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Plantio acaba, a doença avança e o mercado é volátil

Semear foi o mais fácil e a ferrugem começa a ameaçar lucro e rendimento no campo


Os trabalhos no campo estão encerrados em Mato Grosso desde o último dia 15, conforme levantamento realizado pelo Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea). Foram três meses de intensa movimentação de plantadeiras entre o início da semeadura, com o fim do período proibitivo do Vazio Sanitário, até a cobertura dos últimos hectares no nordeste mato-grossense. Semear milhões de hectares foi a parte mais fácil. A etapa mal terminou e o segundo caso de ferrugem asiática acaba de ser confirmado, dessa vez deu a lógica do segmento: a doença foi identificada em Primavera do Leste (139 quilômetros ao sul de Cuiabá), e se encontra em uma plantação cultivada no final de outubro e, portanto, ainda em estádio vegetativo. Já são dois casos em lavouras comerciais confirmados no Estado.

Traduzindo o esforço em semanas, os sojicultores levaram nesse ciclo 10 semanas para plantar pouco mais 9,36 de milhões de hectares, área que em relação à safra passada, cresceu 0,91%, mas que no campo, abreviou o ritmo dos trabalhos. Na safra anterior, em razão da forte estiagem que paralisou o plantio durante todo o mês de outubro e parte de novembro, a janela dos trabalhos se estendeu e no mesmo período de 2015, por exemplo, a semeadura contabilizava sua 13ª semana com cerca de 1,5 milhão de hectares a serem cobertos. 

Nesse ano, o clima com chuvas abundantes, permitiu que a soja fosse plantada dentro da janela agronômica ideal, ao contrário do que presenciou no ano passado, quando alguns produtos seguiram com suas plantadeiras até janeiro. Há um mês, as propriedades do médio norte e do oeste já haviam concluído esta etapa e por terem sido as primeiras a cultivarem a safra 2016/17 de soja no Estado, já se prepararam para colher os talhões da nova temporada nacional. 

O mesmo clima que foi benéfico durante todo o momento do plantio, já começa a despertar à atenção a partir de agora, já que os casos de ferrugem começam a se confirmar, como o de União do Sul e de Primavera do Leste. 

Como destacam os técnicos da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado (Aprosoja/MT), a safra é feita de ciclos e o plantio foi apenas um deles. Concomitantemente à cobertura de toda a área, há o monitoramento contra pragas e doenças em talhões já estabelecidos e com a conclusão do plantio essa vigília só aumenta, especialmente para detecção precoce de casos de ferrugem asiática. “Os agricultores devem ficar alertas e monitorar as lavouras, ajustando os manejos preventivos. Além da atenção redobrada, é preciso usar fungicidas com diferentes modos de ação, pois estamos em período muito suscetível à doença, clima bastante úmido e quente”, pontua o diretor técnico da Aprosoja/MT, Nery Ribas. A ferrugem asiática foi descoberta em Mato Grosso na safra 2004/2005 e, nestes 11 anos, já causou prejuízo estimado de mais de US$ 30 bilhões no país. No início do mês, o primeiro foco da doença em área comercial foi confirmado em uma lavoura do município de União do Sul, norte do Estado. 

A doença, causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi é considerada uma das mais severas que incidem sobre a cultura e pode ocorrer em qualquer estádio fenológico (desenvolvimento). Plantas infectadas apresentam desfolha precoce, comprometendo a formação e o enchimento de vagens, reduzindo o peso final dos grãos e demandando mais custos de combate e controle ao produtor. Nas diversas regiões geográficas onde a ferrugem asiática foi relatada em níveis epidêmicos, os danos variam de 10% a 90% da produção. 

PROJEÇÃO – Conforme revisão feita pelos analistas do Imea, no início desse mês, Mato Grosso caminha no ciclo 2016/17 para oferecer ganho em produtividade, graças ao ‘senhor’ clima, que no ano passado fez tanta falta. A sojicultura deverá atingir produção de 30,46 milhões de toneladas (t), ganho anual de 9,56%, enquanto o aumento de área está sendo de somente 0,91%. Para se chegar a esse volume, o Imea projeta uma produtividade média no Estado de cerca de 54,05 sacas por hectare (sc/ha) aumento de 8,57% em relação ao consolidado no ciclo passado de 49,78 sc/ha. 

MERCADO – Os analistas do Imea chamam à atenção para movimentos no mercado internacional. “Na última semana a decisão de aumento da taxa de juros nos Estados Unidos pelo Banco Central daquele país, o FED, trouxe movimentação ao mercado e a discussão sobre os possíveis impactos no câmbio e nos preços das commodities. Neste sentido, em um cenário para a soja mato-grossense em 2017, com possível valorização do dólar acima de R$ 3,60, e desvalorização da soja na Bolsa de Chicago (CBOT), abaixo de US$10/bushel, devido a fuga de capital especulativo, o preço interno da soja no Estado ficaria próximo a RS 61,90/sc, sendo um cenário menos vantajoso a atual paridade março/17, mas ainda atrativo, pois estaria R$ 11,86/sc acima do ponto de equilíbrio da safra 2016/17. Cabe salientar que esse cenário é hipotético, com queda nos preços da soja em Chicago sendo fundamentalmente existentes, pois as chances de safra cheia na América do Sul são grandes. Além disso, pelo dólar ser uma variável bastante volátil, a previsibilidade da sua movimentação é incerta. Por isso, o produtor deve ficar atento e saber aproveitar as boas oportunidades de negociação para não perder o ‘time’ das vendas a partir de agora”.

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