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Renda interna aumenta e ajuda agricultura familiar

O pequeno e o médio produtores estão se profissionalizando e agregando valor ao seus produtos


A agricultura familiar começa a ganhar musculatura. Perdendo espaço e sendo engolida por uma concentração crescente na década passada, o cenário está mudando. O pequeno e o médio produtores estão se profissionalizando e agregando valor ao seus produtos, o que faz "renascer a média e a pequena propriedades, formando um agronegócio familiar". A avaliação é de José Carlos Pedreira de Freitas, engenheiro agrônomo e diretor da Hecta Desenvolvimento Empresarial nos Agronegócios. "Está havendo uma recomposição do tecido social rural", afirma ele.

Valter Bianchini, secretário de Agricultura do Paraná e especialista no setor, diz que a produção dos agricultores familiares -também chamada de agronegócio familiar- é voltada basicamente para o mercado interno, que obteve aumento de renda nos últimos anos. Essa elevação veio tanto do aumento real do salário mínimo como de programas de suporte social dos governos, o que recolocou um número maior de consumidores no mercado, ampliando a venda de produtos dos agricultores familiares.

João Sampaio, secretário paulista de Agricultura, também vê o fortalecimento da agricultura familiar e atribui essa evolução à mudança de perfil do próprios produtores. Os pequenos produtores abandonaram o modelo de produção de algodão, soja e milho com que competiam com grandes proprietários e se voltaram para a agregação de valor, como frutas, hortaliças e leite.

Esse novo caminho da agregação de valor deu fortalecimento ao setor, diz Sampaio. O trabalho de conscientização do produtor e a qualificação de seu produto, devido à participação de institutos de pesquisas e de assistência técnica, permitiram esse avanço.

Para os produtores, dá para viver com os rendimentos da pequena propriedade. Muitos estão se profissionalizando, mas ainda falta maior participação dos governos na orientação das propriedades. Pedro Garcia, pequeno produtor de mandioca em Echaporã (SP), diz que sente "a falta de um envolvimento maior dos governos federal e estadual e de mais assistência técnica".

Crédito esgotado:

Prova da profissionalização de boa parte desses agricultores é que todo o crédito que o Feap (Fundo de Expansão do Agronegócio Paulista) colocou à disposição dos pequenos produtores na Agrifam, realizada de 2 a 5 deste mês em Agudos (SP), esgotou no segundo dia. A demanda por crédito foi de R$ 5 milhões, sendo 95% para a compra de máquinas.

Outra novidade na agricultura familiar é a discussão que surge entre os próprios produtores sobre as responsabilidades na administração dos negócios. José Benedito Dainezi, produtor de flores em 23 mil m2 na região de Holambra (SP), diz que "quem pega [financiamento] tem de devolver. Tem de cumprir os contratos. É uma questão de princípio." Para ele, os que sempre querem anistia (perdão das dívidas), acabam punindo os que cumprem seus compromissos em dia.

Os sinais da nova agricultura familiar vão aparecer no censo agropecuário que está sendo realizado, diz Bianchini. "O censo mostrará estabilidade no número de pequenas e médias propriedades, invertendo a curva de concentração".

O cenário para a agricultura familiar é melhor, mas ainda "precisamos resolver o meio-de-campo", diz Braz Albertini, presidente da Fetapesp. Para ele, há boas pesquisas voltadas para o pequeno produtor, mas está difícil esse conhecimento chegar ao produtor. "Há um vácuo entre os institutos de pesquisa e a lavoura".

Outro meio-de-campo que precisa ser resolvido é o da comercialização. O produtor aumentou a eficiência e produz mais, mas não tem volume suficiente para disputar mercado, segundo Albertini. Para ele, é preciso organizar essa comercialização. "Caso contrário, vamos continuar tendo boa participação no volume, mas presença restrita no lucro. Somos dependentes do Estado".

A comercialização é difícil, mas não impossível, na avaliação de Nelson Tamayose, do Centro de Informações e Apoio ao Supermercadista. Há interesse mútuo nessa operação. Os produtores querem se livrar dos atravessadores, na venda, e os supermercados -principalmente os menores- também querem se livrar dos atravessadores, nas compras.

Mônica Quessada, secretária-executiva da Apas (associação que reúne os supermercados paulistas), afirma que essa idéia de entrosamento entre pequenos produtores e supermercados vai fluir.

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