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Plantio direto consolida revolução no campo


O Brasil comemora nesta semana os 30 anos do sistema de plantio direto, técnica agrícola que deu sustentação à revolução no campo brasileiro. A partir do SPD (Sistema de Plantio Direto), o país pode incorporar áreas antes impróprias para a produção de grãos, economizar em insumos e exportar tecnologia e equipamentos para o mundo.

O plantio direto, ainda não como sistema, foi introduzido em 1971 pelo agricultor Herbert Bartz em Rolândia, no norte do Paraná. Mas foi a partir de 1974 que agricultores de Mauá da Serra, também no Paraná, orientados por Bartz, difundiram a prática.

Hoje, o SPD ocupa 22 milhões de hectares, segundo dados da Federação Brasileira do Plantio Direto, dos 42,5 milhões de hectares destinados à produção de grãos no Brasil. "Nos EUA, o sistema era muito rudimentar e não existia um conceito amplo como o nosso. Por isso podemos falar que o SPD é uma tecnologia autenticamente brasileira", afirma Bartz.

Baseado em um processo de agricultura sustentada, o sistema remove o mínimo possível do solo e procura, na agricultura comercial, dar características de solo de floresta para as área de lavoura. Além do ganho na produtividade, ao saltar de uma produção de 1.980 quilos de soja por hectare, na década de 70, para 4.000 quilos, na média da última safra, o SPD incorpora ganhos ao reduzir custos de produção.

Pesquisadores e economistas tentam, hoje, traduzir em valores os ganhos obtidos com o sistema. A dificuldade é chegar a um cálculo mais próximo da realidade. Mas, para exemplo, somente no consumo de óleo diesel na última safra o país deixou de gastar R$ 1,826 bilhão, com uma economia de 59,3 litros de diesel por hectare/ano. O valor corresponde ao diesel que se deixou de queimar nos 22 milhões de hectares com o sistema, considerando um preço médio de R$ 1,40 o litro de diesel.

Sérgio Higashibara e Carlos Kamiguchi, seguidores dos pioneiros do plantio direto em Mauá da Serra, apontam o avanço "para uma fronteira agrícola invisível" como outra vantagem do sistema. Em Mauá da Serra são colhidas cinco safras em um ciclo bianual. "A otimização da terra com cinco colheitas, onde existiam quatro, é uma fronteira invisível, mas que agrega valor para o produtor", afirma Higashibara.

Mais visível é a incorporação de áreas antes destinadas a pastagens no noroeste do Paraná, no sudoeste de São Paulo e no sul de Minas, onde o SPD tornou possível a produção de grãos, especialmente soja. O mesmo aconteceu em áreas degradadas do Rio Grande do Sul, como em Alegrete.

O pesquisador José Eloir Denardin, da Embrapa Trigo, de Passo Fundo (RS), aponta o SPD como responsável pela transformação de Carazinho, antes apenas área de agricultura, em uma importante bacia leiteira do Rio Grande do Sul. "Com a rotação de culturas, o produtor passou a integrar lavouras com pecuária de leite, e hoje a região produz um milhão de litros dia, o que seria impossível sem o sistema".

O pesquisador do Iapar (Instituto Agronômico do Paraná), Ademir Calegari, lembra que o sistema "assustou os norte-americanos". Há dez anos, técnicos do USDA (departamento de agricultura dos EUA) visitaram o cerrado brasileiro e relataram que "os solos frágeis não suportariam o avanço da agricultura brasileira".

Há dois anos, novos consultores do USDA voltaram ao cerrado. E o relatório final mostra um "espanto" com o "crescimento linear da produção de alimentos". Desde 2001, o SPD brasileiro é indicado pela FAO (Fundo das Nações Unidos para a Agricultura) como o modelo de agricultura.

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