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Reunião aponta “gargalos” para a produção de sementes


A implantação de um programa de produção de sementes em pequenas propriedades rurais na América Latina esbarra na falta de diagnósticos precisos sobre as condições e necessidades de cada comunidade de agricultores. Essa foi uma das principais constatações apontadas pelos cerca de 50 especialistas, reunidos durante a semana passada em Goiânia (GO), para o Workshop Latino-Americano sobre Produção Informal de Sementes na Pequena Propriedade.

Um dos coordenadores do evento, Cláudio Bragantini, diz que quem trabalha em agronomia ainda não tem uma visão clara de como solucionar a demanda dos pequenos agricultores por disponibilidade e qualidade de sementes. “Uma das estratégias para resolução do problema é fazer diagnósticos, empregando metodologias participativas da área social”, afirma. Cláudio é pesquisador da Embrapa Arroz e Feijão e Consultor de Produção de Sementes da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO).

Atualmente, o setor de produção de sementes na América Latina em maior ou menor grau está organizado para atender a agricultura comercial. Já quem produz para sustento próprio encontra-se à margem do processo. Mais de 80% da semente plantada pelos agricultores que trabalham para subsistência vêm do sistema informal. A produção de sementes não visa diretamente aumentar a oferta de alimentos. Ela é uma atividade voltada à obtenção de materiais de qualidade superior para semeadura, o que, por fim, incrementa a produtividade das lavouras.

Embora o workshop tenha encerrado na última sexta-feira (11/04/03), Cláudio esclarece que o documento final do evento passará ainda por revisões nos próximos dois meses, quando serão aprimoradas as propostas para a abordagem interdisciplinar na elaboração dos diagnósticos sobre as carências dos pequenos agricultores na produção de sementes.

Além disso, o documento irá sinalizar com diretrizes para o desenvolvimento produtivo do segmento. A expectativa é que se esclareçam mecanismos para que instituições representativas de assentados, de grupos indígenas e de agricultores familiares implementem práticas sustentáveis de produção de sementes. Segundo Cláudio, alguns grupos prioritários de trabalho seriam os agricultores do planalto boliviano e do Nordeste do Brasil.

De acordo com o diretor-presidente da Embrapa, Clayton Campanhola, o documento produzido durante o workshop, juntamente com outros estudos que estão sendo feitos, servirão para orientar o posicionamento da empresa sobre o assunto. “Na questão da produção comunitária de sementes, é fundamental que definamos qual o papel da Embrapa. Obviamente, nem tudo será de nossa competência, mas, aquilo que nos disser respeito, nós buscaremos introduzir dentro das ações daqui para frente.”

Para o presidente do comitê organizador do workshop, Pedro Arraes, a produção de sementes em pequenas propriedades se encaixa perfeitamente ao momento político. “A produção comunitária de sementes está sintonizada com programas sociais do governo, como o Fome Zero, uma vez que procura-se melhorar a qualidade de vida de uma parte da sociedade excluída do mercado formal. Nesse contexto, a semente seria apenas o elemento tangível. O intangível é aquilo que vai de informação, de mudança de comportamento e de crescimento pessoal e profissional dos agricultores”.

O workshop contou com especialistas de instituições de pesquisa, ensino e extensão rural, como o Instituto Agronômico de Campinas, Universidade Federal de Pelotas, Emater (RS), além de representantes do Ministério da Agricultura, do MST e do Ministério Agropecuário e Forestal da Nicarágua. A reunião é uma promoção da Embrapa, Fundação Dalmo Giacometti e FAO, com o apoio da Secretaria de Agricultura de Goiás (Seagro) e da Agência Goiana de Desenvolvimento Rural e Fundiário (Agência Rural).

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