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Redução de custos e aumento de renda: projeto visa o fortalecimento da agricultura no Circuito das Frutas

Redução de custos e aumento de renda: projeto visa o fortalecimento da agricultura no Circuito das Frutas


Uma parada para um lanche na estrada deixou intrigado o pesquisador Ivan Alvarez, da Embrapa Territorial: por que, em pleno Circuito das Frutas paulista, todo suco de uva integral vem do Sul do País? Procurando respostas junto a colegas dos institutos de pesquisa e lideranças rurais da região, descobriu que a fruticultura vinha perdendo espaço e, junto com esses parceiros, a Embrapa iniciou, em 2015, um projeto para compreender o problema e propor soluções, utilizando geotecnologias e o desenvolvimento territorial.

O Circuito das Frutas está no caminho entre duas das maiores cidades do Brasil – São Paulo e Campinas –, e é composto por dez municípios: Atibaia, Indaiatuba, Itatiba, Itupeva, Jarinu, Jundiaí, Louveira, Morungaba, Valinhos e Vinhedo. Sozinhos, esses dez municípios respondem, atualmente, por quase 20% do abastecimento de frutas do estado de São Paulo. Mas essa participação já foi maior: em 1994, ultrapassava os 40%.

O levantamento de área cultivada feito pela equipe da Embrapa com imagens de satélite e visitas a campo identificou que a área cultivada com frutas e outras lavouras perenes e temporárias foi reduzida em 15,92%, entre 2007 e 2017: perdeu 3.714 ha. Cerca de 1/3 disso (1.207,92 ha) foi convertido em área urbanizada, principalmente condomínios.

A pressão imobiliária foi identificada, desde o princípio, como um dos fatores que levam à redução da atividade agrícola na região. A população nas cidades do Circuito triplicou entre 1970 e 2010 e a valorização da terra se deu principalmente até 2014, quando a recessão econômica reduziu o ritmo do mercado de imóveis. Alvarez, alerta, no entanto, que uma retomada no crescimento econômico do País tende a trazer nova pressão sobre os produtores para venderem suas terras, especialmente porque a valorização é somada a outros fatores. Crescimento do custo de produção, estabilização dos preços das frutas, fuga de mão de obra e desinteresse dos jovens por continuar a atividade dos pais são os principais deles.

Oportunidade de redução de custo

Para oferecer aos produtores alternativas e driblar o alto de custo de produção, os pesquisadores da Embrapa realizaram análises de solo em propriedades de cada um dos dez municípios. Os resultados revelaram a aplicação de fertilizantes além do necessário, especialmente Fósforo e Potássio. As análises foram realizadas utilizando geoestatística, que permite diagnóstico mais precisos das diferentes áreas da propriedade. Mapas são gerados com a indicação de onde há falta ou excesso de nutrientes. “Podemos tratar cada talhão com mais detalhes”, explica a pesquisadora Célia Grego, da Embrapa Informática Agropecuária.

Agora, engenheiros agrônomos da Embrapa estão acompanhando uma das propriedades avaliadas, em Indaiatuba. A pesquisadora Teresinha Albuquerque, da Embrapa Rondônia, recomendou a eliminação total da adubação química, pelo menos até que os níveis de nutrientes sejam equilibrados. O pesquisador Ângelo Mansur, da Embrapa Territorial, lembra: se há excesso de um nutriente, certamente, outro está faltando. Um dia de campo já foi realizado na propriedade de Indaiatuba, para alertar outros produtores sobre o potencial desperdício de recursos e comprometimento do solo com adubação excessiva.

Além da análise dos solos de propriedades, foi feita avaliação da capacidade de uso das terras da região. O pesquisador Carlos Quartaroli, da Embrapa Territorial, explica que as classes de solo predominantes são pouco favoráveis às culturas anuais (soja, milho etc) e beneficiam-se das plantas perenes, como as fruteiras, por reduzirem o revolvimento da terra. “Não é à toa que essa região produz frutas; ela tem aptidão para isso”, conclui Alvarez.

Os dados sobre solos gerados na Embrapa chamaram a atenção do gestor de Agronegócio, Abastecimento e Cultura de Jundiaí, Eduardo Alvarez. Ele acredita que as informações podem ajudar na introdução de variedades de uva para a produção de vinho na região. Durante o workshop de encerramento do projeto, em 26 de novembro, outros produtores relataram a necessidade de selecionar variedades viníferas.

Frutas produzidas

A uva é, de longe, a fruta mais presente no Circuito. O levantamento da Embrapa Territorial identificou 3.191 ha ocupados com videiras, o que equivale a 56% da área de fruticultura. A maior parte é destinada ao mercado de frutas de mesa, com destaque para a variedade Niagara rosada, uma mutação natural da equivalente branca introduzida pelos imigrantes italianos em Jundiaí.

Para agregar valor ao produto, o projeto tem atuado para obter o selo de Indicação Geográfica da uva Niagara rosada, junto com as prefeituras de Jundiaí, Louveira e Itupeva. Os dois municípios também participam porque integram a área antiga de Jundiaí, que será considerada para o processo. O certificado de Indicação Geográfica diferencia produtos ou serviços característicos de uma região. No Brasil, há experiências bem-sucedidas como a goiaba de Carlópolis, PR. Já foram realizados estudos preliminares, levantamento de informações e documentos, além de eventos para discutir o tema com produtores e associações.

Além da uva, o Circuito produz citros, caqui, goiaba, morango, figo, pêssego, banana, abacate, ameixa, lichia, manga, maracujá, acerola, romã e seriguela. Outra proposta de agregação de valor em andamento é a criação de uma marca coletiva do Circuito das Frutas, para distinguir toda essa produção. O tema foi levado para o polo que reúne os prefeitos dos dez municípios e, agora, um projeto está em elaboração.

Produção orgânica

O pesquisador Joel Quiroga, da Embrapa Meio Ambiente, e a bióloga Giovanna Fagundes, da Universidade de Campinas (Unicamp) identificaram 44 propriedades com produção orgânica de frutas no Circuito, certificadas no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento ou na Associação de Agricultura Natural de Campinas e Região (ANC). Banana e morango são as mais frequentes, mas há registro de 25 tipos de frutas orgânicas cultivadas. Giovanna ressalta que o perfil do agricultor orgânico é muito diferente do tradicional. “A base da produção orgânica é a diversificação”, lembra. Como fruto do projeto GPAF ainda será elaborada uma cartilha sobre o tema para os produtores.

Participação dos agricultores

Agricultores, lideranças rurais e representvantes das prefeituras estiveram no workshop de encerramento do projeto, em 26/11. Como participantes do projeto, eles foram convidados a conhecer e validar os resultados, bem como a levantar novas ações para o fortalecimento da fruticultura na região. Participaram 30 pessoas.

Para o presidente da Associação Agrícola e Valinhos e Região, Pedro Sidnei Pellegrini, o primeiro mérito da iniciativa foi reunir representantes de todos os municípios para debater as dificuldades em comum. “Estamos apostando muito nesse projeto, acreditamos que vai produzir bons frutos”, afirma. Ele conta que se interessou pelos dados sobre solos levantados, já que a redução de custos de produção é também uma das frentes de trabalho da entidade que preside. A preocupação é melhorar a renda do produtor, para manter a agricultura na região. “Nós temos que manter o nosso cinturão verde porque, além de figo, goiaba, pêssego, nós também produzimos água, contribuímos para o meio ambiente”.

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