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Principal estrada do Mato Grosso compromete atividade agrícola


Passados pouco mais de 80 quilômetros no caminho da capital Cuiabá para o norte do Mato Grosso - o novo eldorado da produção de grãos do país -, o pesado tráfego pára. Na frente, duas carretas estão tombadas, espalhando 80 toneladas de soja pelo chão em mais um acidente na BR-163. Foi o quarto nas últimas 24 horas, e um motorista morreu.

Uma via esburacada de mão dupla e fluxo intenso, a principal estrada do Mato Grosso, maior produtor de soja e algodão do Brasil e um dos maiores de milho, não comporta mais a crescente demanda de carretas, caminhões, ônibus e carros de passeio. "A estrada é péssima e estreita, o movimento é muito grande e sempre tem um ou outro que não respeita a sinalização. Dá nisso", disse Dirceu Barbosa, funcionário da Inlog, uma empresa de logística responsável por parte da carga que ficou espalhada na rodovia.

O valor de mercado das 80 toneladas de soja é de 57,6 mil reais. Cada um dos caminhões, que ficaram parcialmente destruídos, custam cerca de 150 mil reais. Tanto a carga quanto os veículos são seguradas, mas as perdas são irreparáveis.

A BR-163 ficou ainda pior neste ano, devido ao elevado volume de chuva que caiu sobre a região em janeiro e fevereiro. As viagens dos caminhões estão mais lentas, com fretes elevados - o que contribui de forma direta para o crescente aumento dos custos de produção, reduzindo a renda do produtor.

Parado na fila de cerca de 15 quilômetros que se formou enquanto a estrada não era liberada, o motorista de caminhão Marcolino José Sales diz que no ano passado já levava sete horas para lecar a carga até Cuiabá. Neste ano, está gastando 11 horas.

"Tem lugar que não dá nem para desviar dos buracos. Tem que reduzir bastante a velocidade e passar dentro deles, porque não tem mais estrada", afirmou, mostrando um pneu de 900 reais que foi perdido após se partir em um buraco. Pela falta de linhas ferroviárias, cerca de 70 por cento do transporte da safra agrícola brasileira ainda é feito por caminhões.

O produtor Wladimir Fragão, que tem uma fazenda no município de Tabaporã, 661 quilômetros ao norte de Cuiabá, onde para se chegar é necessário enfrentar os piores trechos da BR-163, muitas horas de estrada. "Quando digo onde estou localizado eles desistem. Dizem que não vão conseguir alguém disposto a encarar o transporte do produto" - explica.

Fragão diz que uma das alternativas buscadas no Estado para melhorar as vias de escoamento foi a formação de consórcios dos produtores com o governo local. "Para cada real que o Estado coloca no projeto, nós colocamos outro. É meio a meio, porque também é do nosso interesse", afirmou.

Mas a iniciativa abrange apenas vias estaduais, ou seja, a BR-163 está fora do projeto. O governo federal incluiu a recuperação da rodovia na lista de prioridades da PPP (Parcerias Público-Privadas), ferramenta com a qual o governo pretende elevar os investimentos em infra-estrutura no país. Mas a implementação do programa está atrasada.

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