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Produção recorde de grãos exige cuidados no armazenamento

Há 13 milhões de toneladas de milho estocadas; um dos maiores volumes da história, o cuidado deve ser redobrado com o armazenamento


Em meio à uma safra recorde de grãos e aumento também dos estoques de passagem da Conab (Companhia Nacional do Abastecimento) – há 13 milhões de toneladas de milho estocadas; um dos maiores volumes da história – o cuidado deve ser redobrado com o armazenamento. Temperatura, umidade, microorganismos, insetos e roedores são algumas das influências sobre os grãos mantidos em armazenagem, estratégia fundamental para o produtor ganhar fôlego e ter munição frente às oscilações do mercado.

“É fundamental que a qualidade dos grãos armazenados seja preservada, mantendo-os sadios, limpos e livres de resíduos”, reforça Jamilton Pereira dos Santos, pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo (Sete Lagoas-MG) na área de pós-colheita. Segundo ele, o produtor deve estar atento ao combate de pragas e atuar na prevenção de fungos no armazenamento do milho em silos e em graneleiros. Os dois fatores são responsáveis por perdas de peso que podem chegar a 2% do volume estocado.

Para o agricultor familiar, que utiliza o paiol rústico de madeira na maioria das vezes, as perdas são maiores. “No armazenamento do milho em espiga, as perdas de peso causadas por insetos e roedores podem chegar a 15%. Uma saída é a utilização de estruturas tecnicamente adequadas, como o paiol balaio de milho”, explica o pesquisador. Ainda segundo ele os insetos constituem o principal fator de perdas durante a armazenagem, provocando danos futuros, como perda do poder germinativo e do vigor da semente. Leia aqui uma circular técnica sobre o assunto.

Grãos contaminados podem afetar o homem

Além das perdas econômicas, o principal problema está na proliferação de fungos patogênicos durante todos as fases de produção e armazenagem, que podem contaminar animais e seres humanos. A presença de micotoxinas nos grãos, substâncias químicas tóxicas produzidas por fungos, pode provocar consequências negativas no crescimento e reprodução dos animais, além de provocar a morte em situações mais graves. “Leite, ovos e carnes podem estar contaminados e levar essa situação ao homem, provocando sérios problemas de saúde”, explica Vildes Scussel (foto acima; crédito: Karina Yamada), pesquisadora do Departamento de Ciência e Tecnologia de Alimentos da Universidade Federal de Santa Catarina.

Segundo ela, as principais micotoxinas em milho e sorgo são as aflatoxinas, ocratoxinas, ácido ciclopiazônico e as fumonisinas. O desenvolvimento destas toxinas pode ocorrer tanto no campo quanto em situações de armazenagem. De acordo com a pesquisadora, os grãos armazenados em silos, por exemplo, estão sujeitos à ocorrência de condensação na própria estrutura, o que pode causar gotejamento nos grãos e propiciar o desenvolvimento dos esporos dos fungos e a formação das micotoxinas.

Tecnologias eficientes para secagem, ventilação e refrigeração, além da busca por cultivares resistentes, que possuem grãos com pericarpo mais rígido, inibindo a ação de fungos e insetos, são soluções apontadas por ela para reduzir a proliferação de fungos e a consequente contaminação. “O próprio milho Bt, resistente ao ataque de insetos, tem-se mostrado eficiente também contra a manifestação de determinados fungos, como os da espécie Fusarium”, continua Scussel.

TOXICIDADE – Entre as toxinas mais tóxicas para animais e seres humanos, a pesquisadora alerta para a presença das aflatoxinas. Quando verificadas em rações produzidas a partir de milho contaminado, estas substâncias podem causar quedas na produção de aves poedeiras, já que a casca dos ovos perdem a resistência. Em humanos, há associações entre a incidência de câncer e a presença de aflatoxinas na dieta alimentar, além de estas substâncias afetarem diversos órgãos, como fígado, rim, baço e pâncreas.

Estudos realizados na Índia, segundo a pesquisadora, mostraram que durante a ocorrência de uma epidemia de icterícia onde 106 pessoas morreram, foram encontradas altas concentrações de aflatoxinas nos pacientes. Vildes Scussel ainda chama a atenção para os problemas de saúde provocados pela alta concentração das fumonisinas em alimentos derivados do milho, que também possuem propriedades carcinogênicas. No Brasil, segundo a pesquisadora, há incidência da presença das fumonisinas – ainda que em níveis baixos – no milho produzido e armazenado em diversos estados, como Paraná, Santa Catarina e em estados da região Sudeste.

A ausência de fiscalização contínua e de legislação adequada para controle das micotoxinas são entraves que ainda devem ser solucionados no país. O que está em jogo é a segurança alimentar de toda a população brasileira. Mais informações podem ser obtidas junto à Área de Comunicação Empresarial (ACE) da Embrapa Milho e Sorgo, Unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento: (31) 3027-1223 ou [email protected]

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