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Produtores começam a vender soja gaúcha


A indefinição jurídica a respeito da comercialização da safra de soja gaúcha não está impedindo os produtores e as cooperativas de projetar negócios com a oleaginosa. Além das vendas que serão realizadas a partir da próxima semana com a colheita sendo intensificada, a comercialização no mercado futuro já alcança cerca de 30% da safra estimada em 8,5 milhões de toneladas. "Não há capacidade para manter a safra estocada. É preciso vender e programar especialmente os negócios destinados à comercialização externa", afirma o presidente da Comissão de Grãos da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Jorge Rodrigues.

O analista da corretora Safras & Mercado, Flávio França Júnior, é um pouco mais comedido, e aponta que entre 20% e 25% da safra já está vendida. A maioria desses negócios, explica ele, aconteceu ainda no ano passado, quando o impasse envolvendo a produção transgênica não chamava a atenção. "Mesmo assim, o mercado aponta para vendas diárias de soja no Rio Grande do Sul", observa.

A colheita da oleaginosa já iniciou em algumas localidades da região Noroeste do Estado. De acordo com a Emater, 11% da lavoura já está pronta para ser colhida. A divisão de operação do porto de Rio Grande informa que os primeiros carregamentos de soja devem chegar ao local na metade do mês de abril.

O escoamento da safra gaúcha foi motivo de reunião entre entidades representantes dos produtores ontem, na Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (Fetag). "Não queremos um Medida Provisória que nos traga restrições, como a assinatura de um termo de ajustamento de conduta, proposto pelo governo federal", declara o presidente da Fetag, Ezídio Pinheiro, reafirmando a decisão de venda mesmo sem uma autorização do governo. Através do termo de ajustamento, lembra o dirigente, os produtores se comprometeriam a não semear transgênicos na próxima safra.

Os agricultores dizem que não é possível reconverter a lavoura no próximo ano. Segundo levantamento da Secretaria da Agricultura, existem sementes convencionais registradas apenas para abastecer cerca de 60% da área plantada. O Estado também não tem condições de segregar ou manter armazenada a atual produção. "A nossa atual capacidade de armazenagem funciona com o mercado dinâmico", salienta o presidente da Federação das Cooperativas Agropecuárias (Fecoagro), Rui Polidoro Pinto.

A exportação de toda a safra, sugerida como uma das soluções para o tema, é inviável, aponta Pinheiro. "Ficaríamos sem sementes para o próximo plantio e não teríamos como abastecer nossas indústrias", complementa.

Estado quer ouvir ministros

A Assembléia Legislativa, o governo do Estado e as entidades do setor primário vão convidar o grupo interministerial do governo Lula para uma visita ao Rio Grande do Sul. O objetivo é conhecer a realidade do setor produtivo e o impasse na comercialização da lavoura de soja transgênica. "Queremos evitar a tomada de uma posição unilateral do governo sem que os produtores sejam ouvidos", explica o presidente da Comissão de Agricultura da Assembléia Legislativa, deputado Jerônimo Goergen (PPB).

Safra forma fila de até 112 km em Paranaguá

A fila de caminhões carregados de soja em direção ao Porto de Paranaguá voltou a crescer ontem ocupando até 112 quilômetros. À tarde a Polícia Rodoviária Federal (PRF) informou que os 115 quilômetros da BR-277 estavam tomados. As filas continuavam pelos contornos norte e leste de Curitiba, atendidos pela Polícia Rodoviária Estadual (PRE), somando mais 9 quilômetros. O porto tem operado praticamente 24 horas por dia. Até a manhã de ontem, a grande safra já tinha levado ao Porto de Paranaguá 800 mil toneladas de soja em grão, contra 572 mil toneladas registradas no mesmo período do ano passado.

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