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Produtividade é o foco nos defensivos agrícolas

Empresas perceberam que o efeito fisiológico aumenta a produtividade nas lavouras


Uma descoberta acidental quanto a efeitos de defensivos agrícolas sobre as plantas está mudando o foco da pesquisa e desenvolvimento do setor na busca pelo diferencial competitivo contra os produtos genéricos. Basf, Bayer CropScience e Syngenta perceberam que alguns de seus agroquímicos geram um efeito fisiológico de aumento de produtividade e agora buscam novos princípios ativos com a característica.

O diferencial levou a Basf a criar uma nova marca global - lançada primeiro no Brasil - para os fungicidas que já trazem o efeito fisiológico e está pesquisando um inseticida que pode ter a propriedade. A Bayer já comprovou o efeito em uma linha de inseticidas e está preparando o lançamento comercial, em breve, de defensivos com novas moléculas que aumentem a produtividade da planta, independentemente da proteção contra pragas.

A Syngenta possui tanto inseticidas como fungicidas que atuam também nessa linha, mas está receosa de uma possível deturpação da função primeira dos defensivos caso faça uma divulgação maciça de suas novas propriedades. De todo modo, dentro de um a dois anos a companhia suíça terá no mercado novas moléculas contra pragas que agem também na fisiologia.

"Trata-se de uma mudança de paradigma em curso na indústria mundial de defensivos: cada vez mais, as empresas tendem a desenvolver produtos preventivos, e não curativos, para as doenças e as pragas", explica o fisiologista vegetal Elmar Floss, professor da Universidade de Passo Fundo (RS).

Basicamente, o efeito fisiológico é conseguido com a melhor assimilação de nutrientes e com o aumento da resistência a estresses relacionados a secas, chuvas, frio ou calor intensos, por exemplo. Além de proteger a planta de fungos ou insetos, os produtos agem sobre a fisiologia da planta (produção de enzimas, hormônios, fotossíntese etc.), elevando a produtividade em até 15%, segundo as pesquisas concluídas até agora.

"Há uma forte pressão dos produtos genéricos e queremos mostrar que o resultado final compensa" a diferença de preço, diz o gerente de promoção para agricultura da Basf, Roberto Araújo. A filial brasileira da companhia alemã investiu R$ 4 milhões no desenvolvimento e na comunicação da marca AgCelence, que congrega os produtos da empresa com efeito fisiológico.

Há dois anos, a Bayer comprovou que uma linha de inseticidas melhorava a produtividade mesmo onde não havia insetos e decidiu criar o selo Força Anti-Stress para esses produtos. "Esse efeito extra é o aspecto que valoriza o produto, e vamos preferir os novos produtos que tenham efeito fisiológico", conta o gerente de Inseticidas da Bayer, Mauro Alberton.

Agora, a Bayer está desenvolvendo novas moléculas em seus laboratórios mundiais e, no Brasil, pesquisando novos efeitos fisiológicos para os princípios ativos já existentes. Com o mesmo objetivo, a Basf mantém um programa de incentivo e premiação para pesquisadores estudarem seus produtos. Neste ano foram 66 trabalhos. A Syngenta tenta agora obter resultados científicos também sobre o efeito fisiológico de um inseticida para a cana.

"Nós temos diversos produtos com efeito fisiológico, mas nunca trabalhamos isso da maneira maciça como a concorrência começa a fazer", diz o gerente de Suporte Técnico da Syngenta, José Erasmo Soares. O que a empresa quer evitar é que a propaganda do efeito fisiológico possa levar ao mau uso dos produtos.

Alberton, da Bayer, faz coro: "Se o agricultor vê a propaganda e não tem a explicação, pode ser negativo". A Basf investe pesado na propaganda do novo conceito AgCelence, mas também alega que o foco dos defensivos continua sendo a proteção.

A Basf já alterou o registro de sua linha de fungicidas junto ao Ministério da Agricultura para incluir na bula a indicação de que o produto gera efeitos fisiológicos. Já a Bayer diz que não pensa em solicitar a mudança e a Syngenta estuda se mudará seu posicionamento e entrará com o pedido.

O novo foco de pesquisa e desenvolvimento do setor está elevando o patamar do Brasil nas estratégias de pesquisa e desenvolvimento. Segundo o pesquisador Floss, a Alemanha pesquisa os efeitos fisiológicos nas culturas de inverno, os Estados Unidos estão focados no milho e o Brasil lidera nas pesquisas sobre os impactos em culturas tropicais e na soja. "Estamos em uma boa situação", comemora o especialista.

Foi aqui que a Basf percebeu o efeito fisiológico da linha de fungicidas, em 2002, devido ao grande consumo contra a ferrugem asiática da soja. "O Brasil lidera esse processo de pesquisa na Basf, com duas estações experimentais. Trata-se de um novo foco estratégico de pesquisa e de comunicação", ressalta Soares.

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