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Preços e ações dos maiores frigoríficos sobem com gripe aviária


A gripe aviária na Ásia já tem dois impactos bem concretos para o setor exportador de carne de frango nacional: as ações dos maiores frigoríficos registram forte valorização na Bovespa e os preços de venda do produto, principalmente para o Japão, subiram entre 20% e 30%.

Tanto as ações quanto os preços já vinham influenciados positivamente pela descoberta de um caso de "vaca louca" nos Estados Unidos no dia 23 de dezembro passado, que levou o Japão a proibir a importação de carne bovina americana. Mas o verdadeiro empurrão aconteceu na semana passada quando Japão e União Européia suspenderam as compras de carne de frango da Tailândia, um dos principais concorrentes do Brasil no mercado mundial. Essas decisões vieram antes mesmo que a Tailândia confirmasse, na sexta-feira, a existência do vírus em seu plantel de aves, após vários dias de negativas oficiais.

Foi o que bastou para as ações dos frigoríficos dispararem. Ontem, os papéis PN da Sadia subiram 6,99%, os da Perdigão, 4,62% e os da Seara, 6,63%. Desde 23 de dezembro, a alta é de 30,2%, 42,93% e 34,92%, respectivamente, segundo o Valor Data.

Na opinião de Daniel Pasquale, analista do Fator Dória, o movimento de alta das ações é sustentável, já que a saída temporária da Tailândia do mercado mundial abre espaço para o produto brasileiro e deve levar a uma alta dos preços de exportação. "No fim de 2003, todo mundo trabalhava com um cenário de consolidação para 2004 e não havia expectativa de aumento de volumes e preços", observa. Com os últimos acontecimentos, o quadro mudou.

Basílio Ramalho, analista do Unibanco , acrescenta que, no começo deste ano, o quadro era "nebuloso" por causa do sistema de cotas imposto pela Rússia para carnes (ver matéria ao lado). Agora, não há dúvida de que o Brasil irá se beneficiar, diz. Isso explica a aposta dos investidores nas ações dos frigoríficos.

Ele pondera que é preciso saber a extensão do problema na Tailândia, mas avalia que as exportações brasileiras de carne de frango têm espaço para crescer em quase todo o primeiro semestre. Para Pasquale, do Fator, dentre os frigoríficos exportadores, as ações da Seara são as que têm o maior potencial de valorização porque a empresa está mais exposta ao mercado externo.

Assim como os investidores, os exportadores estão otimistas, mas não fazem previsões de médio e longo prazos já que a duração do embargo à Tailândia é desconhecida. "No curto prazo, o setor vai se beneficiar, mas ainda não se sabe como será no médio e longo prazos", diz Júlio Cardoso, presidente da Abef (reúne exportadores). Para ele, que também preside a Seara, dependendo do cenário, o Brasil terá espaço para consolidar sua posição como um "grande fornecedor confiável" no mercado internacional.

É nisso que aposto Hélio Schor, gerente de exportação da Copacol, cooperativa paranaense que exporta, em média, 1 mil toneladas de frango para o Japão por mês. Segundo ele, depois do surgimento da "vaca louca" nos EUA, o preço de exportação da tonelada da coxa de frango sem osso para o Japão saiu de US$ 1.500 para US$ 1.800. Hoje, o mercado já negocia preços 20% maiores. "Acredito que o mercado ficará acima de US$ 2.300", diz. Apesar de otimista, ele pondera que, num primeiro momento o consumo de frango pode cair no Japão porque a população está "assustada". Segundo a Lar, outra cooperativa exportadora do Paraná, desde o início do ano, os preços médios da coxa e do peito subiram US$ 250 na exportação.

Além da Tailândia, registraram casos de gripe aviária: Japão, Taiwan, Vietnã, Camboja, Coréia do Sul, Paquistão e Indonésia. Na Tailândia, uma pessoa morreu em decorrência da enfermidade. No Vietnã, foram seis mortes até agora.

Com a confirmação do vírus na Tailândia, analistas do setor passaram a questionar a conduta do governo do país, que teria tentado esconder a doença para evitar uma avalanche de embargos. Fontes que já estiveram no país afirmam que há duas aviculturas na Tailândia: uma de exportação, com controle sanitário rigoroso, e outra de "fundo de quintal", de controle mais difícil.

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