CI

Produtores conhecem novos materiais de trigo irrigado para o Cerrado

Durante Dia de Campo realizado no Plano de Assentamento Dirigido do Distrito Federal, produtores conheceram novas linhagens de trigo irrigado


Durante Dia de Campo realizado no Plano de Assentamento Dirigido do Distrito Federal (PAD-DF) no dia 13 de setembro, produtores do DF e região conheceram novas linhagens de trigo irrigado que serão lançadas como cultivares pela Embrapa até 2015, além de aprenderem sobre a praga Helicoverpa armigera e o manejo da brusone. O evento foi promovido na Fazenda Nativa, do produtor Valdemiro Cenci, numa parceria entre Embrapa Cerrados, Embrapa Trigo (Passo Fundo, RS), COOPA-DF e Emater-DF. Participaram mais de 200 produtores e técnicos, que acompanharam quatro estações técnicas.


Na abertura, o chefe-geral da Embrapa Cerrados, José Roberto Peres, lembrou o pioneirismo da Embrapa no domínio das tecnologias para o trigo no Cerrado – as pesquisas com a cultura na região Centro-Oeste são realizadas desde 1977, em parceria com a Embrapa Trigo. Ele ressaltou a importância do trigo no sistema de produção, na rotação de culturas e na quebra de ciclos de doenças.

Segundo Peres, o futuro do trigo no Brasil está no cultivo tropical, seja irrigado ou sequeiro, mas é preciso haver políticas públicas para viabilizar o beneficiamento dos grãos. “O trigo só é viável se o moinho estiver próximo à lavoura. É preciso convencer a quem decide sobre a necessidade de construir moinhos no Centro-Oeste. O País importa 50% do trigo que consome. Se o dólar sobe, aumenta o preço do trigo, e a população pobre é a que mais sofre”, afirmou.
O presidente da COOPA-DF, Leomar Cenci, destacou a contribuição da Embrapa para a triticultura da região. “Se hoje temos trigo de qualidade, isso se deve à pesquisa da Embrapa, que nos deu condições de produzir aqui. A COOPA-DF depende muito da produção do trigo e queremos mostrar que é uma cultura bem-vinda na agricultura irrigada”. As cultivares BRS 254 e BRS 264, lançadas em 2006 pela Embrapa, são amplamente utilizadas pelos produtores do Cerrado.

Marconi Borges, gerente regional da Emater-DF no PAD-DF, lembrou que o trigo voltou a ter competitividade econômica frente ao feijão. “Dentro do sistema plantio direto, é muito importante ter a cultura do trigo. E este ano, o preço está bastante razoável. O trigo mostra que deve permanecer no sistema de produção e que é uma cultura rentável”, destacou.

Safra – Na estação sobre manejo das cultivares de trigo no Cerrado, o pesquisador Julio Albrecht, da Embrapa Cerrados, acompanhado pelos pesquisadores Jorge Chagas e Márcio Só e Silva (Embrapa Trigo), comentou sobre a safra 2013 de trigo irrigado e as novas cultivares para o Cerrado.

Albrecht destacou que muitos produtores estão colhendo até 120 sacas/hectare de grãos com excelente qualidade industrial com as cultivares BRS 254 e BRS 264 na safra atual. “Foi um ano bastante favorável para o trigo no Cerrado. As plantas tiveram um bom desenvolvimento e o clima contribuiu para isso. Com a quebra da safra no Sul do País, o preço da saca está variando de R$ 50 a R$ 60 no Centro-Oeste, o que representa retorno econômico superior ao da cultura do feijão. Além disso, os moinhos do Brasil Central estão com dificuldades para abastecer-se de trigo, e dependendo das condições climáticas, poderá haver uma quebra de safra ainda maior no Sul, região tradicionalmente produtora de trigo no País, o que favorece a liquidez da produção do trigo do Centro-Oeste”, observou.

O pesquisador lembrou que a menor ocorrência de chuvas e a baixa umidade durante o ciclo de desenvolvimento das plantas levou à baixa incidência da brusone no trigo. “Foi baixa a incidência da doença para quem plantou após o dia primeiro de maio, e isso garantiu maiores produtividades”. Ele acrescentou que o uso de fungicida já no estágio de emborrachamento permite um maior controle da brusone.

No caso das manchas foliares (mancha amarela e mancha marrom), foi observada maior incidência nesta safra, provavelmente devido às temperaturas mais altas que ocorreram este ano durante o ciclo do trigo. “Os produtores devem monitorar diariamente as suas lavouras e fazer aplicações preventivas de fungicidas para o controle dessa doença”, alertou.
A maior densidade de sementes no plantio também levou à produtividade mais alta – as melhores respostas foram com densidades de 200 kg de sementes/hectare para a BRS 264 e 185 kg de sementes/hectare para a BRS 254. O pesquisador chamou a atenção para o correto uso do redutor de crescimento, que teve ser aplicado no estágio de primeiro nó visível na dosagem de 0,5 litro/hectare. “É uma tecnologia barata para quem busca alta produtividade, mas o atraso na aplicação prejudica o desempenho da cultura”, disse.


Sobre manejo de irrigação, ele lembrou que a Embrapa Cerrados disponibiliza na internet as recomendações para irrigar sem causar acamamento das plantas (http://hidro.cpac.embrapa.br). “O manejo correto da irrigação é muito importante, além de ser fácil de ser realizado no caso do trigo, que é uma cultura de 125 dias de ciclo. Mas a deficiência ou o excesso de umidade no solo compromete a produtividade e a qualidade dos grãos”, apontou o pesquisador.

Linhagens – Albrecht apresentou quatro novas linhagens, das quais duas serão lançadas como cultivares com foco na qualidade de grão e na alta produtividade. Em condições experimentais, a produtividade chegou a 10 toneladas/hectare. A força de glúten das linhagens é superior a 250, o que atende aos requisitos da indústria. “Com esses materiais, esperamos de 8,0 a 8,5 toneladas/hectare em nível de produtor”, disse o pesquisador.
As futuras cultivares têm ciclo de 120 a 125 dias, plantas mais baixas que as das cultivares BRS 254 e BRS 264, facilitando o manejo, que deve ser feito sob as mesmas recomendações técnicas. Segundo Albrecht, as maiores produtividades deverão ser alcançadas nos plantios realizados na primeira quinzena de maio. Em termos de tolerância a algumas das principais doenças que afetam a cultura do trigo irrigado, os materiais são um pouco mais tolerantes que a BRS 264 para brusone e um pouco mais tolerantes que a BRS 254 para as manchas foliares.

Ao final da apresentação, os participantes do Dia de Campo percorreram a área onde as quatro linhagens foram plantadas e, a pedido dos pesquisadores, analisaram as características das plantas e votaram nas duas linhagens que mais lhes chamaram a atenção. “Temos sempre a preocupação de atender as demandas do produtor e da indústria moageira. A opinião de vocês é fundamental para a escolha dos materiais a serem lançados”, disse Albrecht. Os materiais serão disponibilizados para os produtores de sementes em 2014, devendo ser lançados no mercado no ano seguinte.

Helicoverpa – Também da Embrapa Cerrados, o pesquisador Alexandre Specht falou sobre a incidência de Helicoverpa armigera e outras espécies de lepidópteros polífagos nas principais culturas do Cerrado, como soja, milho, algodão, e no trigo, já que a cultura é componente de diversos sistemas de produção agrícola no Bioma. Praga identificada no Brasil pela Embrapa em fevereiro deste ano, a H. armigera já causou prejuízos bilionários em lavouras de diferentes regiões do País. “Sabemos que a H. armigera e as outras espécies ocorrem juntas e atacam juntas, migrando de uma cultura para outra. Temos que aprender a monitorá-las e a manejá-las”, afirmou o pesquisador. Ele também falou sobre alguns estudos que estão em andamento, como os sobre o voo dos insetos adultos, a influência do período de seca sobre as populações, a sobrevivência ou não das pupas para a safra seguinte e quais as melhores formas de prevenção e de minimização dos impactos das pragas.

Specht apontou que, como constatado pelos produtores no Oeste da Bahia, a estiagem agravou o problema com a H. armigera. “Aqui (no Centro-Oeste) também choveu menos, então temos que considerar todas as variáveis”, explicou. No caso do trigo, o pesquisador afirmou que ainda não foram constatados danos significativos. “Mas nós vamos acompanhar. Se as populações de H. armigera aumentarem nas outras culturas, a sua pressão poderá ser maior no trigo”, disse.

As demais estações ficaram por conta do engenheiro agrônomo e professor da Universidade Estadual de Londrina, Seiji Igarashi, que falou sobre o manejo da brusone do trigo, e dos representantes das empresas FMC e Satis, que apresentaram produtos para tratamento de doenças na triticultura e para proteção das plantas.

Assine a nossa newsletter e receba nossas notícias e informações direto no seu email

Usamos cookies para armazenar informações sobre como você usa o site para tornar sua experiência personalizada. Leia os nossos Termos de Uso e a Privacidade.