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Produtor de grãos parou de investir em tecnologia

Nos últimos quatro anos os produtores não conseguiram aumentar a área de cultivo


Nos últimos quatro anos, o agricultor Nelson Schreiner, de 68 anos, tradicional produtor de grãos do sudoeste de São Paulo, não conseguia aumentar a área de cultivo nem investir em tecnologia, como sempre fez, “Foram 4 anos de paradeira. Dou graças por ter conseguido manter o que já tinha.”

Ele não desanima e espera anos melhores; Pioneiro em plantio direto na região, cuidadoso com as condições do solo, Schreiner manteve altos índices de produtividade mesmo nos períodos mais críticos. Ele cultiva cerca de 900 hectares de grãos numa área de solo com fertilidade entre média e boa. O problema, conta, foram os preços, “Não adianta produzir bem, se na hora de vender o preço está lá embaixo.” Na safra passada, por exemplo, ele teve boa produção de soja, mas não conseguiu mais do que R$ 32 pela saca de 60 quilos. Em 2003, a soja foi vendida a R$ 48 a saca. No milho, com preço muito baixo, só não teve prejuízo por causa da produtividade alta e porque vendeu na hora certa. No balanço da produção, o trigo, a cerca de R$ 500 a tonelada, salvou a lavoura. “Tive sorte, pois choveu na hora certa e quase ninguém produziu.” Como produz commodities, torce pela alta do dólar ante o real.

Este ano, não sobrou dinheiro para repor as máquinas mais antigas. O último investimento, a construção de um conjunto de silos, foi feito com o lucro da safra 2002/03. Uma parte foi financiada e ele ainda está pagando o saldo com juros de 8% ao ano. Agricultor desde criança, Schreiner lamenta a situação de muitos colegas que venderam o sítio ou arrendaram as terras para o cultivo da cana-de-açúcar. “A cana vai avançando. O agricultor acaba cedendo, pois as usinas pagam entre R$ 1 mil e R$ 1,2 mil por alqueire (2,42 hectares) de arrendamento.” Também lastima o fechamento de fábricas de máquinas agrícolas. Uma delas, que atende a região, dispensou mais de mil funcionários. “Eles vendiam 30 plantadeiras por mês. Agora, se vendem, é uma ou duas.”

Para Schreiner, esta é a pior crise da agricultura desde 1958, quando iniciou os cultivos na região. Mas ele começa a enxergar “alguma luz” no fim do túnel. Ele contempla as roças de milho ainda verdes na fazenda e se anima. “A chuva ajudou, e tudo indica que a produção vai ser boa”.

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