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RS: Estado quer ingressar na rota mundial dos geoparques

Dois territórios, localizados na região central do RS, encaminharam pedido à Unesco para ter certificação


Foto: CAPPA UFSM/DIVULGAÇÃO/CIDADES

O Rio Grande do Sul está prestes a ingressar, de maneira definitiva, na rota mundial de turismo pelos geoparques. Com o reconhecimento por parte da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), no início de dezembro, acerca do Geoparque Cânions do Sul, que engloba municípios gaúchos e catarinenses, outros dois territórios também pleiteiam a chancela da entidade.

Em novembro, o Ministério das Relações Exteriores, a partir dos estudos realizados pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e a da Universidade Federal do Pampa (Unipampa) encaminhou o pedido oficial para a certificação dos territórios de Caçapava do Sul e da Quarta Colônia como geoparques mundiais. Os dossiês constituem o penúltimo passo para que as regiões sejam reconhecidas. Entre os meses de abril a julho uma equipe da Unesco deve desembarcar na região central do Estado, onde estão os dois territórios, para avaliar uma série de questões - cerca de 250 itens - a fim de dar o aval ou não para municípios e instituições envolvidas.

Mas, afinal, você sabe o que é um geoparque? Conforme definição da própria Unesco, tratam-se de áreas geográficas unificadas, onde sítios e paisagens de relevância geológica internacional são administrados com base em um conceito de proteção, educação e desenvolvimento sustentável. Os locais combinam conservação com desenvolvimento sustentável e que, ao mesmo tempo, envolve as comunidades locais.

Atualmente, existem 177 geoparques mundiais reconhecidos pela entidade em 46 países. Até este mês, apenas o Parque Nacional do Araripe, no Ceará, tinha a chancela. Além do Cânions do Sul, o Geoparque Seridó, do Rio Grande do Norte, também recebeu o título em dezembro.

A expectativa dos municípios e das entidades para que as regiões de Quarta Colônia - contemplada pelas cidades de Agudo, Dona Francisca, Faxinal do Soturno, Ivorá, Nova Palma, Pinhal Grande, Restinga Sêca, São João do Polêsine e Silveira Martins - e Caçapava do Sul sejam certificadas tem movimentado os pequenos municípios gaúchos. Conforme explica Jaciele Sell, coordenadora de Desenvolvimento Regional e Cidadania da UFSM e dos projetos de geoparques na instituição, uma das principais vantagens é o ingresso na rede mundial, cujo turismo é feito a partir dessa certificação. "Nós sabemos que existem turistas que planejam as viagens a partir da aprovação da Unesco. A geolocalização atrai três vezes mais pessoas aos territórios, possibilita um turismo sustentável e gera renda para toda a cadeia hoteleira, comercial e gastronômica", afirma.

Pré-requisito para concorrer ao título, a exclusividade geológica de cada área foi retratada no projeto enviado para a Unesco. Enquanto em Quarta Colônia o principal ponto de curiosidade são os centenas de fósseis de dinossauros e mamíferos em geral encontrados - colocando essas cidades em revistas científicas mundiais, além de expor São José do Pôlesine, cidade com cerca de 3 mil habitantes em noticiários como o The New York Times, por conta de um fóssil de dinossauro de mais de 200 milhões de anos - o geoparque de Caçapava do Sul se destaca por formações rochosas únicas na Serra do Segredo. Para Jacielle, o esforço acadêmico para se descobrir essas belezas naturais únicas no planeta deve, agora, trazer mais benefícios. "Ter a Unesco ao nosso lado será a prova do que fizemos por anos como universidade. Temos mais de 90 trabalhos feitos a partir do Centro de Apoio à Pesquisa Paleontológica (Cappa). Desde 2019 nos dedicamos a isso e vamos buscar essa certificação", disse a coordenadora.
 
Comunidades passaram a ajudar pesquisadores com os fósseis

O Geoparque Quarta Colônia abriga boa parte da pesquisa paleontologia no Estado. Uma ciência que requer paciência, estudo e um tanto de precisão. A dificuldade aumenta ainda quando esses restos mortais de animais cujo passado ainda pode ser desconhecido estão em propriedades privadas, onde moram agricultores, pecuaristas e pessoas que usam essa mesma terra para tirar seu sustento e sobrevivência.

O diretor do Cappa da UFSM, Flávio Pretto, está no projeto de pesquisa sobre animais extintos desde a criação do centro, em 2015. Desde então, foram encontrados mais de 300 resquícios destes animais, que estão catalogados na universidade e servem para estudos dos alunos de cursos de extensão - e rendeu até mesmo uma menção no Guinnes Book, o livro dos recordes. Ele conta que a comunidade das pequenas cidades onde estão os geoparques via com desconfiança a iniciativa e a presença dos cientistas. "Muita gente encontrava fósseis ao cavar locais preparados para o plantio e tinha medo de notificar sobre a descoberta para nós. Um dos receios era de perder as terras, por acreditarem que elas passariam a ser fruto de pesquisa", descreve.

A partir dessa percepção dos moradores, membros do Cappa e das prefeituras tiveram o objetivo de acalmar as pessoas, informando que nenhuma delas seria despejada por esse movitov. Com isso, um fenômeno curioso começou a acontecer. "Recentemente, fui na casa de uma senhora que reportou o aparecimento de um fóssil. Ela até comentou que achava ser da 'coxa' de um dinossauro e, quando levamos para a identificação, de fato era o fêmur", revela. "Ou seja, além de serem nossos parceiros, moradores estão adquirindo conhecimento acerca dos fósseis". Flávio diz há uma espécie de caça a esses objetos petrificados, o que leva ao encontro de um maior número de partes encontradas para estudos.

Ele vê a chancela dos geoparques como fundamental para criar uma 'segurança' nas regiões. Flávio Pretto também vê a necessidade de um conexão mais forte com outros setores, tanto para viabilizar o turismo sustentável dessas localidades quanto para fornecer mais material aos acadêmicos. "Toda vez que se abre uma estrada ou um prédio é construído, por exemplo, a terra é escavada e mexe-se em possíveis áreas com um rico histórico. Seria importante ter essa empresas como parcerias da pesquisa também", avalia.

A certificação da Unesco, segundo Pretto, também pode ser a fonte de renda para moradores das cidades. "Pode-se fazer um restaurante com temática de dinossauros, vender esculturas que remetam a eles ou às paisagens... Há uma infinidade de perspectivas", concluiu.
 
Primeira região gaúcha a ser reconhecida pela Unesco, Cânions do Sul serve com parâmetro para mais aprovações

A Unesco reconheceu o Geoparque Cânions do Sul como um roteiro mundial no dia 13 de dezembro. A escolha ocorreu durante o Conselho Global de Geoparques da entidade. Mais de 50 observadores transitaram pelos três municípios do Rio Grande do Sul (Cambará do Sul, Mampituba e Torres) e quatro de Santa Catarina (Praia Grande, Jacinto Machado, Morro Grande e Timbé do Sul) para averiguar o questionário preenchido pela candidatura. A área engloba o maior número de cânions do Brasil, com extensão de 250 quilômetros.

O prefeito de Torres, Carlos Souza, prevê ganhos para o município do Litoral Norte e as demais comunidades. "É um projeto que há mais de 10 anos estava apenas no imaginário e no sonho das pessoas. Serão novos desafios a partir disso, mas a certeza de que o Sul do Brasil terá um turismo com grande potencial de desenvolvimento", disse.
O projeto desenvolvido por essas cidades foi usado como base para a candidatura de Quarta Colônia e Caçapava do Sul. Jacielle Sell contou que a equipe do estudo nesses geoparques esteve em contato próximo com o dos Cânions do Sul. "Buscamos ver os acertos e erros deles para postularmos nossa candidatura. Ter três regiões no RS com essa chancela é um ganho para todos, e foram bastante receptivos", explica.

Segundo explica a coordenadora, a expectativa é ter uma resposta sobre a aprovação dos geoparques entre setembro e outubro de 2022. A última etapa é a visita dos técnicos da Unesco, cuja data ainda não foi acertada.
 

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