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Preço do boi não garante renda ao setor

De acordo com a CNA, o criador de gado está sendo obrigado a vender matrizes para manter-se capitalizado


O preço do gado precisaria subir de 10% a 20% para devolver pelo menos em parte a rentabilidade dos criadores, afirma o presidente da Associação Brasileira de Criadores (ABC), Luís Alberto Moreira Ferreira. Levantamento feito pela ABC revela que o preço esperado pelos criadores para a arroba é de R$ 78, enquanto a cotação atual está em torno dos R$ 60.

A pecuária de corte iniciou 2005 mantendo o ritmo de perda de renda já constatado em anos anteriores, resultado da combinação de queda do preço pago pelo boi e alta dos custos de produção. Segundo Ferreira, a queda na rentabilidade da atividade está impedindo os produtores de reinvestir.

De acordo com estudo da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Universidade de São Paulo (Cepea-USP), no ano passado os custos de produção subiram 10,10%, enquanto que o preço pago pelo gado caiu 0,03%.

De acordo com a CNA, o criador de gado está sendo obrigado a vender matrizes para manter-se capitalizado. Ao abater fêmeas, o segmento compromete a capacidade de expansão e de reposição do rebanho no futuro. "A falta de entendimento entre produtores e frigoríficos sobre repasse da pressão de custos compromete ainda mais a atividade", afirma Ferreira. Em 2004, 35% do total de abates envolveu fêmeas e este ano a proporção está acima de 50%.

Análise da CNA mostra que entre janeiro de 2003 e janeiro de 2005 o preço do boi subiu 4% e o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) cresceu 15,7%. Segundo a CNA, a comparação prova que há um processo de transferência de renda na cadeia da pecuária de corte, com perda para os criadores de gado, opinião compartilhada por Ferreira. "O Brasil está exportando mais e com maior valor agregado, mas só os frigoríficos estão se beneficiando", critica Ferreira.

"Os criadores estão paralisados, muitos mudando de atividade", afirma Ferreira. O setor sucroalco-oleiro vive um bom momento que, conjugado à crise na pecuária de corte, está fazendo com que produtores de São Paulo deixem de lado o gado e invistam na plantação de cana-de-açúcar, reforçando tendência já constatada nos últimos anos. Segundo Ferreira, o estado de São Paulo já foi o primeiro em pecuária e hoje é o sexto. "Na última década houve o movimento de troca do gado pela cana, e isso está se intensificando com a queda na rentabilidade na pecuária", disse.

Apesar das dificuldades no campo, o Brasil manteve, neste início de ano expansão no volume de exportação de carne bovina. As remessas do segmento geraram receita de US$ 370,5 milhões nos dois primeiros meses de 2005, 30% a mais que os US$ 285,5 milhões de igual período de 2004. O preço médio de exportação de carne "in natura" foi de US$ 2,240 por tonelada no mês passado, 6% a mais que o valor médio de US$ 2.110 por tonelada, em fevereiro do ano passado.

Para o diretor da Scot Consultoria, Fabiano Tito Rosa, não há perspectiva em curto prazo de aumento no preço do boi gordo. "Isso só deve ocorrer na entressafra, nos meses de junho e julho. E mesmo assim vai depender do clima", afirmou.

Na época de chuvas há maior disponibilidade de boi no mercado, resultado da oferta de pastagens. Apenas no meio do ano, na estiagem, começa a entressafra, época em que há alguma possibilidade do preço subir e do criador recuperar parte de sua margem. "Mas a valorização do dólar e a baixa no mercado interno podem continuar segurando os preços", afirma Rosa. "Há ainda a questão cambial, que tem reduzido as margens dos exportadores, o que diminui a possibilidade dos frigoríficos de repassarem reajustes".

Segundo Rosa, a queda do preço do boi começou no fim do ano passado, principalmente com o caso do frigorífico Margen, que teve os bens confiscados ficou impedido de operar. Com isso aumentou a oferta de boi para os outros frigoríficos que, para derrubarem o preço, diminuíram o volume abatido.

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