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Produção intensiva, promessa de renda em dobro

A terra deixa de ser revolvida no sistema de integração


Para especialistas, falta colocar sistema de integração lavoura-pecuária-floresta em prática, começando por treinamento de agrônomos e técnicos agrícolas

Maringá - A integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) pode dobrar a renda das propriedades agrícolas do Para­­­­ná. A avaliação é consenso entre os técnicos de organizações como Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embra­­­pa) e cooperativas agropecuárias, que discutem formas de colocar o sistema em prática.

Os desafios da agricultura de alta performance reuniram 150 especialistas, executivos e agricultores no Ciclo de Palestras Gazeta do Povo realizado sábado na Expoingá, em Maringá. Eles avaliaram que há indícios suficientes das vantagens do sistema para ampla difusão da tecnologia.

Os especialistas que acompanham as diversas formas de produção intensiva estimam que o estado cultiva atualmente 400 mil hectares usando o ILPF. A área é considerada pequena. Só na região do Arenito Caiuá, existem 2 mi­­­lhões de hectares subaproveitados que poderiam render uma safra de grãos no verão e continuar servindo para a criação de gado no inverno, aponta o agrônomo da cooperativa Cocamar Antônio Sacoman, especialista no assunto.

O sistema de produção intensiva é considerado adequado também para regiões com solos mais ricos, que alcançam boa produtividade de grãos. Áreas que durante o inverno são pouco aproveitadas podem ser usadas na produção de alimento para o gado, aponta o pesquisador Sérgio Alves, do Iapar.

Tanto no Arenito como nas de­­­­mais regiões, o ILPF exige investimento na adubação das pastagens, em estrutura para confina­­­men­­­to ou semiconfinamento do gado e na gestão da propriedade. Por outro lado, os custos com adubação da soja e do milho tendem a cair.

Os investimentos em tecnologia são indispensáves para o au­­­mento da produção, defende o assessor técnico do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abasteci­­mento (Mapa) Derli Dossa. Nos últimos 50 anos, a produção de grãos por hectare passou de 800 para 3 mil quilos (+ 26%), aponta. A área cultivada, por sua vez, foi ampliada de 22 milhões para 47 milhões de hectares (+46%).

“Se não fossem adotadas novas tecnologias, teríamos de cultivar 150 milhões de hectares a mais atualmente para que a produção chegasse aos 157 milhões de toneladas de grãos de 2010/11”, pontua. Em sua avaliação, o ILPF é um novo passo nesse sentido e permite a redução da emissão de gases apontados como causa das mudanças climáticas por evitar o revolvimento do solo.

Impasse técnico

Durante o debate realizado na Expoingá, os especialistas apontaram a falta de assistência técnica como um dos principais entraves à expansão do ILPF. Boa parte dos produtores desconhece o sistema e os agrônomos e técnicos agrícolas precisam de treinamento para orientar o setor, disse Sérgio Alves.

Os representantes das cooperativas relataram que seu corpo técnico vem sendo preparado para assumir a tarefa de divulgar o sistema. Não faltam exemplos a serem tomados como referência. Fazen­­­das convertidas à ILPF obtêm resultados dobrados no Paraná, em Mato Grosso do Sul, Minas Ge­­­rais, Goiás e Mato Grosso, citaram o pesquisadores.

No Paraná, um exemplo é a Fazenta Santa Helena, de Cafeara (Norte), que tem 800 hectares e adota a integração desde a década de 1990. O agrônomo e produtor Paulo Guerra atua na produção de grãos, pecuária e produção de seringueiras. Metade da área é usada na integração lavoura-pecuária e alimenta 800 animais. Apesar de estar numa região de solos pouco férteis, a produtividade de soja passa de 3 mil quilos por hectare.

O produtor Roberto de Oliveira, que explora a integração lavoura-pecuária em Maracaju (MS), relata que a produção de carne e grãos amplia o trabalho dentro da porteira. As decisões sobre o tamanho da área de cada cultura passam a depender de um sistema mais complexo e de avaliações que consideram clima, mercado e viabilidade agronômica. Na Fazenda Paquetá, de Dourados (MS), a integração permitiu a elevação do número de cabeças de gado de 5 mil para 16 mil, mostrou João Kluthcouski, da Embrapa.

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