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Preço alto da soja pode inibir a demanda pelo grão

A falta de novidades no relatório do Usda não desaqueceu o mercado


A falta de novidades no relatório do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (Usda) não desaqueceu o mercado de soja que se apegou às previsões de clima seco nas lavouras americanas para outra escalada de preços. Os contratos para novembro na Bolsa de Chicago (CBOT) subiram ontem 18,45 pontos para US$ 9,41 o bushel e, para analistas, já está acima do limite de alta em que a demanda passa a não absorver e, portanto, recua.

Corretoras já registraram desistência da China em contratos de compra de soja em grão e de óleo do Brasil. Ainda não se sabe o volume, mas o mercado estima que as importações do grão dos chineses para este ano, previstas em 33 milhões de toneladas, cairão para 30 milhões de toneladas, segundo Paulo Baraldi, da Soma Corretora.

Ele confirma que os recuos da China vem sendo registrados desde a semana passada. Tratam-se de movimento de troca de posição, conhecidos como wash-out. "É como se a China devolvesse o contrato ao vendedor, que aceita e lança esse papel para outro destino, que pode ser, por exemplo, a União Européia, onde a relação do euro com o dólar amortece o impacto dessas altas internacionais", diz Baraldi. Trata-se de uma operação legal no mercado, enfatiza o especialista. No entanto, para a soja não ocorre desde 2004, quando os preços internacionais alcançaram US$ 10 o bushel. "Com os preços muito altos, a China passa a não fazer estoques e reduz compra para o estritamente necessário", avalia Baraldi.

Na análise de Gonzalo Terracini, da consultoria FCStone, a China começa a operar com margem negativa no processamento de soja quando o grão é importado com preços a partir de US$ 8 o bushel. No caso do óleo de soja, os níveis atuais de 39 centavos de dólar por libra-peso (contrato de novembro) já são proibitivos. "Não encontra comprador". "Além de cancelamento de vendas para contratos do grão, também temos registro para o óleo de soja, do Brasil e da Argentina", diz Terracini.

Ainda não é possível saber qual será o nível de redução das compras chinesas, tampouco do seu reflexo no comportamento dos preços internacionais. No entanto, é possível, segundo Baraldi, que os descontos no porto (prêmios) fiquem mais negativos para "compensar" a alta de Chicago e atrair novamente a demanda, segundo Baraldi.

E isso já vem ocorrendo. Há 30 dias, o prêmio no Porto de Paranaguá para o contrato de agosto deste ano da soja em grão estava 26 pontos negativo. Ontem, ficou negativo em 55 pontos. Para entrega em 2008, os descontos registraram 55 pontos há 30 dias e ontem, 120.

Relatório:

O relatório do Usda apontou uma redução de cerca de 3 milhões de toneladas nos estoques mundiais de soja e, ainda o recuo na mesma quantidade da produção americana. "Mas no dia anterior a divulgação, o mercado já havia precificado. A previsão de clima seco e quente para as próximas duas semanas é que norteou o movimento de ontem", diz Terracini. Para ele, há um efeito psicológico do mercado em sustentar altas de até US$ 10 por bushel na soja. "Se a seca americana se confirmar, fala-se em alta ainda superior, aos patamares de US$ 11". Desde janeiro deste ano, os preços da soja na CBOT registraram alta de 28,5%; em julho, de 4,7%.

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