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Preço da soja desaba e ameaça exportação do Brasil

A crise do mercado financeiro fez com que o preço internacional da soja e de outras commodities desabasse em setembro


A crise do mercado financeiro fez com que o preço internacional da soja e de outras commodities desabasse em setembro, em um ano em que muitos produtos agrícolas vinham registrando altas recordes. Para analistas, isso vai prejudicar as exportações brasileiras ainda este ano.

No começo de 2008, a soja disparou com a crise de demanda por alimentos, que forçaram os preços para cima. No dia 2 de julho, a soja se valorizou em 45,5% em relação ao começo do ano, segundo dados da Newedge. Foi o preço mais alto da commodity no ano.

Mas no mês passado, a crise financeira global fez o preço da soja desabar abaixo do valor do ano passado. Na quarta-feira, a soja terminou cotada a US$ 10,89 por bushel na Bolsa de Chicago (nos contratos futuros para novembro). O valor atual da soja é mais de 6% menor do que no começo do ano.

O café, cujo preço também estava em alta, está agora desvalorizado em 5,6% no acumulado do ano. Das principais commodities brasileiras negociadas no exterior, o açúcar é o mais beneficiado, com valorização de 26% desde o começo de 2008.

'Crédito é caro'
"O preço das commodities tem caído rápido devido à realidade do mercado. A liquidação do mercado está forçando o preço para baixo", disse à BBC Brasil o analista da Newedge, o brasileiro Vinícius Ito.

Muitos investidores que estavam especulando no mercado de commodities agora procuram refúgio em opções mais estáveis de investimento, como ouro.

Segundo o analista, a queda do preço das commodities deve ser sentido imediatamente por toda cadeia produtiva do Brasil, por dois motivos: além de a safra brasileira estar valendo menos no mercado, os produtores terão mais dificuldade para conseguir crédito, que está escasso no mercado, devido à crise.

"Crédito é muito caro no Brasil. O pessoal toma empréstimos de dinheiro fora e empresta no Brasil, só que neste momento o crédito está sumindo", diz Ito.

Para o analista americano Don Roose, da U.S. Commodities, os preços das commodities estão apenas voltando ao valor normal, já que eles estavam muito inflacionados na metade do ano, durante a crise da alta do preço de alimentos.

"Os preços estavam batendo recordes históricos. Agora estamos vendo eles valorizados a um terço dos valores recordes", diz Roose.

O Brasil e outros grandes produtores rurais vão sentir os efeitos disso, já que o comércio global deve se retrair ainda este ano, diz o analista americano.

FMI: preços altos
Ainda não está claro para analistas por quanto tempo os preços das commodities continuarão caindo, nem o tamanho da desvalorização.

Para o Fundo Monetário Internacional (FMI), apesar da recente queda, os preços das commodities vão continuar altos.

Um documento divulgado pelo fundo nesta quinta-feira afirma que, apesar da recente queda do preço das commodities, "muitas das forças que causaram o boom (do preço das commodities) ainda estão presentes".

"A economia mundial passou (neste ano) pela maior e mais contínua expansão de preços de commodities desde os anos 1970", diz o relatório World Economic Outlook do FMI.

"Os preços devem provavelmente se manter altos em relação aos padrões históricos", aponta o documento.

Os analistas ouvidos pela BBC Brasil acreditam que, no caso dos alimentos, os preços vão depender do consumo asiático. O aumento do padrão de vida na Ásia foi um dos fatores que causou a forte alta do preço dos alimentos no começo do ano.

"Se a Ásia crescer menos, pelas forças de oferta e demanda, o preço pode cair", diz Roose.

Já Vinicius Ito lembra que outros fatores - como boa produção de trigo, bom clima na Austrália e boa safra nos Estados Unidos - também podem contribuir para reduzir o preço dos alimentos.

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