Depois de amargar variações de preços abaixo da inflação, setor acredita em reversão. Ao contrário do ano passado, 2005 poderá proporcionar renda maior para o pecuarista. É o que estimam analistas de mercado e representantes de produtores e exportadores. Mas paira uma dúvida: a incidência de foco de aftosa em Mato Grosso do Sul.
"O ano de 2004 foi bom para os exportadores, mas ruim para o produtor", afirma Fabiano Tito Rosa, analista da Scot Consultoria. Isso porque o preço da arroba caiu, enquanto o dos insumos aumentou. Na média, considerando a inflação, o valor da arroba se desvalorizou 5,3%, se-gundo a consultoria. "Tivemos perdas de até 15%", diz Antenor Nogueira, presidente da Comissão Nacional de Pecuária de Corte da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil.
Dados do Centro de Pesquisa Avançada em Economia Aplicada da Universidade de São Paulo (Cepea/USP) mostram que, em 2004, a queda do preço foi próxima a 10% e os custos aumentaram 9%. Segundo o pesquisador Sérgio De Zem, do Cepea/
USP, houve excesso de produção e o mercado não conseguiu absorver o volume. O pecuarista Mário Candia, que tem fazendas em Poconé e Alta Floresta (MT), diz que em seu estado foram abatidas 2 milhões de matrizes para ceder área para a agricultura acabou afetando o mercado. "Tivemos um achatamento no preço da arroba", diz.
Segundo representantes do setor, para 2005, o abate de matrizes deve diminuir e o consumo interno se recuperar. Por isso, Rosa acredita que os frigoríficos poderão remunerar melhor os pecuaristas. "Haverá recuperação dos preços com base no equilíbrio da oferta e da demanda", afirma De Zem. Nogueira também acredita em um ano promissor, pois alguns insumos, como os grãos, estarão com preços em queda.
Nogueira prevê ainda que o Brasil continuará na dianteira das exportações de carnes bovinas, podendo aumentar as remessas em até 20%. "As exportações continuam crescentes, exceto se for confirmada a suspeita de aftosa em Mato Grosso do Sul", avalia José Vicente Ferraz, analista da FNP Consultoria. Segundo ele, se os exames detectarem a doença, todo o Centro-Oeste poderá ser impedido de comercializar com o exterior.
Nogueira também espera que em 2005 o País consiga abrir mercados como os Estados Unidos - para a carne "in natura", a China, Coréia e Japão. "Mas também teremos os Estados Unidos como concorrentes, que voltam ao mercado depois do mal da vaca louca", acrescenta Paulo Molinari, consultor da Safras & Mercado. O diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne (Abiec), Antônio Camardelli, acredita que 2005 será o ano da busca de valor agregado. "Vamos aumentar os mercados e nos manter na liderança mundial", diz.
André Skirmunt, diretor comercial do frigorifico Independência , espera a intensificação dos esforços de novos acordos sanitários em 2005, além da definição do mercado russo.
Sanidade
Ao mesmo tempo em que as exportações crescem, o temor quanto à sanidade do rebanho nacional também. Em 2004, duas vezes a Rússia embargou as carnes devido à ocorrência de aftosa no Pará e no Amazonas. "Na situação em que estamos, não podemos nos dar ao luxo de não fazermos o dever de casa", afirma Nogueira.
Para garantir esse padrão, a indústria veterinária pretende aumentar de 5% a 10% a produção de vacinas antiaftosa, que em 2004 devem totalizar 340 milhões de doses. O setor espera fechar 2004 com faturamento de US$ 700 milhões, variação de até 15% sobre 2003.