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Projeto Intecral conclui, com sucesso, recuperação de solo no Noroeste Fluminense

Durante dois anos, propriedade de Itaocara recebeu acompanhamento de pesquisadores alemães


Durante dois anos, propriedade de Itaocara recebeu acompanhamento de pesquisadores alemães

Comum nas zonas tropicais, onde o clima quente intensifica o desgaste do solo provocado pelo homem, a erosão é uma ameaça à produção de alimentos e à conservação do meio ambiente. Para combater esse problema, pesquisadores da Universidade de Leipzig, na Alemanha, testaram, com sucesso, novas práticas em uma propriedade rural de Itaocara, no Noroeste Fluminense. O experimento é uma novidade na Região Sudeste e os resultados na recuperação de áreas degradadas são promissores.

No pequeno município distante quase 300 quilômetros da capital, os alemães adotaram uma técnica de bioengenharia já consagrada na Europa, que inclui o terraceamento com mudas – espécies de rampas niveladas – e parcelamento de morro, adaptado no Brasil para áreas de pastagem. O trabalho faz parte do Projeto Intecral, uma cooperação científica entre o Programa Rio Rural, da secretaria estadual de Agricultura do Rio de Janeiro, e o Ministério de Educação e Pesquisa da Alemanha.

- É importante que pequenos produtores tenham acesso a conhecimentos de ponta na agricultura. A parceria valoriza o protagonismo dos agricultores familiares, permitindo a implantação de técnicas avançadas e sustentáveis que melhoram a produção e aumentam a competitividade - ressalta o secretário estadual de Agricultura, Christino Áureo.

Produzir sem destruir

Assim como outros municípios da região, Itaocara é um grande produtor de leite e 85% de sua área é ocupada por pastagens. Em morros, as trilhas formadas pelo gado favorecem a erosão, já que, em terreno pisoteado, o solo fica compactado e exposto, sem vegetação. Nessas condições, a chuva provoca o deslizamento de barrancos.

Além da superlotação bovina, o manejo não sustentável do solo com o uso de tratores que aram de cima para baixo em terrenos muito inclinados – prática proibida por legislação ambiental – agrava a situação. Eram essas as condições do terreno de quase quatro hectares utilizado na pesquisa, que contou com o apoio do escritório da Emater-Rio em Itaocara. O trabalho foi realizado pelo aluno de doutourado Roman Seliger, orientado pelos professores Jürgen Heinrich e Dietmar Sattler, da Universidade de Leipzig. Em menos de dois anos, os resultados são animadores, segundo os alemães.

A técnica de terraceamento agrícola abre caminhos no morro bem mais largos do que os feitos pelos animais. Na propriedade, a extensão total do terraceamento é de mais de meio quilômetro. Vistos de frente, os terraços são como os degraus de uma escada. Em cada um deles, foram plantadas mudas de espécies nativas resistentes à seca, como aroeira, jacarandá de espinho e outras leguminosas. O material foi cedido por meio de uma parceria com a Companhia de Estadual de Águas e Esgoto (Cedae). Quando crescem, as mudas se tornam uma cerca viva (função similar às cercas elétricas), ajudando a controlar a área disponível para o gado. O revezamento dos espaços promove a regeneração do capim, protegendo o solo contra a erosão.

Somado ao parcelamento de morro – de longe é possível perceber a divisão em faixas –, o terraceamento ajuda a conter o escoamento da água da chuva, pois os arbustos da cerca viva ajudam na infiltração da água. Nas áreas mais críticas da propriedade foram construídas cercas com estacas de bambu e eucalipto, procedimento simples e tradicional conhecido como paliçada, que mantém a terra e os sedimentos no terreno, em caso de erosão.

Na fase inicial do projeto, foi usada uma cama de ritrogel, um substância que ajuda a reter a umidade no solo, essencial para a formação da cobertura vegetal.

- A equipe de pesquisa gostou muito do resultado. A maioria das espécies que usamos estão adequadas à região, têm alto valor ecológico, atraem pássaros e ainda podem fornecer sombra para o conforto térmico dos animais. A erosão foi contida - comenta Dietmar Sattler, biólogo responsável pela coordenação do trabalho de recuperação de áreas degradadas.

Paulo César Alves, proprietário do terreno onde a pesquisa foi aplicada, está otimista. - Fiz o sacrifício de deslocar o gado para outra área, mas a recompensa é grandiosa. O capim brota com força e isso deve aumentar a produção de leite. É tão animador que tem vindo pessoas de vários locais impressionadas com a mudança na paisagem - conta.

O supervisor local da Emater-Rio, em Itaocara, José Matias Rocha, lembra que a recuperação das áreas degradadas também colabora para a valorização econômica dos terrenos, pois uma vez que a erosão é contida, o comprador dessas propriedades tem garantia de que terá bastante produtividade.

Segundo Dietmar, a experiência bem sucedida de implantação da técnica no Brasil pode servir de inspiração para outros países que sofrem com níveis graves de erosão, como Índia e Vietnã. O custo com materiais e com a estrutura utilizados na recuperação do terreno foi de R$ 15 mil.

Consequência social da erosão

De acordo com o consultor do Rio Rural, Eiser Felippe, a erosão não é apenas um problema agrícola. Com a escassez de mão de obra no campo, quem cuida de algumas propriedades são os produtores rurais mais antigos. Sem tanta força física e com poucos recursos, eles têm dificuldades para deixar o pasto descansar, pois não possuem área disponível na propriedade para alimentação dos animais. Dessa forma, o solo, já desgastado, vai se tornando cada vez mais fraco e, consequentemente, a produção de leite também encolhe na mesma proporção.

- Sem dinheiro na zona rural, os jovens estão indo para as cidades, adquirindo outras habilidades. Sem perspectivas, mesmo quando os pais morrem, eles não têm motivação para voltar ao campo - conclui Eiser.  

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