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Rentabilidade à prova de seca e câmbio

Mesmo com o La Niña e o real valorizado, renda do agronegócio com a soja deve ficar bem acima dos custos, num dos melhores anos já registrados


Mesmo com o La Niña e o real valorizado, renda do agronegócio com a soja deve ficar bem acima dos custos, num dos melhores anos já registrados


Um novo patamar de preços para soja e milho se configura no Brasil às vésperas da colheita. A alta observada nas cotações internacionais das commodities tem sido rebatida pela valorização do real diante do dólar, impedindo que os efeitos da seca na América do Sul se expressem plenamente no mercado interno. Por outro lado, conforme produtores e especialistas ouvidos pela Expedição Safra Gazeta do Povo nas últimas semanas, os preços ainda suportam com folga os custos e podem garantir margem de até 100% sobre os valores investidos na produção.


Quem ficará com prejuízo são os agricultores afetados pela seca. E nessa lista vermelha estão paranaenses como Aílson Santos Maga­­lhães, de Farol (Região Centro-Oeste), que contabilizam perdas de até 80% na receita. “Mesmo acionando o seguro não vou conseguir pagar as contas. Ainda bem que fiz um caixa da safra passada. Caso contrário, não teria como seguir na atividade”, conta.

Apesar de o clima ter deixado feridas em importantes regiões produtoras, a temporada será de margem positiva para o Paraná, afirmam analistas. “A cotação média do dólar neste ano (R$ 1,75) está superior à do ano passado (R$1,65). Além disso, os prêmios oferecidos por exportadores devem amenizar o baixo rendimento que o produtor teve no campo”, avalia Aedson Pereira, da Informa Economics FNP. Conside­­rando rendimento médio de 50 sacas por hectare, custo de produção em R$ 1,1 mil por hectare e pre­­ço de venda a R$ 43 por saca, o analista calcula que a margem de ganho na região Oeste do Paraná – uma das mais prejudicadas pela seca – será de 45%, contra 60% atingidos em 2010/11.

“Os preços não estão altos quanto na fase de plantio, mas ainda estão muito acima do ano passado”, complementa Luis Fer­­nando Gutierrez, da Safras e Mer­­cado, de Porto Alegre. Dados da consultoria gaúcha mostram que na temporada passada, os agricultores brasileiros venderam a safra a um preço médio de R$ 43,70 por saca de soja. Neste ano, porém, boa parte da produção foi comprometida quando os valores superaram os R$ 50 por saca.

Melhor impossível

De modo geral, o quadro da safra 2011/12 merece comemoração. O produtor Edson Zimermann, de Balsas (MA), por exemplo, contabiliza custo operacional equivalente a 1,08 mil quilos de soja por hectare (18 sacas/ha) e tende a colher mais de 3 mil quilos (50 sacas/ha). Ele segurou o custo neste patamar ao comprometer 60% da produção na fase inicial da temporada, ao preço de R$ 45 por saca. Neste ano, a cotação caiu de R$ 43 para R$ 39,5 em sua região (8%).


Para não perder dinheiro, ele pretende carregar os armazéns se os preços se mantiverem nos patamares atuais na colheita. Essa estratégia tem garantido margem extra na região. No mercado físico maranhense, neste momento de entressafra, a soja vale até R$ 42 por saca, 6% a mais do que na venda para entrega em março ou abril.

Quem vendeu antecipado fez a escolha certa e “vai colher bons resultados”, afirma o presidente do Ceagro Grupo LosGrobo, Paulo Fachin. Mas nem todos os brasileiros adotaram essa estratégia. No estado com mais tradição em venda antecipada, Flávio Leopoldo Breitenbach, de Nova Xavantina (MT), não lidou com vendas até agora. Ele comprometeu a produção de 150 hectares de um total de 900 ha de soja na compra de insumos. Em relação a outros 500 hectares, fez contrato de prestação de serviço em que seu trabalho será remunerado com 12 sacas/ha. Na colheita, vai somar a produção dessa área com a dos 350 hectares que representam fonte de renda líquida e partir para o mercado. Apesar da queda nas cotações, mostra-se otimista. “Vai subir. Baixar não vai.”

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