperados não estão apenas produtores rurais. Um empregado do supermercado da cooperativa, por exemplo, pode se associar e, assim, pagar 30% dos preços de tabela das consultas médicas. Os serviços e a infraestrutura, no entanto, não suportariam uma explosão demográfica como a registrada no leste do país com a chegada da soja. A região vai depender de investimentos públicos, afirma o gerente geral da cooperativa Fernheim, Helmut Goerzen.

O desenvolvimento da região é uma meta nacional. O aqueduto de 200 quilômetros que o governo promete construir entre Puerto Casado – às margens do Rio Paraguai – e Loma Plata tem obras em fase inicial nas duas extremidades. O projeto deve atender apenas o consumo humano. Os habitantes do Chaco (200 mil) correspondem hoje a apenas 2,7% da população paraguaia, estimada em 7,4 milhões de pessoas.

Colheita de água

Os frigoríficos do Chaco paraguaio precisam colher água da chuva para ter condições sanitárias de abate. Entenda um sistema modelo do Frigochorti, de Loma Plata.


Coleta

Sem rios próximos, a saída é drenar o solo. Nas áreas preparadas, a água começa a escorrer com chuvas acima de 17 milímetros (85% das ocorrências).

Canalização

Um canal com declive leva a água das chuvas drenada para uma zona de tanques.

Bombeamento

No final do canal, bombas remetem a água das chuvas para tanques. O Frigochorti drena 135 hectares para garantir 1,2 milhão de litros de água por dia.

Agricultura

Para a produção de grãos, o sistema exigiria área de coleta igual ou maior que a lavoura. Por outro lado, elevaria a produtividade do milho de 1,5 mil para 8 mil quilos por hectare.

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