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Produtores argentinos não se animam com elevação mundial de preço do trigo

O país adota uma política que limita as exportações


O aumento do preço do trigo no mercado internacional, que já vinha em ascensão e se intensificou na semana passada devido à suspensão russa da exportação do grão, não animou o setor agrícola argentino, segundo a Confederação de Associações Rurais de Buenos Aires e La Pampa (Carbap).

A Argentina, que já ocupou o posto de quinto maior exportador do cereal, seria um dos países com potencial para abastecer mercados que dependem das exportações russas. Mas, para garantir a segurança alimentar, o país adota uma política que limita as exportações. As estimativas para a safra de 2010-2011 são de colheita de 12 milhões de toneladas de trigo, se os índices pluviais atuais nas áreas produtivas se mantiverem. Até o momento, o governo autorizou que 3 milhões de toneladas sejam destinadas ao mercado externo.

O setor afirma que a existência da quota e os impostos de 23% sobre o valor do trigo impedem que o país ganhe mercados que ficarão sem o trigo russo.

Alberto Larrañaga, secretário da Carbap, afirma que o aumento do preço no mercado internacional não é repassado ao agricultor e que se beneficiam da situação as grandes empresas exportadoras e os moendeiros do país. “O agricultor está desmotivado porque não tem sinais suficientes de que poderá vender sua colheita devido às limitações às exportações e aos impostos estabelecidos pelo governo”, diz ele.

O economista chefe do Instituto de Estudos Econômicos da Bolsa de Cereais de Buenos Aires, Ramiro Costa, concorda que os agricultores do cereal vivem um momento de descontentamento, mesmo com a alta cotação do trigo. “Com as exportações fechadas, os moinhos têm a sua disposição mais do que necessitam para abastecer o mercado interno e, com a oferta maior que a demanda, o valor pago ao produtor é ainda menor.”

Mariano Otamendi, que integra a comissão diretora da Associação Argentina Pró-Trigo, também defende uma política mais liberal para o setor: “Estamos falhando com mercados como o Brasil, com quem temos acordos de abastecimento.”

A fase de semeadura, que teve início em maio, já está concluída nas províncias de Córdoba, Santa Fé e norte de Buenos Aires, as principais regiões produtoras do cereal. No sul de Buenos Aires ainda existe alguma possibilidade de aumentar a área de cultivo.

“A notícia russa foi inesperada e provocou um aumento não previsto nos preços. Temos que comprovar quanto será efetivamente produzido, porque muitos fatores influenciam o período de crescimento e desenvolvimento da colheita. Em função dos acordos comerciais, a maior parte será exportada ao Brasil e tentaremos vender os excedentes a outros mercados”, explica Oscar Solis, subsecretário de agricultura do Ministério de Agricultura, Criação de Gado e Pesca da Argentina.

Proteção do mercado interno

Para o governo, os impostos aos agricultores são uma medida do governo para conter a subida dos preços dos derivados das commodities no abastecimento interno. Quando o trigo encarece, esta arrecadação sobre o preço de venda restitui a diferença paga pelos moendeiros na compra da matéria-prima.

“Com esta equação, temos recursos para compensar o aumento dos preços, sustentando valores acima do estipulado pelo governo de quanto pode ser passado ao consumidor”, defende o subsecretário.

Entre os temores alimentados pela escassez mundial de trigo, o mais preocupante é o possível aumento do preço do pão. Esta relação, no entanto, é desmentida por Larrañaga. “A este preço os moendeiros fazem seus negócios normalmente, porque ainda está longe dos aumentos recordes internacionais. Além disso, a farinha de trigo incide pouco no preço do pão, já que é apenas um dos ingredientes, e se somam outros fatores, como custo de mão de obra e eletricidade utilizadas”, relativiza. “Mas, para se prevenir, os padeiros aumentam os preços antes mesmo de saber se a farinha vai realmente encarecer”.

Quanto às reclamações dos agricultores, o subsecretário afirma: “As retenções sobre o valor de venda sempre geram queixas. Mas temos que considerar o câmbio atual do peso argentino, que é competitivo para a atividade e permite que o governo distribua parte deste rendimento entre outros setores. Nós, como produtores, vamos receber mais pelo preço do trigo no mercado futuro e claro que vamos nos beneficiar. Se a mudança no cenário internacional tivesse acontecido há dois meses, talvez o cenário pudesse ser ainda melhor.”

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