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Recursos próprios perdem fôlego em Mato Grosso

Dos mais de R$ 18,66 bilhões investidos na formação dessa safra no Estado, somente 19% vieram do bolso do produtor


Cada safra tem sua história e sua marca. Mesmo ainda engatinhando em Mato Grosso, a nova safra de soja (2017/18) já possui indicadores inéditos, como a menor participação de recursos próprios na composição das fontes de financiamento de um ciclo, como também se mostra a primeira a exibir queda no custo de produção entre um período e outro. Dos mais de R$ 18,66 bilhões investidos na formação dessa safra no Estado, somente 19% vieram do bolso do produtor, ou seja, R$ 3,48 bilhões, sendo o restante, mais de 80% do total obtidos junto ao mercado.

Para o segmento o chamado ‘funding’ da soja acende uma luz amarela na agricultura mato-grossense ao mostrar o aumento da dependência financeira do produtor por recursos fora da porteira. Essa realidade provoca apreensão em relação ao saldo financeiro do ciclo, pois há muito a ser acertado no final da safra e o produtor iniciou a temporada descapitalizado. Na temporada passada, a participação do produtor chegou a 33% do total aplicado naquele ciclo – a segunda maior participação desde 2010 – com o produtor arcando sozinho com mais de um terço do total necessário.

O ‘funding’ reúne cada fonte de financiamento buscada/ofertada para a composição da safra de soja. Além da parcela de recursos próprios, são buscados recursos via bancos federais, no sistema financeiro – via empréstimos – e em revendas e multinacionais de agroquímicos, fertilizantes, sementes e grãos, o que nessas duas últimas opções o produtor oferta parte da safra a ser plantada em troca recebe insumos básicos para plantar. Essa operação chamada de ‘barter’, ou ‘trocas’ é bastante utilizada no Estado. Os dados apresentados nessa semana pelo Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) são históricos, tanto para classificar a baixa parcela de recursos próprios aplicada como o fato de o custo de produção ter recuado pela primeira vez no Estado de uma safra para a outra. A série do Imea teve início em 2010.

A principal justificativa para esta mudança na composição do ‘funding’ se deve, principalmente, aos reflexos da quebra da safra de soja e milho em 2016, aliada aos preços de soja e milho abaixo do esperado em 2017, refletindo a maior oferta do período, o que impactou diretamente sobre o bolso do produtor. “Junto a isso está o aumento do custo de produção na safra 2016/17, diminuindo a margem de rentabilidade para a esta nova safra, fazendo com que houvesse maior procura por meios de financiamento do custeio através de outros agentes na safra atual”.

Conforme análise dos técnicos do Imea, o ‘funding’ da safra 2017/18 de soja, em Mato Grosso, apresentou níveis não vistos desde a safra 2008/09, com a necessidade de o mercado custear mais de 80% da safra. “Os recursos livres dos bancos cresceram 3 pontos percentuais (p.p.) devido à facilidade de acesso ao financiamento, algo não percebido quanto aos recursos federais na safra 2017/18. As multinacionais e revendas aumentaram seu share (participação nesse mercado) e representaram juntas 52% do funding, comprovando a menor capitalização do produtor e a busca das operações de barter como ferramenta para completar o custeio da safra”.

O ‘funding’, além de definir a participação de cada da agente no mercado, possibilita estimar o volume de recursos aplicados por cada um no custeio do atual ciclo. Com a diminuição do uso de recursos próprios do produtor, as multinacionais e revendas tiveram como “abocanhar” essa fatia do mercado, avaliam os analistas do Imea. “Pela primeira vez na série histórica do Imea, a troca teve a maior participação no custeio da soja devido à descapitalização do produtor rural, que precisou buscar nas operações de barter mais da metade dos recursos necessários para completar o custeio agrícola. Cenário este semelhante ao da safra 2007/08, em que o produtor encontrava-se descapitalizado, devido às dificuldades passadas com outras safras, tendo que recorrer ao mercado, a fim de levantar recursos para o financiamento”.

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