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Produção de trigo perto do recorde histórico

Aumento da área plantada no PR foi de 36%, passando de 830 mil para 1,12 milhão de hectares


O Paraná pode chegar perto do recorde de produção de trigo nesta safra. A estimativa do Departamento de Economia Rural (Deral), do governo do Estado, é que sejam colhidos cerca de três milhões de toneladas, quase 50% a mais que na safra passada.

O melhor resultado do Estado foi obtido na safra 2002/2003, quando a produção atingiu 3,12 milhões de toneladas. Perto de 1,5% do cereal plantado começou a ser colhido nesta semana em regiões como Campo Mourão, Cascavel e Francisco Beltrão, porém, o trabalho mais intenso deve ocorrer em setembro. A expectativa agora é que o tempo firme para não prejudicar a qualidade dos grãos.

O crescimento da produção no Paraná este ano está baseado em um aumento de 36% na área plantada, passando de 830 mil hectares para 1,12 milhão de hectares. De acordo com a engenheira agrônoma Margorete Demarchi, do Deral, 80% das lavouras do Estado são consideradas boas, o que pode refletir em uma safra cheia.

A estiagem que marcou o mês de julho não chegou a afetar a cultura, já que o orvalho da manhã compensou o déficit hídrico. No entanto, as fortes chuvas registradas no interior do Estado semana passada, bom como a possibilidade de geadas, deixaram os produtores em alerta. Isso porque 61% das lavouras estão nas fases de floração e frutificação, momentos considerados suscetíveis a mudanças bruscas do clima.

“Não temos informação de frente fria mais séria, porém, a cultura não está fora de risco”, comenta Margorete. Ela lembra que as geadas do mês de junho provocaram perdas de 20% no milho safrinha.

Preços

Mas não é só o tempo que tem deixado os produtos apreensivos. Muitos apostaram no trigo em um momento de preços recordes, e agora o produto tem mantido quedas elevadas.

O assessor técnico e econômico da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), Robson Mafioletti, lembra que há cerca de três meses o trigo chegou a ser cotado a R$ 41,42 a saca, e semana passada no Estado o preço médio foi de R$ 32. “A tendência é que os preços caiam ainda mais, chegando ao preço mínimo de R$ 28,80”, comenta.

Setor vive empecilho diante dos altos custos do transporte
O aumento produtivo, que deveria significar um alívio para o País, com consumo interno superior a 10 milhões de toneladas, pode se transformar em um problema se questões relacionadas ao escoamento da produção não forem resolvidas.

Na avaliação de Robson Mafioletti, da Ocepar, a logística é o maior empecilho que o setor atravessa. Cerca de 95% da produção de trigo está concentrada no Sul do Brasil, e o custo para transportar o cereal para outros estados é muito alto.

“Agora não se pode vender porque os moinhos não têm condições de estocar o produto. No entanto, o produtor precisa vender porque necessita de dinheiro para a safra de verão”, explica.

A produção acumulada de trigo no Brasil, entre 2000 e 2007, atingiu 29,2 milhões de toneladas, número suficiente para atender a 36% da demanda pelo cereal, que no mesmo período foi de quase 82 milhões de toneladas.

Para suprir o abastecimento, o Brasil importou 52 milhões de toneladas, o que representou um custo de US$ 7,8 bilhões. Nesta safra, o Rio Grande do Sul deve exportar boa parte da produção.

“Isso parece até um contra-senso, pois somos um país importador do produto”, ressalta Mafioletti. Na avaliação do representante das cooperativas, o governo precisaria garantir o estoque do produto. Além disso, disponibilizar financiamentos para a indústria ter condições de receber e ir consumindo ao longo do ano. “Dessa forma daria mais liquidez para o mercado”, finaliza.

Commodity foi aposta em âmbito mundial

O crescimento na produção de trigo é fenômeno registrado mundialmente, com aumento produtivo de 53,5%, passando de 610 milhões de toneladas em 2006 para 664 milhões em 2008. Da safra mundial, somente o Paraná responde por 0,8%.

No Brasil, motivados pela valorização da commodity no mercado internacional, os produtores deverão colher a maior safra dos últimos três anos. A estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) é atingir 5,28 milhões de toneladas, um aumento de 38% em relação a 2007.

Mesmo assim, o produtor Roberto Arnaldo Bührer, de Ponta Grossa, admite frustração com a lavoura que ainda está no campo por causa de queda de preço. Da área de 280 hectares cultivados, ele espera colher no mínimo três mil quilos/hectare.

“Isso não cobre o custo”, calcula. Bührer resolveu investir no trigo depois de duas safras sem plantar o grão, apostando no preço. “Depois que a Argentina liberou as exportações, o preço caiu imediatamente”, diz o produtor.

O custo da produção também foi outro fator que desanimou os agricultores. Dados do Deral apontam que, em maio de 2007, o custo variável da lavoura era de R$ 25,63 por saca.

No mesmo período deste ano, chegou a R$ 32,76, uma alta de 27,5%. Só os fertilizantes responderam por 26,5% do custo de produção nesta safra, contra 21% no ano passado. E isso pode ser ainda mais danoso para a cultura, pois muitos produtores podem optar por reduzir o uso dos fertilizantes, refletindo na produtividade.

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