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Recursos para a lavoura dependem de títulos caipiras

O ministro não informou, no entanto, qual será a parte que o governo terá nos financiamentos do agronegócio


A necessidade de crédito para a expansão agrícola é de R$ 109 bilhões. A necessidade de recursos para financiar o agronegócio na safra 2005/06 será maior. A expectativa do governo é de que sejam necessários R$ 109 bilhões para que a agricultura e a pecuária produzam novamente um terço do Produto Interno Bruto (PIB) nacional. Confirmado esse valor, a necessidade de recursos terá um aumento de 9% em relação à safra anterior, quando foram aplicados R$ 100 bilhões para financiar o setor.

De acordo com o ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Roberto Rodrigues, parte desses recursos será proveniente dos novos títulos do agronegócio, apresentados ontem, em São Paulo, para agentes financeiros, corretores e analistas de risco. "Não é possível determinar o impacto que os novos títulos terão sobre os financiamentos, mas acredito que já neste ano parte dos recursos será proveniente desses papéis", afirma Rodrigues.

Plano de Safra

O ministro não informou, no entanto, qual será a parte que o governo terá nos financiamentos do agronegócio na próxima safra. "O Plano de Safra será divulgado apenas em maio", resumiu o ministro, garantindo, no entanto, que haverá um crescimento sobre os R$ 40 bilhões liberados na safra 2004/05.

Na última quarta-feira, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) solicitou ao governo que fossem direcionados dos cofres públicos para os produtores R$ 80 bilhões. Os recursos do governo representam cerca de 30% da necessidade de crédito do agronegócio, enquanto 40% dos investimentos são feitos com recursos dos próprios agricultores e outros 30% saem do setor privado.

Na avaliação do secretário de Política Agrícola do ministério, Ivan Wedekin, as perspectivas são positivas. Uma indicação disso, segundo ele, são os R$ 80 milhões que o Banco do Brasil lançará no mercado em Letras de Crédito do Agronegócio (LCA), até o próximo dia 21 de abril. "O Banco do Brasil já colocou no mercado quase R$ 60 milhões e outros R$ 20 milhões ainda serão leiloados", explica Wedekin. O secretário explicou que os números podem ser consi-derados ainda muito pequenos, mas que o banco está passando por ajustes em seu sistema eletrônico de leilões para se adaptar aos novos papéis. "O Banco do Brasil tem um estoque de R$ 2 bilhões em Cédulas de Produto Rural (CPR) para lastrear suas LCA""s", afirma o secretário.

Efeito das taxas de juros

Apesar de haver uma demanda grande por crédito, os novos títulos não irão atender grande parte das necessidades. "Os papéis foram criados para atender a necessidade de crédito dos produtores no médio prazo, ou seja, os resultados mais expressivos deverão ser sentidos em alguns anos", explica Wedekin. A expectativa do secretário, no entanto, é que pelo menos 5% do patrimônio dos fundos de investimento sejam destinados aos novos títulos. "Até o dia 31 de março, o patrimônio de todos os fundos era de R$ 361 bilhões. Se conseguirmos captar pelos menos 5% disso teremos algo ao redor de R$ 30 bilhões para o agronegócio, ou seja, praticamente 30% da necessidade de financiamento", afirma.

A expectativa otimista do secretário, no entanto, pode ser limitada pelo Banco Central. Isso porque, as recentes elevações da taxa básica de juros podem afastar eventuais investidores. "A redução da taxa de juros irá definir o tamanho do sucesso dos novos títulos. Hoje, os agricultores se financiam com uma taxa média de 25% ao ano. Com os novos papéis essa taxa já cai para cerca de 21% e quanto mais cair a Selic, menor será a taxa para os produtores", afirma o secretário.

Tanto o governo quanto os dirigentes dos bancos acreditam que os novos títulos do agronegócio irão ampliar a oferta de crédito no mercado. "No Brasil, a oferta de crédito do mercado é de apenas 30% do Produto Interno Bruto (PIB), o que ainda é considerado pouco", afirma o presidente do Brasdesco e da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), Márcio Cipriano. Em países também em desenvolvimento, como Chile e Coréia, a oferta de crédito representa entre 60% e 70% do PIB, enquanto que países desenvolvidos superam os 100%.

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