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Quando a cevada é a escolha certa

Estimativa de área é superar 100 mil hectares (ha) nesta safra


A semeadura da cevada começou em maio e vai até julho no Brasil. Nos últimos 10 anos, a área de cevada sofreu uma redução de 2,73% ao ano, mas a produção apresentou uma taxa de crescimento de 3,73% ao ano, fruto do aumento constante da produtividade nas lavouras com uso de novas cultivares e melhores praticas de manejo. A estimativa de área é superar 100 mil hectares (ha) nesta safra, com rendimento médio estimado próximo a 3.500 kg/ha. A principal dificuldade para manter a área é a competição com outras espécies, como trigo e aveia no sequeiro, ou feijão e milho no irrigado, que disputam as oscilações do mercado a cada novo ano agrícola, além das importações no Mercosul.

No Brasil, a produção de cevada está concentrada na Região Sul (PR, SC e RS com 97% da área), onde o sistema de cultivo de sequeiro é tradicional na agricultura familiar, envolvendo mais de 1.294 propriedades, com áreas que variam de 20 a 100 ha destinados à cultura no inverno. O principal concorrente da cevada é o trigo, tanto pela tradição no cultivo, quanto pela maior tolerância a solos ácidos e de baixa fertilidade, além da menor suscetibilidade a algumas doenças. Contudo, a cevada apresenta como vantagens: ciclo mais curto, entrando primeiro e saindo entre uma e duas semanas antes que o trigo, permitindo antecipar os plantios de verão; resistência a doenças como a ferrugem da folha do trigo; produtividade superior ao trigo na maioria das safras na mesma região, mantendo uma relação muito próxima nos preços de comercialização; e liquidez de mercado, com a produção contratada antes da semeadura. Nesta safra, a área de cevada na Região Sul deve ocupar cerca de 50 mil ha no PR, 50 mil no RS e 2 mil em SC. As cultivares indicadas são BRS Cauê, BRS Elis e BRS Brau, da Embrapa Trigo, e as cultivares MN610 e MN 743, da AmBev. Em média, 80% da área de cevada será com cultivares da Embrapa.

A partir das pesquisas desenvolvidas pela Embrapa (unidades Trigo e Cerrados), a cultura típica de clima frio ganhou espaço no Centro-oeste e Sudeste do país, com cultivos em sistema irrigado em GO, DF, MG e SP. O estado de Goiás foi pioneiro nos cultivos irrigados, chegando a mais de 2.245 ha em 2001, mas a cultura foi abandonada em razão do alto custo do frete para escoar a produção até SP ou PR. No caminho inverso, com o fomento da indústria e o lançamento de cultivares adaptadas à região, a cevada em São Paulo passou de 240 ha em 2005, para 2,5 mil em 2012. “Neste Estado, a produção de cevada para fins cervejeiros começou em 2004, através da parceria entre pesquisa e indústria de malte para o desenvolvimento de cultivares de rendimento e qualidade industrial competitivos.
Assim, já foram lanças as cultivares BRS Sampa e BRS Manduri”, conta o pesquisador Euclydes Minella. No cultivo irrigado, a cevada concorre com uma série de culturas que ocupam área de pivot, principalmente o feijão na estação seca. Em condições de igualdade em potencial de resultados econômicos, a cevada tem como vantagens, além da liquidez, rendimento competitivo com menor quantidade de água que as outras alternativas, e também menor uso de fertilizantes nitrogenados. No sistema de produção, a cevada quebra o ciclo de doenças das leguminosas e, devido à baixa dormência dos grãos, pode ser malteada logo após a colheita.

Onde está o mercado consumidor

A cevada tem inúmeras utilidades além do malte para a indústria cervejeira e vem sendo aplicada na composição de farinhas ou flocos para panificação e derivados, na produção de medicamentos, na formulação de produtos dietéticos e sucedâneos de café. Contudo, o principal mercado da cevada no mundo é a alimentação animal, com 66% da produção mundial utilizada como forrageira e ração para as criações. No Brasil, devido a alternativas mais vantajosas para os animais, a cevada é cultivada em escala comercial exclusivamente para uso na fabricação de malte (75% da produção). “Na prática, o produtor destina aos animais os grãos que não foram enquadrados pela classificação da indústria para malte, suplementando o rebanho com ração. Para forragem, a cevada produz abundante biomassa e grãos com maior teor de proteínas”, explica o pesquisador da Embrapa Trigo, Euclydes Minella.

A indústria nacional de malte demanda atualmente 530 mil toneladas de cevada classificada, mas o Brasil produz apenas 50% deste volume, com o restante do abastecimento trazido principalmente da Argentina e do Uruguai. Atualmente, existem três maltarias no Brasil: Malteria do Vale (Taubaté, SP), Agromalte-Agrária (Guarapuava, PR) e Navegantes-AmBev (Porto Alegre, RS), além de mais de 200 cervejarias artesanais. Com a instalação de uma nova unidade da AmBev em Passo Fundo, RS, que deverá começar a operar ainda em 2012, a produção de malte no país deve chegar a 560 mil toneladas, atendendo cerca de 40% da demanda nacional.

Nos últimos 10 anos, segundo dados da CONAB, a área de cevada teve uma queda de 43%, passando de 154 mil ha na safra 2001/02, para 88 mil ha na última safra. Segundo a pesquisadora de sócio-economia da Embrapa Trigo, Cláudia De Mori, a redução está vinculada ao preço do produto e à alta exigência nas especificações da matéria-prima para atender a indústria cervejeira. “Apesar do preço da cevada ter melhorado na onda da valorização das commodities, os preços do mercado interno são definidos pelo preço das importações e os custos de produção no Brasil têm sido maiores quando comparados com outros países do Mercosul”, avalia De Mori.

Na área da Cooperativa Agrária no Paraná, a expectativa é de aumento na área de cevada em 10%, com 33.000 ha em 2012. Conforme o pesquisador Noemir Antoniazzi, o motivo do aumento é devido a maior rentabilidade da cevada em relação ao trigo, na avaliação dos últimos sete anos, quando a cevada apresentou rendimento superior. A rentabilidade da cevada também se mostrou superior, quando o custo de produção foi de R$ 391/t e os preços pagos na última safra foram de R$ 523/t pelos grãos de primeira classe.

“A maior dificuldade dos produtores brasileiros é vencer a chuva e a umidade na maturação dos grãos, causando perdas na germinação. Então, colher a cevada de maneira estável, com os 95% de germinação exigidos pela indústria, é o grande desafio da pesquisa e do produtor nas condições de clima na Região Sul. Mas qual a cultura que não traz risco?”, questiona o pesquisador Euclydes Minella, orientando que, na incerteza climática, o melhor é plantar duas espécies, como o trigo e a cevada, que não coincidem em época de plantio e de colheita.
Para mais informações sobre o cultivo de cevada no Brasil, consulte o site da Embrapa Trigo em http://www.cnpt.embrapa.br/culturas/cevada/index.htm

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