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Queda de renda do pecuarista pode refletir nas exportações


A concentração de frigoríficos é, no início de 2005, a maior preocupação para o criador de gado brasileiro. O pecuarista, com alta dependência na venda do gado para um número reduzido de frigoríficos, está enfrentando preços baixos no momento da comercialização de seu rebanho, incompatível com os bons preços de exportação e de venda no varejo.

“Não está havendo distribuição eqüitativa da renda entre todos os elos da cadeia, e se for preciso vamos utilizar os elementos jurídicos necessários para corrigir essa distorção”, diz o presidente do Fórum Nacional Permanente da Pecuária de Corte da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Antenor Nogueira. Entre janeiro de 2003 e janeiro de 2005, o preço da arroba do boi pago ao pecuarista passou de R$ 58,28 para R$ 59,54, um aumento de 2,2%. No mesmo período, o preço da carcaça casada (dianteiro e traseiro) valorizou 13,2% no atacado. No varejo, a alta de preços enfrentada pelo consumidor foi de 14,7% no acumulado de 2003 e 2004.

Além de não receber melhor remuneração na hora da venda do rebanho, o pecuarista também está enfrentando constante alta dos custos de produção. De acordo com estudo da CNA e Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Universidade de São Paulo (Cepea/USP), os Custos Operacionais Totais (COT) da pecuária de corte subiram 10,1% em 2004, enquanto que o preço pago pela arroba caiu 0,03%.

O estudo da CNA/Cepea apurou que apenas a suplementação mineral, item que representa 15% dos custos de produção da pecuária de corte, subiu 13,35% no ano passado. A mão-de-obra ficou 21,2% mais cara e os insumos de aço, usados na construção de cercas, subiram 23,9%. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) apresentou variação de 7,6% no período. Com queda de rentabilidade, os produtores ampliaram o abate de matrizes, o que pode comprometer a capacidade de produção de carne bovina em médio prazo.

Entre janeiro e setembro, a média de abate de matrizes foi de 35% do total, enquanto que a média ideal seria de, no máximo, 25%. A menor quantidade de matrizes no rebanho poderá levar à queda da oferta de bezerros, principalmente a partir de 2006. “Isso ocorre porque o ciclo da pecuária, no Brasil, é de aproximadamente 30 meses, cerca de dois anos e meio.

Ou seja, o aumento do abate de matrizes deve apresentar reflexos a partir de 2006, com a possível redução da oferta de animais para engorda”, diz Nogueira. A reversão desse quadro depende da recuperação dos preços pagos ao produtor, diz o dirigente da CNA. Ao receber melhores preços, o pecuarista não teria mais que abater fêmeas para gerar renda, e assim não comprometeria a expansão do rebanho.

Sob o ponto de vista das exportações, o ano de 2004 foi positivo para a pecuária de corte brasileira, com remessas de 1,854 milhão de toneladas ao mercado externo, o que gerou receitas de US$ 2,457 bilhões. Em 2003, as exportações do segmento somaram 1,3 milhão de toneladas, com receitas de US$ 1,51 bilhão. Para 2005, no entanto, há expectativa de que o Brasil seja, pelo terceiro ano consecutivo, o principal exportador de carne bovina do mundo, ultrapassando tradicionais competidores como Estados Unidos e Austrália.

O Canadá, por exemplo, passou recentemente a enfrentar dificuldades para exportar carne bovina depois de enfrentar a incidência da doença da “vaca louca” em seu rebanho. Os países europeus têm estoques baixos de carne bovina, com pouco excedente para exportação. Essa combinação de fatores favorece a presença brasileira no mercado internacional de carne bovina, explica Nogueira.

No ano passado, os principais destinos das exportações de carne bovina in natura brasileira foram Rússia (US$ 239 milhões); Países Baixos (US$ 214 milhões) e Chile (US$ 199 milhões). No segmento de carne industrializada, os principais compradores foram Estados Unidos (US$ 197 milhões); Reino Unido (US$ 127 milhões) e Itália (US$ 22 milhões).

Nogueira ressalta que um desafio para o setor, em 2005, é conquistar ainda mais novos mercados e buscar uma solução para o embargo russo à carne bovina brasileira, em vigor desde setembro do ano passado. “Não há sustentação técnica para a aplicação da medida”, diz o dirigente da CNA, lembrando que o caso de febre aftosa que foi utilizado pelo governo russo como argumento para suspender as importações do Brasil ocorreu em área isolada, a qual não produz carnes para exportação. As informações são da assessoria de imprensa da CNA.

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