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Rombo de R$ 2,79 bilhões

Produtores de MT refazem as contas, desmentem números da Conab e aconselham plantio em detrimento dos pagamentos


O segmento agrícola mato-grossense calcula que a nova safra, o ciclo 08/09 já iniciado no Estado com o cultivo da soja, começa com um ‘rombo’ de R$ 2,79 bilhões. As cifras apuradas pelo Instituto Mato-grossense de Economia Agrícola (Imea) colocam em xeque a atividade, já que o volume representa o déficit das culturas de soja, milho e algodão e os recursos necessários ao pagamento das parcelas repactuadas que vencem em 2008.

Os números apresentados ontem, contêm um novo agravante, o setor está agora acuado pela crise do sistema financeiro mundial - que começou pelos Estados Unidos e se alastrou por todo o mundo há cerca de um mês - os agricultores não sabem onde buscar recursos para concluir a compra de fertilizantes, principal insumo das lavouras e o termômetro da produtividade, no momento em que os preços da soja despencam na Bolsa de Chicago (CBOT).

Enquanto os preços da soja despencam na Bolsa de Chicago, a safra continua indefinida, pois ainda faltam 600 mil toneladas de adubos para o plantio de 1 milhão de hectares. “O problema é que não existem fontes de recursos. Todo mundo saiu do mercado e provavelmente teremos que reduzir a aplicação de fertilizantes. Além disso, ainda temos as parcelas do endividamento para pagar. Estamos realmente numa sinuca de bico e a nossa recomendação neste momento é para que os produtores dêem prioridade ao plantio e esqueçam as dívidas. Ou ele planta ou ele morre [sai da atividade]. O governo federal precisa encontrar uma saída urgente para evitar o caos”, sentencia o vice-presidente da Associação dos Produtores de Algodão (Ampa), Carlos Ernesto Augustin.

É como se duas luzes vermelhas tivessem surgido no horizonte. Uma que já refletia a majoração dos custos de produção e outra, a crise mundial que afugenta os investimentos e derruba as cotações.

“A situação não poderia ser pior. Estamos num buraco negro e tudo indica que teremos severa redução na safra”, alerta o presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado (Aprosoja), Glauber Silveira, apostando em menos utilização de tecnologia na próxima safra e queda da produção de 4% para a soja e 32% para o milho. O algodão também será terá forte recuo.

Falando durante uma coletiva em Brasília, com a presença do diretor geral da Associação Nacional de Exportadores de Cereais (Anec), Sérgio Mendes, Silveira desmentiu dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), divulgados ontem e que trazem o primeiro levantamento de safra do País para o novo ciclo e que estimam aumento da safra brasileira de grãos.

“Os números são equivocados, pois o levantamento foi feito há mais 40 dias, quando a intenção de plantio do produtor era outra. Com a crise mundial, tudo mudou e agora teremos um recuo. O governo federal precisa enxergar isso antes que seja tarde demais”.

A crise no sistema financeiro e a queda das cotações atingem as principais culturas da pauta de exportação, como soja, algodão e milho. “Estamos com um déficit de R$ 2,79 bilhões só para esta safra e os números não fecham”, afirma o superintendente do Instituto Mato-grossense de Economia Agrícola (Imea), Seneri Paludo, órgão vinculado à Federação da Agricultura e Pecuária do Estado (Famato). Segundo ele, a necessidade dos produtores mato-grossenses nesta safra saltou para 43% por conta do aumento dos custos de produção, principalmente, os fertilizantes.

“Agora, ao invés dos R$ 8,54 bilhões gastos no ano passado, o produtor vai precisar de R$ 12,23 bilhões. Deste total, R$ 7,40 bilhões teriam que vir do setor privado, R$ 3,95 bilhões do produtor e apenas R$ 890 milhões do Banco do Brasil. Mas a rentabilidade da safra 2007/08 foi de apenas R$ 2,16 bilhões e os produtores ainda terão de desembolsar R$ 1 bilhão para o pagamento das parcelas do endividamento – custeio e investimentos – que estão vencendo este ano”, relata Paludo.

DÍVIDA - De acordo com o presidente da Comissão Integrada de Endividamento do Estado de Mato Grosso, Ricardo Tomczyk, o dinheiro anunciado recentemente pelo Banco do Brasil – R$ 5 bilhões – não resolve a situação porque os recursos nunca chegam ao produtor.

Seneri Paludo, do Imea, mostrou que, tomando-se como referência o município de Sorriso (460 quilômetros ao norte de Cuiabá), a rentabilidade da soja por hectare, que era de US$ 107,03 em julho deste ano, despencou para US$ 51,38 no mês de agosto e, em setembro, teve uma pequena reação (US$ 57,79). O levantamento não apresenta a rentabilidade no mês de outubro, pós-baixa geral das cotações.

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