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Poucas mortes ajudam proliferação da gripe suína, diz médico

Poucas mortes ajudam proliferação da gripe suína, diz médico


A escalada da gripe suína em países da América do Sul fez com que o contágio disparasse nos últimos dias, chegando a 399 casos no Brasil. Apenas nesta quarta-feira, foram 65 novos casos.

A explicação pode ser a chegada do inverno, mas um feriado prolongado também estaria por trás do fenômeno, na opinião de uma das maiores autoridades em epidemiologia do País.

O infectologista e diretor do Instituto Emílio Ribas em São Paulo, David Uip, acredita que o governo brasileiro tem um controle eficiente sobre a doença e está preparado para atender os casos "dentro de uma demanda razoável". Mas recomenda atenção: os casos importados da Argentina chegaram a 40% em São Paulo.

Segundo Uip, o baixo índice de letalidade da doença, que ainda não matou ninguém no País, é um fator que pode estar ajudando em sua rápida proliferação. No entanto, afirma que ninguém sabe o que acontecerá no futuro com mutações da influenza A (H1N1). "O vírus pode desaparecer", cogita.

Confira a íntegra da entrevista:

Terra - O alastramento da gripe suína no Brasil teve como principal motivo a chegada do inverno?

David Uip - São dois fatos. O primeiro é a chegada do inverno, mas tem uma circunstância que coincide com o feriado de Corpus Christi. Uma semana depois, nós tivemos um grande aumento de casos que fez com que, em São Paulo, 40% das ocorrência do Estado fossem de indivíduos que vieram da Argentina. Então o feriado coincidiu com este crescimento. O contágio se deu mais por viagens à Argentina que ao Chile.

Terra - O senhor acha que as medidas que o País está adotando são adequadas, são suficientes?

Uip - Eu acho que o Brasil tem um bom sistema de vigilância e um bom diagnóstico. Estamos preparados do ponto de vista de internação e de atendimento de casos com eventual gravidade. É óbvio que tudo depende um pouco da demanda. Dentro do razoável, nós estamos prontos, dentro do que é previsto. Se tivermos problemas no enfrentamento é o Brasil e o mundo inteiro. Estamos preparados no mesmo nível de países de primeiro mundo.

Terra - O senhor tem uma hipótese sobre por que o vírus proliferou tanto no Chile e na Argentina?

Uip - É difícil saber. Eu não conheço o plano chileno nem o argentino. Mas tenho um dado que é possível visualizar. O Brasil, a despeito de ter uma população muito maior que a destes dois países, tem um número de casos muito menor. Eu prefiro dizer que o Brasil tem um combate muito mais eficiente, e isto é visível.

Terra - O senhor notou alguma diferença entre o começo da infecção e o atual momento?

Uip - Não. O vírus é muito contagioso, mas segue com uma taxa de mortalidade que é de 0,4% (no mundo). De qualquer forma, não vamos dizer que o vírus é inofensivo. Na Argentina você tem 1.290 casos e 17 óbitos. Lá a letalidade está maior, é de 1,2%. Em contrapartida, no Chile, que tem mais de 5 mil casos, você tem 7 óbitos, o que dá 0,11% ou 0,12%. Cada país vai ter que entender o que está acontecendo, se tem a ver com as condições, as complicações.

Terra - Existe chance de este vírus ser algo cíclico, como as epidemias da gripe aviária?

Uip - Aconteceram algumas coincidências a favor desta nova gripe. A gripe aviária não chegou a ser epidemia por sua grande taxa de mortalidade. Não houve contágio entre humanos. A característica da nova gripe é a de um vírus sazonal, tanto na sua apresentação clínica como na letalidade.

Terra - Esta doença pode ter uma mutação que a torne mais ou menos ofensiva aqui nos países do Sul?

Uip - Ninguém sabe. Esta é uma resposta que nós não temos e a possibilidade está em aberto. Inclusive, a de o vírus desaparecer, isto pode ocorrer. Mas isto não muda a postura, que é uma postura de atenção.

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