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Pomar vira lavoura de soja em Palmas/PR

Crise da maçã fez a área da fruta cair 500 hectares nos últimos cinco anos


Crise da maçã fez a área da fruta cair 500 hectares nos últimos cinco anos, enquanto a soja ganhou 7 mil hectares. Município está perto de perder a liderança estadual

Arilemes dos Santos trabalhou por cerca de sete anos nos pomares de maçã, em Palmas, Centro-Sul do estado. Hoje, sua principal ferramenta de trabalho, a motosserra, derruba as macieiras, que passaram a produzir lenha em vez de fruta. A mudança de atividade do trabalhador representa a realidade do setor agrícola na região. Com isso, a economia do município, que até 2005 era baseada no cultivo da fruta, hoje sobrevive graças às lavouras de soja e milho. Segundo especialistas, apesar de mais rentáveis, a produção de grãos geram menos postos de trabalho, criando situações como a de Arilemes. “Muita gente sobrevivia desse serviço, mas aos poucos tudo está acabando. Tem gente que simplesmente abandonou a maçã no pomar, nem colheu”, relata.


Os números referentes à área plantada com a fruta em Palmas comprovam o cenário de crise. Nos últimos cinco anos, os pomares encolheram 500 hectares e a produção do município recuou para o menor nível desde a safra 1995/96: 12,2 mil toneladas. A soja, por outro lado, ganhou 7 mil hectares no perío­do. Ou seja, além de abocanhar o terreno da maça, o grão mais rentável da agricultura roubou espaço de áreas de reflorestamento e pastagens. “A oleaginosa, juntamente com outras culturas, assumiram o papel de principal atividade econômica do município, antes exercido pela maçã”, confirma Josemar Bannach, agrônomo do Departamento de Economia Rural (Deral), ligado à Secretaria Estadual de Agricultura (Seab).

Após reduzir em 60% a área cultivada com a maçã, o agricultor Celso Sato conta que pretende diminuir ainda mais suas apostas na fruta.“Quem trabalha com cereais (grãos) está mais tranquilo, pois o risco de perdas é menor”, argumenta ele, que já teve 100 hectares de pomares. Ele arrendou parte de sua propriedade para um produtor de soja. “Aqui [em Horizonte], tivemos uma das maiores produções de maçã da região. Os pomares chegaram a ocupar 400 hectares, mas se hoje tiver 100 hectares é muito”, avalia ele.

Com a troca de culturas no campo, Palmas está perto de perder a liderança de produção no estado. O Paraná é hoje o terceiro maior produtor nacional de maçã, com cerca de 4% do volume total, mas ainda segue longe do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. Em 2010, os dois estados produziram 1,2 milhão de toneladas, ou 95% da produção brasileira.

Para Rodrigo Keppe, diretor do departamento de agricultura de Palmas, o maior impacto dessa mudança na produção é sobre os postos de trabalho. “Essas novas atividades até podem ser rentáveis, mas exigem pouca mão de obra, geram pouco emprego”, afirma. Pierre Nicolas Pérès, presidente da Associação Brasileira de Produtores de Maçã (ABPM), concorda. “A maçã gera até 3 empregos por hectare, entre vagas fixas e provisórias, algo que as grandes culturas não fazem”, salienta.

O risco de perdas climáticas é o principal fator que levou os produtores de Palmas a outra alternativa. A rentabilidade da fruta pode chegar a R$ 14 mil por hectare, considerando custo de R$ 12 mil e produtividade de 26 toneladas/ha. Menos suscetível ao clima e com mercado aquecido, a soja rende em média R$ 1,8 mil por hectare de lucro para o produtor.

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