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Quebra de safra gera quarto ano de retração no processamento de cacau

Com expectativa de aumento na oferta global, preços internos e externos da amêndoa estão em baixa


A seca no Nordeste foi vilã das lavouras de cacau. A Bahia, maior estado produtor da amêndoa, deve registrar baixa de 22% na produção em 2016, o que já provoca alta na importação da matéria-prima e levará a indústria ao quarto ano seguido de menor moagem. Existia uma previsão inicial de que a quebra seria ainda mais severa e batesse 30%.

Porém, por conta de uma leve recuperação no fim da safra, o presidente da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva de Cacau e vice-presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado da Bahia (Faeb), Guilherme Moura, acredita que a produção ficará entre 120 mil e 130 mil toneladas. Em outros anos, a colheita transitava de 150 mil a 155 mil toneladas.

"No acumulado até novembro, recebemos do mercado interno 132 mil toneladas. No mesmo período do ano passado, esse volume era de 210 mil. Como a moagem está em queda há algum equilíbrio, mas mesmo assim estamos importando", conta o secretário executivo da Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau (AIPC), Walter Tegani.

As compras externas da amêndoa saltaram de 11 mil toneladas entre janeiro e novembro do ano passado a 40 mil em 2016. A demanda só não é maior porque o consumo interno caminha a passos lentos e, de acordo com Tegani, este ano marca a quarta baixa no processamento ao atingir 197 mil toneladas, face 201 mil apontadas em 2015. A recessão na atividade econômica do País colabora para frear o desenvolvimento da cadeia. Não por acaso, o cacau foi a commodity com a maior perda (-14,5%) no Valor Bruto de Produção (VBP) do ano, na contramão do próprio setor agrícola que fechará no azul, conforme os cálculos do Ministério da Agricultura.

Além disso, diferente do movimento das demais commodities cujos indicadores cresceram diante da menor oferta, os preços do cacau tanto internos quanto externos caíram com perspectivas de aumento na produção global, de 3,988 milhões para 4,031 milhões de toneladas, segundo a Organização Internacional do Cacau (ICCO, na sigla em inglês).

O órgão reduziu sua estimativa para o déficit mundial na temporada 2015/2016, de 212 mil para 150 mil toneladas. "Mesmo com a escassez no mercado interno, os preços saíram de R$ 150 a R$ 160 por arroba para até R$ 125. Lá fora, o prêmio por exportação diminuiu e a tonelada recuou de US$ 2900 para US$ 2300", diz o executivo da Faeb.

Para ele, as baixas externas são fruto de especulações e 2017 pode reservar um horizonte melhor em receita e produção. A reação no câmbio, em resposta à eleição do presidente norte-americano Donald Trump, ajudou a evitar retrações mais acentuadas aos brasileiros.

Perspectivas

O analista da consultoria INTL FCStone, Fábio Rezende, explica que a safra 2016/2017, iniciada em outubro, promete manutenção dos valores em baixa, puxados por um possível superávit na oferta global. Na verdade, estas estimativas de produção já foram precificadas e são plausíveis de reversão apenas se houver algum evento climático na África. "A valorização do dólar tem impacto negativo sobre o preço internacional. A maior parte do consumo está na Zona do Euro e se a moeda europeia se desvaloriza em relação ao dólar, há perda no perder de compra", acrescenta o especialista da consultoria.

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