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Produtores celebram obrigação de mandioca; panificadores reclamam

As indústrias de trigo e panificação dizem que o preço final do produto não cairá, mesmo com incentivos fiscais; já produtores de mandioca dizem que proporcionará economia com a redução das importações de trigo


Após a votação simbólica no Senado de projeto de lei que obriga fornecedores de pães, biscoitos e massas de órgãos públicos a adicionar até 10% de algum derivado de mandioca ao trigo, cada setor alimentício vendeu ontem o seu peixe, ou melhor, seu pão.

As indústrias de trigo e panificação dizem que o preço final do produto não cairá, mesmo com incentivos fiscais; já produtores de mandioca argumentam que a medida, se sancionada pelo presidente Lula, proporcionará economia com a redução das importações de trigo.

Os moinhos que fizerem a mistura não vão pagar a Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins) nem o PIS-Pasep. A Associação Brasileira dos Produtores de Amido de Mandioca afirmou que os produtos ficarão mais leves e claros. O presidente Ivo Pierin Júnior disse que a lei servirá de estímulo à produção e consumo de derivados de mandioca. "Além disso, contribuirá para reduzir a forte dependência que o Brasil tem do trigo estrangeiro", destacou.

O vice-presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Massas Alimentícias, Alexandre Colombo, no entanto, afirmou ser impossível fabricar biscoito e macarrão com mandioca. Ele também informou que as indústrias vão esperar pela sanção ou veto de Lula.

O Sindicato das Indústrias de Panificação e Confeitaria do Município do Rio alerta que a produção da fécula (farinha extra-fina) de mandioca ainda é cara, mas acredita que alguns moinhos mais preparados poderão fabricar a mistura por conta do incentivo, apesar do baixo retorno. Os panificadores ressaltam, porém, que o pão francês com mandioca pode ficar mais escuro e com sabor alterado.

O projeto de lei estabelece que serão adicionados derivados de mandioca à farinha de trigo na proporção de 3% no primeiro ano de vigência da lei. A partir do segundo ano, 6%, percentual que subirá para 10% depois do terceiro ano.

O projeto prevê que toda farinha de trigo a ser vendida a projetos sociais dos governos municipal, estadual e federal deverá ter adição dos derivados de mandioca descritos no documento.

Pouca diferença no sabor
Alheios aos ingredientes da polêmica sobre o projeto de lei, consumidores que experimentaram a massa com a mistura entre 90% de farinha de trigo e 10% de fécula de mandioca não sentiram diferença entre a nova versão do pãozinho e a antiga.

"Sinceramente, não senti a menor diferença. Se eu tivesse que comer esse pão em algum órgão público, não teria o menor problema", disse o autônomo Robson Carlos de Souza, 29 anos, que trabalha vendendo quentinhas e experimentou a nova versão ontem.

"Não tem diferença nem no jeito de fazer. Mas a fécula é mais cara. Talvez a lei faça com que haja mais produção", comentou o padeiro José Severiano Câmara, presidente da Associação dos Industriais da Panificação do Rio. Dono da Padaria Costa Bastos, no Centro, ele alerta que não é tão fácil encontrar a fécula de mandioca. "Os moinhos não trabalham muito com ela", diz o padeiro, que produziu unidades com mandioca a pedido de O Dia.

A nutricionista Cíntia Teixeira Souza e Silva chama a atenção para o fato de que o novo pãozinho pode ter algumas alterações em relação ao convencional: "Ele é mais nutritivo e calórico. Traz mais carboidratos, além de algumas vitaminas. Seria bom para quem precisa comer mais carboidratos, mas quem precisa controlar o peso deve levar isso em conta".

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