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Rio Grande do Sul apresenta vanguarda produtiva do agronegócio


É grande a expectativa dos produtores do Rio Grande do Sul em torno da visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na abertura oficial da Expointer 2003, nesta sexta-feira (05), em Esteio, na Região Metropolitana de Porto Alegre. Juntos, governo e iniciativa privada gaúchos investiram mais de R$ 2 milhões na feira, que exibe esta semana a vanguarda produtiva do agronegócio local, base da economia e um dos pilares do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) gaúcho nos últimos anos. Classificada como a maior do setor na América Latina, a mostra vai receber a visita de um presidente da República depois de 18 anos de espera. O último presidente a participar foi José Sarney, em 1985. “A expectativa de todo o Rio Grande é que o presidente anuncie uma determinação de procedimentos para oficializar cultivo, colheita e comercialização da soja transgênica”, afirma o presidente da Federação da Agricultura do Estado (Farsul), Carlos Sperotto.

A Farsul acredita que, desde o mais modesto agricultor até o empresário mais qualificado, os produtores gaúchos são irredutíveis na posição defendida pela entidade. “Nós identificamos uma vontade férrea em não abandonar o cultivo, por isso o governo precisa administrar o assunto na área política e com sensibilidade, encarando o aspecto econômico”, diz Sperotto. “Desde os assentamentos do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), até o maior plantador de soja do Estado, que cultiva 14 mil hectares, todos têm um só pensamento só: favorável aos transgênicos”, afirma o produtor rural Fernando Adauto Loureiro de Souza. Proprietário, junto com a família, de 1.250 hectares em Lavras do Sul, na região da Campanha Gaúcha, cria bovinos e cavalos crioulos. Para ele, nas adversidades do campo, não há mais uma grande separação entre pequeno, médio e grande produtor”. Os problemas são iguais para todos. O que existe ainda são certas filosofias partidárias usadas como bandeira política, mas que, aos poucos, estão desaparecendo”, garante.

Mas, apesar da certeza com que o agronegócio afirma suas idéias, entre os pequenos produtores e agricultores familiares, o assunto está longe dessa unanimidade. Segundo lideranças do setor, para muitos, a transgenia é vista como perigosa. “Os agricultores ecologistas discutem como vão deixar a terra para seus filhos, não só o imediato. Eles têm certeza de que transgênicos não vêm para ajudar o pequeno produtor”, garante Maria Helena da Rocha, de 37 anos - 27 deles dedicados à agricultura familiar. Ela se orgulha em dizer que o Rio Grande do Sul foi pioneiro na agricultura ecológica. Proprietária de 34 hectares de terra em Pareci, a 100 quilômetros de Porto Alegre, onde mantém um pomar onde os agrotóxicos não têm lugar, Maria Helena lembra que a experiência de adoção do milho híbrido, nas três últimas décadas, fez com que muitos colonos perdessem as sementes crioulas, que eram cuidadosamente preservadas pelas famílias, muitas vezes passadas de geração a geração. A polinização entre plantações próximas destruiu parte do acervo cultural dos colonos. “Preferimos conservar nossa semente, ser auto-suficientes nessa área, sem ter que comprar de outros”, explica a agricultora.

Os pequenos agricultores também destacam o lançamento antecipado do Plano Safra para a Agricultura Familiar 2003-2004 como fundamental na valorização do setor. “Até o ano passado, tudo o que nos chegou foi o Pronaf, lá no banco. Este ano, fomos convidados a discutir com o Ministério do Desenvolvimento Agrário as macropolíticas para o país, como o Plano Safra. Sempre houve um descompasso grande: muitos programas e verbas para o grande produtor, e pouco financiamento para o pequeno”, afirma Maria Helena.

O presidente Lula vai encontrar no Parque de Exposições Assis Brasil o reflexo do grande momento que vive o agronegócio gaúcho. “Ele vai ter condições de ver realmente o que é o Rio Grande do Sul, porque a Expointer é a grande vitrine do estado”, explica Francisco Schardong, orizicultor e criador de gado do sul do estado. “Queremos que o presidente Lula, o nosso ”patrão maior”, dê sua palavra de tranqüilidade em relação ao fundiário e a transgenia, para que possamos trabalhar, crescer, e inclusive ajudar o Fome Zero. Mas, para isso, precisamos ter paz no campo”.

Para garantir a continuidade da vitrine em que se constitui a Expointer, o governo estadual investiu R$ 951 mil para dar novas formas ao complexo, e os fabricantes de máquinas agrícolas injetaram mais R$ 1 milhão nas obras de infra-estrutura dos sete hectares do parque, que abriga 110 expositores. São mais de 6.800 animais. O touro mais pesado vale R$ 1 milhão e pesa meia tonelada. As emas participam pela primeira vez da mostra. Uma das vacas expostas produz 78 litros de leite por dia. Todos são geneticamente selecionados, classificados e premiados. O presidente Lula poderá acompanhar o desfile dos grandes campeões, marcado para o horário de sua visita à feira.

No espaço destinado à agricultura familiar, foram investidos R$ 200 mil na área de 4,3 hectares, que abriga 140 estandes de produtos e equipamentos. É a primeira vez que o setor é representativo na Expointer. Participa com 220 agroindústrias de mais de 100 municípios do Estado.

A comissão organizadora da Expointer, formada por mais de 60 parcerias, trabalha com perspectiva de faturamento superior ao do ano passado. Segundo a Secretaria da Agricultura gaúcha, a venda de animais deve ultrapassar em 30% os R$ 3,1 milhões de 2002. O otimismo é maior no espaço das máquinas agrícolas. Os industriais projetam uma arrecadação de R$ 200 milhões - aumento de 60% em relação ao resultado do ano passado, de R$ 125 milhões.

Depois de três edições marcadas por resquícios dos focos da febre aftosa (que mantinham a exigência de quarentena para animais negociados para outros Estados), a 26ª Expointer encontra agora as porteiras escancaradas para exportar a sua genética. Além disso, os produtores gaúchos colheram a maior safra da história e a oferta de financiamento é abundante. O Banco do Brasil anunciou a liberação de R$ 80 milhões, e o Banrisul tem R$ 54 milhões para aquisição de animais e máquinas agrícolas. Já nos primeiros quatro dias da feira, o Banco do Brasil acolheu 481 propostas de financiamento, no valor de R$ 21,5 milhões. O volume é 156% superior ao do mesmo período do ano passado. Os itens com maior procura são tratores, colheitadeiras e equipamentos para armazenagem.

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