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Projeto pretende tirar álcool do bagaço


Estudo da Dedini e Copersucar entra na fase final e pode virar realidade comercial no próximo ano. Desde a década de 80, o engenheiro químico Antônio Geraldo Proença Hilst desenvolve um projeto que, uma vez concretizado, permitirá dobrar a produção nacional de álcool, sem ampliar a área plantada de cana. Além disso, os custos da instalação da nova base industrial poderão ser pagos rapidamente, pelos elevados ganhos de produtividade proporcionados pelo uso do bagaço da cana para se obter álcool na mesma proporção que hoje se alcança com o caldo da cana.

O processo, se comprovada a sua eficiência, é considerado "revolucionário", na definição do diretor do Departamento de Açúcar e Álcool do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) Ângelo Bressan. Permitirá atender à demanda adicional por álcool, que se anuncia diante da preocupação mundial com a preservação do meio-ambiente e com a alta dos preços do petróleo.

A tecnologia DHR (Dedini Hidrólise Rápida) vai a campo já no início da próxima safra, em março. Depois de muitas idas e vindas, pela falta de demanda e de preço atrativo para remunerar os investimentos, o projeto será submetido ao seu teste final. A hipótese de que é possível obter álcool do bagaço da cana a baixo custo e de forma contínua já foi comprovada em laboratório. Uma equipe de 20 pesquisadores trabalha intensivamente, sob o comando de Hilst, desde o início do projeto.

As condições favoráveis de mercado para o álcool fizeram com que a proposta ganhasse vida nova e verba adicional. Até então, o desenvolvimento da tecnologia DHR ficou a cargo apenas da Dedini S/A Indústrias de Base . A confiança da direção do grupo no sucesso da proposta fez com que ele jamais fosse abandonado, apesar das inúmeras crises enfrentadas pela indústria após o fim do Proálcool.

Há três anos, ganhou a parceria da Copersucar e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Desde as primeiras pesquisas, o projeto já consumiu R$ 12 milhões, sendo R$ 9 milhões da Dedini. A partir da instalação do projeto piloto, os custos passaram a ser compartilhados pela Copersucar e a Fapesp.

Durante a fase de produção em laboratório, os trabalhos foram executados no Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), da Copersucar, em Piracicaba. Durante quase dois anos, foi mantida em operação uma unidade piloto, com uma produção de 100 litros por dia. Depois de comprovada a eficiência da tecnologia, decidiu-se partir para a escala industrial.

Hilst, 72 anos, está certo, segundo afirmou, de que é possível manter a produção contínua até o fim da safra. Mesmo assim, o nível da ansiedade é elevado. "Se não houver nenhum percalço, a tecnologia DHR poderá ser aplicada comercialmente já em meados do ano que vem", disse o engenheiro.

Nesta fase de teste com a nova planta semi-industrial, a produção será de 5 mil litros por dia. Os equipamentos foram instalados na Usina São Luís, do Grupo Dedini, em Pirassununga. Como os testes em pequena escala não apresentaram nenhuma dificuldade, Hilst está seguro de que os objetivos serão alcançados.

O engenheiro químico explica que um terço de um pé de cana é caldo, do qual obtém-se álcool ou açúcar. Outro terço é bagaço e o restante, palha. Cada uma dessas partes tem idêntico potencial energético. Só é preciso desenvolver tecnologia para aproveitar as qualidades da planta, diz Hilst.

Há outra questão a ser resolvida, que é a da substituição do bagaço da cana pela palha para alimentar as caldeiras que irão fornecer energia para manter a usina em funcionamento. Pelos sistemas convencionais, a cana é moída e o resíduo, que é o bagaço, queimado, uma vez que as usinas dispensam energia da rede pública para manter-se em funcionamento. Só dependem de energia elétrica para dar início às atividades no início da safra.

Também essa questão é objeto de desenvolvimento tecnológico. Em vez de deixar a palha no campo, pelo sistema convencional, está sendo avaliada a possibilidade de levá-la para a usina para ser queimada, no lugar do bagaço. Essa troca proporciona também um ganho ambiental, já que a palha deixa de degradar-se no campo e de contaminar a atmosfera pela emissão de carbono.

O DHR já está patenteado em vários países e desperta as atenções dos investidores estrangeiros. A atual produção de álcool é pequena para atender à demanda potencial. Para suprir o mercado, nas dimensões que se anunciam, seria preciso ampliar as lavouras e os investimentos. Com o DHR essas dificuldades poderão ser atenuadas, acredita o engenheiro.

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