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Plano Safra: um desafio para 2010

Incentivo à agricultura familiar e plantio de girassol para produção de biodiesel estão entre as metas para próximo ano


Diante da crescente necessidade de suprimentos para a população do estado e das surpresas que o clima tem trazido aos produtores rurais, a atividade agrícola na Paraíba está sendo tema de cuidadoso debate no governo em função da elaboração do Plano Safra 2010, que será desenvolvido conjuntamente entre Emater (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural), Emepa (Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária), Empasa (Empresa Paraibana de Abastecimento e Serviços Agrícolas) e Interpa (Instituto de Terras e Planejamento Agrícola do Estado da Paraíba). Ao longo dos últimos anos, os problemas climáticos têm repercutido negativamente na produção agrícola do estado e, segundo o secretário executivo de agricultura da Secretaria de Desenvolvimento de Agricultura e Pesca da Paraíba (Sedap), Ronaldo Torres, a realidade hoje da é que a maioria dos alimentos consumidos no estado são importados.
Em pesquisa da Emater, cedida pela Sedap, o cultivo do feijão registrou até 25 de maio de 2009 perdas superiores a 50% da safra em sete regiões pesquisadas pela Emater, de um total de 14 regiões. Em locais que sofreram com alagamentos em função das fortes chuvas, como Cajazeiras, Itaporanga, Patos, Pombal e Sousa, as colheitas de algodão, milho e feijão chegaram a registrar perdas de até 77%.

"Mais do que lamentar as perdas agrícolas, o alerta deve ser feito com relação à diminuição da área plantada", explicou Ronaldo Torres. Na década de 1980 a Paraíba foi o segundo maior exportador mundial de algodão, ficando atrás do Egito, produzindo uma fibra de altíssima qualidade, considerada a melhor do mundo. O estado produzia naquela década um total de 780 mil hectares das duas espécies de algoão, (herbáceo e arbóreo). A área plantada correspondente a esta cultura hoje é de apenas 7.280 hectares. No mesmo período em 1980, 250 mil hectares eram destinados ao plantio de milho. Atualmente, o milho é produzido em 192 mil hectares, suficiente apenas para o consumo do paraibano no períodode São João.

O secretário considera que, além das fortes variações climáticas, um fator que interfere na produtivida é o desmatamento que vem influenciando nos níveis pluviométricos no sentido de tornar as pancadas de chuvas irregulares. Em Patos, no dia 12 junho deste ano, choveu 300 mm de água, em 6 horas, o correspondente a todo período de chuvas na região, que dura 5 meses.

Degradação

O fato é esclarecido pelo professor de Geociências da Universidade Federal da Paraíba, UFPB, Wolf Dietrich Heckendorff. "O vilão das mudanças climáticas no Brasil é a degradação da vegetação, que tem a propriedade de equilibrar o clima. Com a vegetação, as pancadas de chuvas são absorvidas sem causar erosão do solo". Nas décadas de 1950 e 1960 o desmatamento no nordeste foi intenso, prosseguindo até o final dos anos 70. Hoje restou apenas 6% da Mata Atlântica, que cobria a região. "No entanto, o padrão do clima é o mesmo há 500 anos, desde a época do descobrimento. A média dos índices de seca e chuvas é a mesma. O que altera é a forma como as precipitações se formam, em função do efeito estufa, e as consequente erosão, pela falta da vegetação", explica.

Contudo, o professor Heckendorff avisa que muito mais preocupante que o efeito estufa, é a superpopulação. Em 1960, havia 1.3 milhão de pessoas morando na Paraíba. Segundo censo do IBGE, em 2000 eram 3.4 milhões sendo que 71% viviam na zona urbana. É o quarto estado da região nordeste em contingente populacional, com um dos índices mais altos de urbanização.

"As consequencias do efeito estufa por enquanto são poucas. Estamos começando a sentir. Nos últimos 150 anos foi registrado o aumento de 0.6 graus na temperatura do planeta, sendo que apenas 0,2 graus são consequencias do efeito estufa, é um índice pequeno, ensina o professor". Por outro lado, os recursos do planeta não serão sufucientes para sobrevivência digna da população em menos de cinco décadas. Há uma necessidade urgente de mudanças no comportamento da humanidade, a começar pelo controle demográfico. O Brasil é umpaís que ainda conta com grandes reservas naturais, diferente da China, Índia ou países europeus.

Hoje, o país é o segundo maior exportador de alimentos do mundo, ficando atrás dos Estados Unidos. Mas a realidade na Paraíba é diferente. Segundo dados da Superintendência da Companhia Nacional de Abastecimento da Paraíba - Conab, em 2008 foram importadas 39 mil toneladas de algodão e 83 mil toneladas de milho. Entre janeiro e julho deste ano, as importações de milho já alcançam 74 mil toneladas. Como analisa o superintendente da Conab, Ângelo Viana, no final do ano, este número certamente ultrapassará o registrado em 2008.

Perspectivas

Para Paraíba, a fase agora é de elaboração das metas para o próximo ano. Segundo o secretário Ronaldo Torres, o plano deverá incluir o plantio de girassol para produção de biodiesel, que ainda não existe na Paraíba, além de programas de incentivo à agricultura familiar, distribuição de sementes, bem como a finalização de projetos em andamento como Várzeas de Sousa e Piancó I, IIe III, investindo em tecnologia. "O objetivo é fazer o reaproveitamento das áreas irrigadas, como é o caso do Projeto nas Várzeas de Sousa", diz Torres.

A área é apropriada para produção de frutas e estrategicamente localizada, sendo equidistante às cidades de Fortaleza (CE), Petrolina (PE), Natal (RN), Porto de Suape (PE), importantes centros de escoamento da produção, cortada pela BR 230 e pela ferrovia. Conforme o gerente de Perímetro do Projeto, Denilson Lemos, a previsão para o início do funcionamento é no próximo ano, quando estarão terminadas as obras de infra-estrutura. Pode gerar 50 mil empregos diretos e indiretos a partir do pleno funcionamento da irrigação chegando a um faturamento de R$ 850 milhões por ano.

A Paraíba tem tradição na exportação de frutas. De janeiro a junho de 2009, o mamão papaia atingiu a marca de $1.291.295 bilhão de dólares exportados, sendo item importante para o equilíbiro da balança comercial do estado, como informa Elianete Paiva, Project Manager do International BusinessCenters Brazilian Network SEBRAE/FIEP.

"O Plano Safra, 2010 prevê também uma ampliação das áreas cultivadas. Uma das metas é alcançar pelo menos 20 mil hectares do plantio de algodão, o que corresponde a 25 mil toneladas de algodão, quando a planta atingir um patamar de produtividade máxima. O incentivo à atividade agrícola na Paraíba é fundamental para garantir produtividade", finaliza Ronaldo Torres.

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