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Programa forma empresários no campo

Antes limitado ao Paraná, projeto que estimula o empreendedorismo no setor rural será levado a mais Estados


Após um bem-sucedido embrião no Paraná, o PER (Programa Empreendedor Rural) começa a ganhar terreno. Está sendo levado, com o apoio da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), para mais 13 Estados e o Distrito Federal.

Fruto de uma parceria entre o Senar (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural), ligado à CNA, e o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), com a participação de entidades locais, o programa busca estimular o empreendedorismo no campo, incentivando a implementação de projetos rurais e ensinando os produtores a avaliar a viabilidade e a sustentabilidade econômico-financeira e ambiental de cada um deles.

O objetivo, segundo um dos idealizadores do programa, o engenheiro agrônomo Fernando Peres, é fomentar uma "visão empresarial" no segmento rural, sobretudo para os pequenos e médios produtores, que mais carecem desse tipo de informação."Não importa se o que a pessoa faz é plantar uva, criar cabras ou explorar o turismo rural. O que ensinamos no programa é como montar um projeto de negócios, se esse projeto é viável e se tem algum futuro", afirma o agrônomo.

O fato de muitas vezes o produtor rural não enxergar o que faz da terra como um empreendimento, diz ele, figura hoje como um problema importante na agricultura de pequeno e médio porte no Brasil. Além de enfrentar uma concorrência geralmente desleal, por exemplo, na hora de negociar com seus fornecedores, esse produtor é um dos responsáveis pela depredação ambiental no campo.

"Ao enxergar o negócio como um empreendimento e avaliar suas condições de viabilidade e sustentabilidade no médio e longo prazos, questões como a proteção e a recuperação do solo passam a ser atributos de maior relevância para esse produtor", afirma Peres.

O Programa Empreendedor Rural é dividido em três etapas distintas. Na primeira, os produtores recebem treinamento sobre a estrutura e o desenvolvimento de um projeto, com base no conhecimento de cada um. É nessa fase que os produtores também aprendem a avaliar a viabilidade e a sustentabilidade de seus projetos no médio e longo prazos.

"O instrutor que está dando o treinamento sabe apenas montar projetos. Capacitação técnica para o produtor rural plantar ou explorar o solo não entram aqui, mas, sim, como montar um negócio viável e como buscar informações para tanto", explica a coordenadora da área de Desenvolvimento e Avaliação do Senar, Patrícia Gomes.

Quem passa nos testes de viabilidade entra para a segunda fase, de implementação efetiva dos projetos. Nesse momento recebe treinamento, por exemplo, sobre como trabalhar em grupos para potencializar as chances de implementação desse projeto, criando uma central de armazenagem comum, organizando grupos para demandar a melhoria de uma estrada local no poder público, entre outros.

A terceira fase se caracteriza pela seleção e pela formação de lideranças, agregando o conceito de "capital social" ao segmento rural. "São pessoas que se destacam como líderes naturais durante as fases anteriores e que recebem treinamento específico para atuarem como líderes, seja na organização de grupos para negociar de maneira conjunta uma produção, para demandar ações ou simplesmente para representar determinada atividade ou região na sociedade", diz Peres.

Entre os mais de 15 mil produtores rurais que receberam treinamento no Paraná, onde o programa vem sendo aplicado desde 2003, há casos como o do empreendedor José Claudimar Borges, de Realeza, que, com base no PER, iniciou um projeto de caprinocultura com aproximadamente 60 animais e, poucos anos depois, contava com uma produção de mais de 500 animais.

Como resultado do treinamento que recebeu nas demais fases do programa, Borges participou ativamente de projeto associativo para criar um condomínio de terminação para receber animais de pequenas propriedades. E ainda do de um frigorífico com linha de abate e sala de processamento, corte e beneficiamento de carnes.

A agricultora Juliana Duarte da Cruz, de Itaúna do Sul, é outro exemplo de empreendedora. Ao passar pela primeira fase do programa, sua família estava prestes a perder a terra por conta de dívidas acumuladas após anos de produção de mandioca em um ambiente de preços desfavorável. Decidiu tocar um novo projeto, de sericultura, e, com a renda obtida, quitou todas as dívidas da família. "Foi no programa que eu comecei e foi por ele que a vida de minha família mudou totalmente", relatou a empreendedora em um evento recente.

Apesar do crescimento que experimentará a partir de agora, com a implementação de projetos pilotos em diversos Estados brasileiros, o Programa Empreendedor Rural também tem as suas limitações. A mais importante delas, segundo os especialistas, refere-se à sua abrangência de atuação, na medida em que exige uma formação escolar mínima dos produtores. Como o grau de escolaridade média no setor rural brasileiro é muito baixo, isso se destaca como um limitador importante. Outro é o elevado custo de formação e treinamento dos instrutores e dos produtores rurais, um trabalho que demanda revisões e reavaliações periódicas.

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