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Projeto de diversificação visa independência dos produtores

Com queda nos contratos de integração, fumicultores buscam outras atividades para sobreviver


Basta um olhar nas últimas três safras para perceber que o número de famílias integradas a empresas do setor fumageiro reduziu juntamente com as áreas plantadas de tabaco. Em 2014, eram 162,4 mil produtores dependentes da cultura, contra 144,3 mil integrados este ano. O número de hectares plantados era de 323,7 mil e agora chegou 271 mil hectares, a menor área desde 1995. Os números são da Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra) e mostram uma nítida adequação de oferta e demanda, influenciada também pelo combate ao tabagismo no País e no mundo.

Muitas famílias são inteiramente dependentes desses contratos e, caso sejam escanteadas do sistema de integração, terão dificuldades para se manter, já que não têm experiência em outras atividades. Uma tendência futura é de que as empresas apostem em produtores de mais escala e eficiência no momento de cumprir com as demandas da indústria.

Pensando nesse cenário preocupante, o Departamento de Estudos Socioeconômicos Rurais (Deser), em parceria com o Instituto de Cooperação da Agricultura Familiar e a Federação dos Trabalhadores da Agricultura Familiar, executa o Projeto de Diversificação da atividade para 1,2 mil famílias no Centro-Sul do Paraná, com auxílio de 15 técnicos em 14 municípios que trabalham com o cultivo do tabaco. Essa chamada pública já foi cumprida pelo Instituto Emater, em 2011, realizada pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) para atender parte dos objetivos da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco (CQCT). No final de 2013, o Deser apresentou uma nova proposta de ação, com o projeto com prazo para finalizar em dezembro de 2017.

Cleimary Zotti é da equipe técnica do Deser e coordenadora do Projeto. Ela explica que a diversificação de forma autônoma é importante, porque à medida que a indústria seleciona os agricultores, os que produzem em menor escala e qualidade perdem espaço, como já aconteceu na cadeia de frangos e suínos. "A indústria do fumo já está se concentrando e aqueles que não conseguem seguir as formas de integração acabam ficando sem atividade. Aí entra a necessidade dessas chamadas públicas".

Há dez anos no trabalho, Cleimary salienta como a cultura do tabaco está impregnada nas famílias e muitos – mesmo já tendo passado por problemas financeiros e de saúde – não acreditam que haja outras alternativas no meio rural. "São muitos anos de integração e não é do dia para noite que conseguiremos mudar isso".

Apesar desse "enraizamento" perigoso com o fumo, os resultados já começam a aparecer. Os produtores apostam em produtos orgânicos, leite, plantas medicinais, criação de galinha caipira, panificação, verduras e acesso a programas como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) para depender menos do tabaco. "Muitos permanecem pela comodidade, pelo pacote completo oferecido pelas empresas. Estamos trabalhando com o processo de resgate de autonomia dessas famílias, que elas sejam donas do próprio nariz e possam realizar outras atividades".

Para a coordenadora do projeto, esse processo é fundamental neste momento, porque no futuro pode ocorrer "de forma forçada", o que dificultará ainda mais a situação. "A indústria tem alguns trabalhos de diversificação das áreas, mas de forma rasa, e o fumo continua sendo o protagonista da propriedade. Nosso objetivo é dar autonomia e qualidade de vida para essas famílias", argumenta.

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